– É lamentável como as pessoas, hoje, não tem compaixão por ninguém... em situação nenhuma!
– Tá lembrando do episódio na cafeteria, né?– Você não concorda?
– Claro que concordo, inclusive, tive vontade de levantar na hora e socar aquelas duas metidas...
– E um dos caras também, porque o único que parecia menos metido foi o que levou o banho de café gelado ou seja lá o que tinha naquele copo enorme.
– Ahahaha... desculpe, mas tive que rir. Você falou em copo enorme, lembrei daqueles dias insanos em que parava no Centro e tomava mate com leite. O atendente servia num recipiente tamanho família e colocava o copo do liquidificador do lado, dizendo: esse é o chorinho! Ahahaha... No caso, era chorinho porque a gente saía até triste depois de mergulhar num mar de leite em pó batido com chá mate gelado... bons tempos!
– Hoje você não conseguiria...
– Joga na cara que não tenho mais idade pra isso!
– Ahahaha... não é isso, amor! É que hoje somos mais comedidos...
– Chega de falar em acidentes de trabalho, incompreensão humana e aventuras da juventude...
– É melhor! Vamos falar de gastronomia!
– Gastronomia? Pensei que íamos mudar de assunto.
– Já mudamos!
– Cafeteria e mate com leite... curioso, mas pensei que ambos fizessem parte do rol da gastronomia.
– Não! Nada de lanches, quero falar de almoço... de jantar!
–Ah! Mas de gente normal ou aqueles cheios de talheres e copos de vários tamanhos?
– Ahahahah... dos mais finos!
– Acredito que eu não tenha repertório suficiente pra esse tipo de conversa, moça elegante!
– Ahahaha... Para com isso, fomos convidados pro jantar do...
– Não me lembre disso. Por mim, declinávamos na hora que chegou o convite.
– Temos que aproveitar as oportunidades e ter novas experiências! Não seja troglodita, amor!
– Ahahaha... troglodita e amor na mesma frase... adorei!
– Combinam com você, querido!
– Ah! Não seja cruel, não sou um troglodita, só não gosto de frescuras ao extremo!
– Então, cite uma frescura leve que você aguentaria.
– Você: levemente fresca!
– Ofendeu! Não gostei, vamos encerrar a conversa, se não você vai ver quem é...
– ... troglodita? Ahahaha... Adoro seu lado "vamos partir pra ignorância"! Mudando de assunto, mas ainda dentro do tema jantar, finalmente, conclui a leitura de "O Banquete", de Platão!
– Ah! Que filosófico!
– Não seja irônica...
– Imagina, tô mó orgulhosa de você ter tido coragem de ler Platão, afinal, faz alguns meses que te dei de presente..
– Tive de me preparar... é uma leitura densa...
– Tudo bem... mas agora quero suas considerações!
– Assim de repente?
– Ué... você que veio todo animado dizendo que tinha lido! Vamos comentar!
– Tá bom! Logo de cara achei instigante o fato de Platão não ter participado do banquete, que contou com a presença de atenienses ilustres, entre eles, Sócrates. No encontro, os intelectuais apresentaram suas impressões sobre o Amor e o poder que ele exerce sobre nós.
– Uau! E qual sua conclusão sobre o Amor?
– Não sou filósofo, tampouco um intelectual capaz de formular uma resposta definitiva! Depois desta primeira leitura, refletindo um pouco, acredito que o Amor é um dos maiores bens do ser humano, concordo que ele nos estimula a nos conhecer melhor e buscar quem nos completa, para então fundir-nos com a pessoa amada e, juntos, nos transformarem em um só.
– Que lindo, amor! Você acredita que também refleti sobre isso quando li "O Banquete"?
– Claro que acredito! Uma das coisas que sempre nos uniu é a forma de pensar, de entender o mundo, de sentir as coisas...
– Tá inspirado! E o que achou do outro texto: "Apologia de Sócrates"?
– O discurso de defesa de Sócrates durante seu julgamento é magnífico, até marquei alguns trechos, como este: "Por toda parte eu vou persuadindo a todos, jovens e velhos, a não se preocuparem exclusivamente, e nem tão ardentemente, com o corpo e com as riquezas, como devem preocupar-se com a alma para que ela seja quanto possível melhor, e vou dizendo que a virtude não nasce da riqueza, mas virtude vem, aos homens, as riquezas e todos os outros bens, tanto públicos como privados".
– Lindo! Também gosto do trechio em que ele diz: "... o maior bem para um homem é justamente este, falar todos os dias sobre a virtude e os outros argumentos sobre os quais me ouvistes raciocinar, examinando a mim mesmo e aos outros, e, que uma vida sem esse exame não é digna de ser vivida...". É de uma sensibilidade, de uma humanidade que atualmente anda em falta...
– Enfim, obrigado pelo livro, amor! Você me tornou um homem mais reflexivo e feliz... porque ao seu lado, como diria nossa premiada, a vida presta!
– Posso te abraçar, meu filósofo preferido?
– Deve! :)
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