Em "A Biblioteca", o que chama a atenção são as ricas descrições que o autor faz das lembranças de Fausto Carregal, um funcionário público que herdou uma bela biblioteca com livros do pai e do avô. O intuito do protagonista é fazer com que um dos filhos se interesse pela rica coleção de obras de ciências clássicas e de literatura, da qual ele mesmo não leu um único exemplar. O conto começa com Fausto lembrando de detalhes da decoração do casarão do pai, onde a biblioteca "tinha vivido durante dezenas de anos, a gosto e à vontade". Entre as recordações, adoro esta: "E o espevitador de velas? Como ele se lembrava desse utensílio obsoleto, de prata! Era com ternura que se recordava dele, nas mãos de sua mãe, quando, nos longos serões, na sala de jantar, à espera do chá - que chá! - ele o via aparar os morrões das velas do candelabro, enquanto ela, sua mãe, não interrompia a história do Príncipe Tatu, que estava contando...". Confesso que o final é bastante inquietante pra quem, como eu, adora livros, mas a narrativa de Lima Barreto é sempre muito rica, com pitadas divertidas que tornam a leitura leve e, ao mesmo tempo, com contundente crítica social que nos faz refletir. Viva o escritor brasileiro! Salve os clássicos! :)
terça-feira, 20 de julho de 2021
Para refletir
Hoje, volto a falar sobre Lima Barreto que nos brinda com críticas sociais ácidas bem temperadas pela ironia. Desta vez, destaco dois contos. Primeiro, o clássico "O Homem que sabia javanês" conta a história de Castelo, que driblou a necessidade e o desemprego fazendo-se passar por conhecedor da língua e cultura javanesa. Malandro, foi galgando degraus da respeitabilidade de fachada até que foi nomeado cônsul, representando o País pelo mundo. Com sua brilhante escrita, o autor nos traz pérolas como: "O que me admira é que tenhas ocorrido tantas aventuras aqui neste Brasil imbecil e burocrático." E esta, em que o protagonista vangloria-se de seu feito, como, aliás, muitos por aí: "E a minha fama crescia. Na rua, os informados apontavam-me dizendo aos outros: 'lá vai o sujeito que sabe javanês'". Enfim, uma figura que mostra como o oportunismo fez escola e ainda se faz muito presente na cena brasileira, em que as aparências seguem valorizadas no ritmo do eterno país do futuro!
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