quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Romance e contos queirosianos

Em "A ilustre casa de Ramires", publicação póstuma de Eça de Queirós, o autor português faz uma análise profunda e irônica da nobreza lusitana, traçando vários fatos históricos e, ao mesmo tempo, nos brindando com a criação de um protagonista bem construído, cheio de nuances, herdeiro de uma das mais antigas linhagens nobres portuguesas: o escritor Gonçalo Mendes Ramires, o Fidalgo da Torre!

A narrativa se passa no final do século XIX, quando Gonçalo começa a escrever uma novela histórica sobre sua família. Aí está a genialidade de Eça de Queirós, que usando a metaliteratura, faz vários paralelos entre a história de Portugual em que vive o autor e a contada pelo fidalgo, além de comparar o protagonista com o próprio País, pois ambos enfrentam desafios e contradições, provocando, em nós leitores, altas reflexões!

Mesmo inseguro e cheio de angústias, o Fidalgo da Torre é generoso, gentil e... amorável... ah... adorei esta palavra! Vou até me permitir usá-la em meus textos... certamente, vai enriquecê-los e seria uma singela homenagem ao Eça!

Voltando à obra, adoro a capacidade do escritor, que além de inspirador, nos oferece uma aula da arte de escrever! Para quem, como eu, adora se aventurar criando histórias, alguns trechos são encantadores, como a frase: "A pena agora, como a espada outrora, edifica reinos..."; e o parágrafo: "E nessa manhã, depois de repicar a sineta no corredor, duas vezes o Bento empurrara a porta da livraria, avisando o Sr. Doutor 'que o almocinho, assim à espera, certamente se estragava'. Mas de sobre a tira de almaço Gonçalo rosnava 'já vou!' - sem desapegar a pena, que corria como quilha leve em água mansa, na pressa amorosa de terminar, antes do almoço, o seu Capítulo I".

Em "Contos", o escritor que deu início ao Realismo na literatura portuguesa, mostra seu domínio também da narrativa curta. A antologia, composta por oito contos, nos apresenta uma galeria de personagens em diversas situações cotidianas. Meu destaque vai para o conto que abre a coletânea "Civilização", que, anos depois, deu origem ao admirável romance "A cidade e as serras", obra sobre a qual abordei em postagem de julho deste ano!

Em resumo, dois exemplos da habilidade do escritor português, um dos meus preferidos ao lado do grande Saramago! Para quem quiser embarcar em histórias bem construídas e personagens "amoráveis", recomendo muito! Viva Eça de Queirós! Salve a Literatura! :)

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