Coisa Phina
Um Olhar Apaixonado sobre Literatura, Cinema, Teatro, Música e Esporte!
sábado, 4 de maio de 2024
Cinema inspirador e marcante!
Era 1995, ano que contou com uma safra adorável de filmes que me despertaram o desejo de escrever um roteiro! Incrível, mas daqui a pouco comento. No filme "Cortina de Fumaça", tudo é grandioso em sua simplicidade cotidiana, a começar pela interpretação sempre irretocável do ator Harvey Keitel (Auggie Wren), que é o protagonista, dono de uma tabacaria, no Brooklin, em Nova York, por onde passam personagens curiosíssimos, entre eles, o escritor Paul Benjamin, interpretado por William Hurt.
A mania de Auggie me agradou logo de cara, todos os dias, às oito horas da manhã, ele tira uma foto da fachada de sua tabacaria, tem milhares de imagens guardadas do que seria a mesma paisagem, mas que, na verdade, muda a cada dia! Como diria Heráclito: “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas e o próprio ser já se modificou”. Ou seja, a vida é movimento! Sempre! Preste atenção!
Enfim, as histórias retratadas no filme me fascinaram, despertaram minha inspiração, mas, claro, com roteiro de um escritor, que criou diálogos incríveis e personagens muito bem construídos só podiam me conquistar mesmo. Mas não vou ficar contando detalhes do que se passa no filme, prefiro apenas falar das sensações que tive para, talvez, incentivar alguém a assisti-lo pela primeira vez.
Naqueles dias, tudo que eu assistia no cinema me despertava mil ideias e me inspirava a escrever histórias. Tanto que, em 1995, escrevi meu primeiro “filhinho”: um roteiro, até hoje inacabado, mas como primogênito, muito querido. A partir dele, comecei a pensar na possibilidade de escrever, a Literatura, inclusive, passou a acenar pra mim de forma bastante insistente e simpática! Como leitora, já flertava com os livros, mas como escritora? Será? E, então, escrevi os primeiros textos, que continuam, carinhosamente, guardados, entre eles, uma divertida peça de teatro, que criei pra participar de um concurso que foi cancelado… rsrsrs… fazer o quê! O importante é escrever, escrever, escrever! Muitos aplausos para Paul Auster! Viva a Literatura! Viva o cinema! :)
quarta-feira, 1 de maio de 2024
Reflexões de um vestido rosa, na varanda
De repente, pela porta entreaberta, o vestido ouve uma conversa que o deixa intrigado e pensativo.
– Será que entendi direito? A mãe de minha dona está sugerindo que ela me doe? Não é possível! Será que ela terá a coragem de me despachar assim sem mais? Não posso acreditar, ontem mesmo ela me pegou do guarda-roupa e disse… O que ela disse mesmo? Preciso lembrar. Será que ela estava separando coisas para se livrar e me escolheu entre suas peças de roupa? Por que eu? Não estou tão velho assim… será que enjoou? Ou será que estou puído e não percebi? Preciso de um espelho, adoro a varanda, mas nesse caso preferia estar no quarto pra tentar me olhar no espelho do guarda-roupa. Curioso que elas estavam falando bem baixo e dizem que as pessoas costumam falar baixo quando estão tramando alguma coisa contra seres ingênuos que estão por perto. No caso, eu.
Mais um barulho dentro do apartamento, chama a atenção do vestido, que aguça a audição para tentar entender o que está acontecendo.
– Agora ouvi alguma coisa como: ele sempre gostou, por isso, pensei no rosa! Este rosa da frase deve ser eu! Então, alguém sempre gostou de vê-la vestida comigo! Ah! Que ótimo! Mas a voz dela estava um tanto quanto apreensiva. Já sei, sua mãe, boa pessoa, mas muito consumista, deve achar que ela precisa de um vestido novo. Eu sempre digo, não se mexe em time que está ganhando! Claro que se o príncipe encantado gosta dela comigo, pra quê arriscar outro e perder o clima romântico que eu proporciono… ahahaha… modéstia à parte, claro!
Interrompendo seu pensamento, a porta da varanda se abre e, para sua surpresa, sua dona traz um enorme sorriso no rosto e um brilho diferente nos olhos. E antes mesmo que ele pudesse imaginar o que estava acontecendo, ela o arranca do cabide e o abraça cheia de carinho e diz com sua doce voz de locutora de programa romântico da madrugada: que bom que tenho você sempre nas ocasiões mais importantes, não nas mais chiques, como as que minha mãe adora, mas as mais leves e alegres! Prepare-se, escolhi você de novo! Vamos para um piquenique… não me olhe assim, é com ele mesmo… aquele do encontro no cinema.
– Como é bom ser seu vestido, querida! Adoro seu abraço, seu carinho e o fato de me vestir nos encontros mais românticos e importantes de sua vida!
Neste instante, a mãe grita de dentro: – Já entendi, vai com o rosa de todas as vezes, beleza, mas pare de tratá-lo como uma pessoa ou um pet, se os vizinhos ouvem você falando com uma peça de roupa vão achar o quê? – Ah, mãe! Meu vestido rosa não é simplesmente uma peça de roupa, é como se fosse parte de mim! Agora, chega de conversa, vamos ao nosso encontro com a delicadeza!
– Vamos logo, querida! E obrigado por ser minha alma! :)
* Ah! Preciso registrar que a bela ilustração é da querida designer (sobrinha/afilhada) Aline Cavalcante Donato (@ilustralika)... obrigada pela parceria... 😉
sábado, 27 de abril de 2024
Uma adoravel HQ
Gosto muito de HQs, são sempre inspiradoras, mas "Verões felizes", com roteiro do belga Zidrou e arte do espanhol Jordi Lafebre, me conquistou, estou encantada! Primeiro, porque é sobre a beleza das coisas simples da vida e mostra situações cotidianas com uma leveza reconfortante. Texto e arte envolvem o leitor logo de cara e os diálogos divertidos, por vezes, irônicos, nos fazem refletir sobre como as viagens de férias em família podem ser tensas e, mesmo assim, adoráveis!
quarta-feira, 3 de abril de 2024
O encanto criativo das HQs
sexta-feira, 12 de janeiro de 2024
Ah... o amanhecer!
segunda-feira, 8 de janeiro de 2024
A "maratona" mais charmosa das galáxias!
domingo, 17 de dezembro de 2023
Mundo particular
A varanda é sua terapia, seu refúgio. Não, ela não é do tipo alcoviteira, mas gosta de apreciar a vida acontecendo. Ali, onde suas plantas crescem plácidas, banhadas pelo Sol. Onde sua mesinha de madeira de demolição ostenta o café de todas as tardes, xícaras, bule e leiteira de porcelana de bordas douradas (comprados em leves e longas prestações), cesta de pãezinhos, bolo de baunilha, geleia de amora, manteiga, todos sobre a toalha de linho branco com pequenas flores azul-celeste.
Ela gosta de parar alguns instantes para admirar as pequenas flores na toalha porque a cor azul-celeste a faz lembrar dos versos de uma doce canção que diz: “vi seu olhar, seu olhar de festa, de farol de moto, azul-celeste, me ganhou no ato, uma carona pra Lua”, de Eduardo Dusek. O nome da música é Aventura e ela adora desde sempre, mesmo que, ultimamente, esteja se aventurando apenas em pensamento. Fica cantando timidamente até ser interrompida pelos pássaros, que visitam sua varanda atrás das migalhas de pão e de bolo, ou, então, pelo latido agudo e olhar urgente de sua cadelinha.
Assim é seu cantinho na metrópole, é ali que ela reflete ou, simplesmente, celebra a beleza da natureza, das pessoas e das coisas da vida, pelo menos à distância… rsrsrs… porque de perto, na intimidade, como dizia sua avó, são outros quinhentos. De repente, uma brisa quente invade a tarde, anúncio de chuva, mas pra depois, porque, neste momento, o céu continua azul como as flores bordadas no linho e a letra da canção. Agora, está na hora de saborear os quitutes que a esperam pacientemente na mesa posta.
Ela começa pelo bolo de baunilha, uma receita de sua tataravó. Pois é, a maioria das pessoas mal sabe quem foi a bisavó, imagine tataravó, mas ela é privilegiada. Inclusive, tem fotos no colo da bisavó, ainda que não lembre exatamente a sensação de aconchego que aquela imagem passa quando admira o registro de família. Voltando ao bolo, é um segredo guardado a sete chaves e ela, assim como todos parentes, só teve acesso à receita e permissão para efetivamente fazer o acepipe quando completou a maioridade. A coisa é séria, mas é assim, “o importante é o que importa, só dê valor ao que realmente vale a pena”, já dizia sua avó.
O chá é o acompanhamento ideal para o bolo, aconselhado, inclusive, na observação no rodapé da receita original, mas ela prefere saboreá-lo com uma xícara de café com leite, isso longe de olhos que possam provocar qualquer arranca-rabo com a família. Até sente um arrepio quando pensa na possibilidade da tia mais velha flagrá-la cometendo esse pecado. Então, abre um sorriso e suspira de alívio, afinal, está em seu mundo particular, ali tudo que dá prazer é permitido.
A primeira mordida, como sempre acontece, dispara uma sensação de alegria, como se revivesse todas as aventuras da infância e da adolescência, quando se reuniam em datas comemorativas ou, simplesmente, para saborear o patrimônio culinário da família. Esse bolo tem magia, com ele, as lembranças são sempre boas, remete a momentos de descontração e total aceitação, é como se fosse um carinhoso abraço coletivo.
Seus pensamentos sabor baunilha só são interrompidos pela visão da cesta de pães… que delícia! Ela termina de comer a fatia de bolo e escolhe delicadamente um dos pãezinhos. Passa a manteiga como se estivesse esticando o lençol na cama, até que toda a superfície esteja besuntada. Mais um pouco de café com leite e sua memória volta a sorrir. Ela gosta de reviver suas lembranças nos mínimos detalhes. Porque a vida se faz nos detalhes, o bom da vida está nos detalhes, em momentos que se fazem inesquecíveis.
Geleia de amora. Esta tem história. Produção própria. Sim, ela também tem seus segredos. Só que, nesse caso, não cede a receita de jeito nenhum. Quando alguém elogia o sabor de seu doce, ela logo corre à despensa e presenteia a pessoa com um potinho. Faz isso, principalmente, para pessoas queridas. Que fique claro, nem todos merecem ser brindados com seus potes recheados de amor, mas, especialmente, quem acaricia seu coração. Outro dia, o felizardo foi o jardineiro do prédio, que quinzenalmente cuida das plantas de sua varanda. Ficou tão encantado com a cor e o sabor da geleia, que ela resolveu presenteá-lo com um potinho. O sorriso de agradecimento dele valeu o dia.
Satisfeita, ela tira a mesa e volta ao seu cantinho. É hora de descansar na querida cadeira, repleta de almofadas, pra observar o movimento ao redor. Os passarinhos sempre chamam sua atenção, quando pousam sorrateiros, procurando migalhas que ela possa ter esquecido pelo chão. Ah! Se eles soubessem que ela não esquece, mas, na verdade, deixa restinhos bem discretos de bolo e pão espalhados pelo peitoril e, em instantes, os primeiros começam a chegar, sabiá laranjeira, bem-te-vi, entre outros. Em seguida, quando, satisfeitos, eles voam para longe, aparece o beija-flor, para quem ela prepara, diariamente, com todo o carinho, uma garrafinha de água com açúcar.
Quando a avezinha termina seu balé em volta do bebedouro, dá dois voos ao redor da generosa humana, pois sabe, sem modéstia, que ela se encanta com sua beleza e também em agradecimento a quem patrocina seu lanchinho diariamente. Assim que o beija-flor se afasta da varanda, a campainha toca. Pronto, é hora de deixar seu mundinho particular. Ela se levanta calmamente e é seguida pela cachorrinha de olhos redondos e laços de fita, que se manteve satisfeita sentadinha esse tempo todo ao lado da dona. :)
*A ilustração é da @ilustralika (designer, ilustradora e minha afilhada/sobrinha/parceira)