domingo, 26 de janeiro de 2025

Acredite, você consegue!

O que poderia ser uma sexta-feira comum, em que, depois do trabalho, eu só precisava chegar em casa, tomar um banho, colocar aquela camiseta, sinônimo de aconchego, jantar, assistir algo leve e depois ler um pouco pra relaxar... se tornou uma saga, com direito a desespero contido, desabafos ao telefone e um final inusitado.

Mas vamos por partes... depois do dia virar noite por volta das 16h, saí do trabalho às 17h, já sabendo do desabamento de shopping na ZN, alagamentos pela cidade e trânsito começando a engarrafar por todos os lados, ou seja, o negócio tava bem estranho.

Na entrada do metrô, eis que me deparo com uma fila quilométrica para chegar à catraca. Pra completar, um aviso sonoro dizia que a estação Jardim São Paulo-Ayrton Senna da Linha 1 - Azul estava alagada e a circulação interrompida, o que significava que o desembarque final seria em Santana e os passageiros teriam à disposição os folclóricos ônibus do Sistema Paese. Ainda tentei um carro de aplicativo durante meia hora, mais por desespero do que por acreditar que ia conseguir. 

Sem chance, a única opção foi passar a catraca e me ver na plataforma com milhares de pessoas cansadas e quase se estapeando pra entrar no trem. Tentando manter a calma, encostei numa parede e perdi a conta do número de trens que vi chegar lotados, foram pelo menos uns 15. 

Depois de duas horas, consegui entrar num trem. No desembarque em Santana, ao descer as escadas rolantes vi milhares de pessoas com celulares em punho buscando ajuda. Passei pela catraca como se pisasse em ovos... nem tirei o celular da bolsa, nada a fazer, o negócio era sair da estação. No terminal de ônibus, outras milhares de pessoas formavam filas enormes, duplicadas, triplicadas para cada linha, no ponto de táxi outra fila enorme...

E, mais uma vez, sem opção, resolvi ir a pé pra casa. Tomei fôlego, e comecei a caminhada devagar e, por segurança, tentando acompanhar pessoas que iam na mesma direção, mas muitas paravam nos pontos de ônibus e, mesmo cansada, continuei minha caminhada, decidida.

Até que vi um grupo que me pareceu animado, apertei o passo e me aproximei... uma das integrantes (Poli) me perguntou se eu vinha de Santana... eu disse que sim e perguntei pra onde eles iam, quando disseram Tucuruvi, abri um sorriso e perguntei se podia ir junto. E ela falou para o grupo: pessoal, mais uma! Todos sorriram... disseram que o Marcelo estava se sentindo o próprio Forrest Gump e seus seguidores... ahahaha... e me deram as boas-vindas!

A partir daí, pegamos o imenso limão que a vida estava nos oferecemos e fizemos uma doce e divertida limonada! Ao longo dos cerca de quatro quilômetros que nos separavam de nosso destino, fomos conversando, na frente iam Marcelo, Raissa, a caçulinha, e Silvia; na retaguarda, Daniel, Poli e eu.

Daniel, Poli e eu começamos a conversar de forma contida, mas com as primeiras risadas, passamos a aloprar uns aos outros (não chegamos ao nível 5ª série, mas foi quase lá... ahahaha). Nada como rir nesse tipo de situação.

Alguns quilômetros depois, a conversa passou a ser entre os seis ao mesmo tempo, perguntamos sobre a profissão de cada um... e fomos caminhando, sempre abordando assuntos leves que acabavam em risadas. Afinal, estávamos lascados mesmo em plena sexta-feira, depois de um dia de trabalho, escolhemos relaxar e cuidar uns dos outros pra chegarmos bem e em segurança. 

Idades diferentes, profissões diversas, mas algo em comum... como a Silvia falou, parecíamos personagens daqueles filmes apocalípticos em que a humanidade é quase totalmente dizimada e apenas um grupo de maltrapilhos tenta se salvar, andando pelas ruas destruídas... ahahaha... um grupo cinematográfico!

O que vale a pena registrar e até comentamos num dado momento é que fazer a caminhada em grupo tornou as adversidades mais fáceis de serem enfrentadas. Até brincamos várias vezes, quando alguém parecia estenuado, dizendo: acredite, você consegue! Ahahaha... Nunca tínhamos nos visto antes, mas nos identificamos por estarmos na mesma situação e termos optado pela gentileza e pelo bom-humor para amenizar um dia tão tenso.

Por isso, seja gentil com quem encontrar por aí... não sabemos as lutas que cada um enfrenta, mas a gentileza, certamente, abre portas e torna o mundo melhor! :)


* Coloquei duas fotos, porque na oficial do grupo... rsrsrs... o "fotógrafo" não se atentou que a Raíssa, caçulinha que deu a ideia de registrar o momento, ficou escondida... então, coloquei a segunda foto só com as mina... valeu!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

A essencial arte de Sempé

O traço delicado e preciso de Sempé me conquistou desde sempre. Em "Raul Taburin", ele conta a história de um brilhante mecânico de bicicletas que não consegue se equilibrar em duas rodas de jeito nenhum, isso porque ele tenta desde criança... rsrsrs... Além de ser uma leitura agradável e fluida, me identifiquei com Taburin por termos duas coisas em comum: adoro bicicletas, mas também não domino a arte de pedalar... rsrsrs...

Mas voltando ao livro desse notável ilustrador francês, adoro a forma divertida e suave como ele conta a história do mecânico, que fica tão famoso que seu sobrenome vira sinônimo de bicicleta. Taburin vive satisfeito com sua família, seu trabalho, mas guarda o segredo que ninguém na cidade imagina... sua habilidade em consertar bicicletas é inversamente proporcional à sua capacidade de pedalar.

Taburin segue consertando as magrelas dos moradores, que gostam bastante de seu jeito solícito, até que um dia chega à oficina o simpático Hervé Figure, um fotógrafo com um cabo de freio quebrado, problema que é prontamente resolvido. Aos poucos, eles ficam amigos, mas eis que uma noite Figure faz uma proposta à Taburin... ah... não vou contar mais nada, porque a ideia aqui é instigá-los a ter suas próprias experiências com a leitura, mas garanto que a história é envolvente e provoca boas reflexões.

Referência do cartum mundial, com a narrativa certeira e a sutileza de seu traço, Sempé emociona e revela personagens e cenários encantadores! Sua arte é inspiração pura! :)

sábado, 18 de janeiro de 2025

A força da Natureza

– Outro dia, andando pela calçada, comecei a observar as plantinhas que nascem em meio ao asfalto... são tão vistosas! É a Natureza mostrando sua força! Pena que ao menor sinal de "desconforto" o ser humano vai lá com uma enxada e arranca tudo.

– Curioso você falar sobre isso, ontem, eu tava olhando pela janela, depois da chuvarada, e fiquei um tempão admirando as árvores sendo acarinhadas pelo vento...

– Que poético, amor!

– Ah! Gosto de ficar observando as árvores depois da chuva, elas ficam mais bonitas, aliás, elas pareciam sorrir pra mim e, de repente, me peguei sorrindo de volta, sabe aquele sorriso cúmplice, tipo piada interna que só os íntimos entendem?

– Olha que se não fosse uma árvore, já estaria me rasgando de ciúme... Ahahaha...

– Palhacinha! Tô falando sério, adoro quando a chuva alegra as árvores!

– Tô brincando, bobo! É como diz o poeta: é preciso chuva para florir!

– ... e pra sorrir também!

– Mas voltando às calçadas... tenho pensado muito ultimamente sobre a falta de cuidado que se tem com a terra... poderiam ao menos deixá-la respirar um pouco, ver o Sol, sentir o vento... muito triste uma plantinha ter que fazer força pra nascer... e ainda ser tratada como lixo ou ser chamada de erva daninha...

– Concordo... e as árvores que soltam sementes, flores e folhas transformando as calçadas e canteiros em tapetes coloridos, mas que muitas pessoas chamam de sujeira, sem contar aquelas que só reclamam por ter que varrer o quintal, geralmente todo cimentado também!

– Se fizessem calçadas ecológicas a cidade seria tão mais agradável... sabe aqueles pisos com espaçamentos que deixam as plantinhas crescerem e facilitam o escoamento das águas da chuva?

– Seria perfeito, calçadas bonitas, a Natureza se abrindo e o risco de enchentes diminuindo! Mundo ideal é o nome disso!

– Eu diria o começo de um mundo ideal, mas, certamente, um senhor começo!

– Adorei nossas reflexões, amor!

– Sabe o nome disso? Sintonia!

– E amor à Natureza!

– Mas agora chega de falar de árvore e vem cá...

– Minha ciumentinha... tá bom, vou quebrar seu galho... ahahaha

– Ahahaha... engraçadinho... não quero que quebre nada... 

– Fique tranquila, sou todo amor e carinho!

– Então, vem logo balançar minha roseira!

– Ahahaha... é pra já! :)


* A foto que inspirou essa crônica é o registro que fiz de uma calçada degradada, como tantas outras pela cidade, que merecem muito mais atenção e respeito.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Lápis e papel

Tão generosos são o lápis e o papel... com eles podemos rascunhar ideias, textos... podemos rabiscar retas, curvas. Simples e práticos, cabem em bolsos, se acomodam bem em qualquer cantinho da bolsa e não costumam ser exigentes. 

Modestos e sem rapapés, lápis e papel estão sempre prontos quando a inspiração chama ou uma necessidade de escrever ou rabiscar grita mais alto. 

Fáceis de usar, não precisam de manual de instruções, tampouco funcionam à bateria, por isso não nos deixam na mão.

Tetê está sempre com um bloco e um lápis à espreita, ao menor sinal de criatividade, lá está ela, ora escrevendo, ora rabiscando. Desde muito pequena, menor do que é agora, ela impressiona dizendo que quando crescer quer criar!

Ressabiados os pais insistem em saber que tipo de criação: porcos, galinhas, quem sabe, agapornes? Ahahaha... ela dá uma gargalhada, que ilumina o ambiente, e desconversa: quero criar mundos com meus escritos ou rabiscos, não importa, tenho tempo pra sonhar enquanto ainda sou criança!

A mãe abre um sorriso e pede pra pequena mostrar o que tem criado, ultimamente. O pai, por sua vez, torce o nariz e resmunga que será mais uma artista pobre na família.

Arregalando os olhinhos, Tetê faz cara de indignada, esconde seu bloco e diz em alto e bom som: me aguardem... vou ser respeitada e, como sempre ouço vocês dizendo, se der pra pagar os boletos, rir de nós mesmos e comer uma pizza aos sábados já tá valendo! :)


* Esta crônica foi inspirada na doce ilustração de Hiro Kawahara (@hirokawahara), parabéns pelo trabalho sempre inspirador ❤️

sábado, 11 de janeiro de 2025

Pelas ruas da cidade eterna

A forma descontraída com que Chico Buarque narra sua infância em "Bambino a Roma" é das coisas mais doces e divertidas, a leitura flui como seus passeios de bicicleta! E, ao longo das páginas, só aumentou minha vontade de voltar a visitar Roma e seus encantos (mas com o euro assim simpático, mastigando o real com farinha, tá difícil... rsrsrs).

Voltando ao bambino, a narrativa de Chico tem uma desenvoltura que só mesmo alguém que soube usar as palavras e marcar seu nome como um dos mais importantes compositores da Música Popular Brasileira de todos os tempos poderia! 

O menino Chico tem na bicicleta sua grande companheira de aventuras... adoro o trecho em que ele fala da labuta do pai para manter os filhos em boas escolas: "E por estar ciente de que seu salário de professor universitário não permitia à família grandes luxos, me deu vontade de chorar quando ganhei de presente uma bicicleta niquelada, ainda mais com pneus brancos. A partir daí, eu não quis saber de mais nada, até a bola de futebol deixei de lado..."

Pois é, a partir daí ele desliza com sua magrela pelas ruas de Roma numa das narrativas mais poéticas do escritor. Outro doce momento é quando, em uma livraria, Chico se surpreende ao ver o livro Raízes do Brasil, de seu pai, Sérgio Buarque de Hollanda, em italiano (Alle Radici del Brasili)... encantado ele compra a edição! Também fiquei encantada.
 
Mesmo com algumas cenas tensas e situações delicadas, na maior parte do tempo é como estar na garupa do Chico, percorrendo as belas ruas da capital italiana. Aplausos ao escritor, compositor e contador/cantador de histórias! Viva a Literatura! Viva a MPB! :)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Pra celebrar

Foto: Robyn Beck/AFP 
– Ontem foi Dia do Leitor! Você sabia que a gente tinha um dia?

– Sabia, mas acho essas datas tão limitantes! É como se a gente só pudesse comemorar um dia por ano o fato de sermos leitores assíduos, apaixonados por livrarias, bibliotecas, sebos e tudo que envolve Literatura!

– Exagerado!

– Ah! Você gosta de ler tanto quanto eu e vive esculachando essas datas especiais. Não vem me dizer que não concorda que somos tudo isso?

– Somos realmente leitores assíduos, apaixonados por livrarias, bibliotecas, sebos e tudo que envolve Literatura! Também abomino datas especiais, certamente, inventadas pelo comércio, essa criatura avassaladora que nos compromete o orçamento e mina nosso cartão de crédito!

– Ahahaha! Bela definição! Mas voltando à sua pergunta inicial... você não sabia mesmo que existia essa data?

– Não... você soube quando que não me disse antes?

– Tava pesquisando coisas aleatórias na internet, topei com datas comemorativas de janeiro e eis que me apareceu o Dia do Leitor!

– E não comentou comigo por quê?

– Sei lá, devia estar longe de você na hora...

– Longe de mim? Então, estava no trabalho! Pesquisando coisas aleatórias em pleno expediente? Lamentável!

– Ahahaha... como se você nunca tenha dado uma olhada na internet pra se distrair ou procurar assunto!

– Ahahaha... lembrei de um meme!

– Sei qual é... e isso me preocupa.

– Por quê?

– Porque é sinal de que a gente tá gastando muito tempo conectado a memes ao invés de mergulhar na leitura!

– Não diga isso, acesso a internet só pra me divertir, mas normalmente em segundos acabo estressada lendo comentários sem noção e volto correndo aos livros, à vida real e a você...

– Ui... gostei! Pensando bem, a gente nem fica muito nas redes sociais... o que acontece é que temos uma enorme habilidade em absorver bobagens pra rir juntos depois e o resultado é que ficamos muito menos tempo conectados do que a média do brasileiro descontrolado.

– Agora eu que me preocupei...

– Por quê?

– Ficamos menos tempo conectados do que a média do brasileiro descontrolado? Não seria melhor nos compararmos com a média do brasileiro saudável?

– Ahahaha... prefiro não comentar!

– Ahahaha... vem logo Oscar e traz mais memes eternos pra gente rir ainda mais!

– E por falar em cinema, não posso deixar de perguntar: você viu a Fernanda Torres na cerimônia do Globo de Ouro?

– Totalmente premiada!

– Ahahaha! Viva o cinema brasileiro, nossos diretores, atores, atrizes e todos envolvidos com a Sétima Arte, inclusive, nós espectadores apaixonados!

– Viva os leitores assíduos!

– Viva a Literatura! Leiam Marcelo Rubens Paiva! Precisamos falar sobre nossas feridas para não reabri-las!

– Aplausos à grande brasileira Eunice Paiva! Viva nossas Fernandas Torres e Montenegro, Selton Mello, Walter Salles e todo o elenco de "Ainda estou aqui"! Viva nossa Cultura! :)