quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Raízes e memórias afetivas

"Roseira, medalha, engenho e outras histórias", primeiro trabalho de Jefferson Costa como escritor e desenhista, é de uma delicadeza ao retratar, por meio de relatos de membros de sua própria família e pessoas próximas, experiências que traçam um relato comovente e, ao mesmo tempo, cativante.

Desenhista premiado, Jefferson se mostra um hábil roteirista em uma narrativa que trabalha junto à arte de forma encantadora. A obra é irretocável e nos oferece uma história, absolutamente, humana e universal, que nos toca ao longo das páginas e nos faz refletir sobre a nossa própria vida, nossa origem!

Gostei bastante também do roteiro não linear, alternando momentos e épocas diferentes, retrando as dificuldades e desafios impostos pela seca, com uma linguagem realista, tornando a HQ ainda mais impressionante como registro de uma região e suas pessoas.

Ainda que mostre uma região específica, a narrativa me emocionou quando Zeca e Cotia resolvem levar as crianças pra "cumadi" Nega benzer... essas cenas me fizeram voltar à uma doce lembrança... quando minha avó materna me benzia de quebranto quase que diariamente... e eu, atrevida, ficava tentando entender o que ela dizia enquanto rezava. Às vezes, minha risada até desconcentrava minha avó que logo dizia pra minha mãe não ficar brava, porque estava tudo bem, era coisa de criança! Agradeço o autor por me fazer lembrar de minha avó com seu galhinho de arruda na mão, vindo me proteger com sua bênção ancestral. Pois é, quando uma HQ nos brinda com histórias de família, em algum momento, acabamos por nos identificar!

A arte é um caso à parte, porque Jefferson domina totalmente a forma como cada passagem de tempo ou assunto é retratado, as cores são escolhidas estrategicamente para contar essa história da maneira mais apropriada, dependendo da ação, sombrias quando necessário, mas muito iluminadas (como a página ao lado) para mostrar a alegria em um tempo em que "criança não trabaiava" e podia brincar no rio ou "trepano em árvre"! Aplausos para o talento de Jefferson Costa! Viva as histórias em quadrinhos que nos lembram nossas próprias histórias! :)