Em dado momento, o imperador percebe que "pouco a pouco, esta carta, começada para te informar sobre os progressos do meu mal, transformou-se no entretenimento de um homem que já não tem energia necessária para se dedicar longamente aos negócios do Estado. É a meditação escrita de um doente que dá audiência a suas recordações. Já agora pretendo ir mais longe: proponho-me a contar-te minha vida."
E, então, ele segue revelando detalhes de sua juventude; do gosto pela equitação ("... o cavalo era um amigo. Se me fosse dado optar por minha condição neste mundo, teria escolhido a de Centauro."); sobre os anos em que viveu à frente do Império Romano, suas conquistas e combates nos campos de batalha, sobre o amor, também sobre a Grécia, mais especificamente Atenas, que "tornou-se cada vez mais minha pátria, o centro do meu universo."
Densa, fluida e, em vários momentos, bem-humorada, a narrativa nos apresenta, talvez, um dos mais humanos imperadores romanos, que não se sentia superior aos homens comuns: "sou, ao mesmo tempo, mais livre e mais submisso do que eles ousam ser." E ainda refletindo sobre ser livre: "Comecei por procurar uma espécie de liberdade de férias, constituída de pequenos momentos livres. Toda vida bem disciplinada os tem, e quem não sabe consegui-los não sabe viver." Nossa... é uma leitura tão rica, tão fascinante... são tantas reflexões instigantes que acabamos por nos identificar em alguns pontos com o pensamento de um imperador romano! Uau!
Ah! Roma é descrita de diversas maneiras, mas gosto de dois trechos em especial: 1 - "Roma, que eu era o primeiro a ousar qualificar como Eterna, assemelhar-se-ia cada vez mais às deusas-mães dos cultos da Ásia: progenitora dos jovens e das colheitas, cerrando contra o seio leões e colmeias."; 2 - "A Roma conquistadora da República cumpriu seu papel; a louca capital dos primeiros Césares tende, por si mesma, a tornar-se mais circunspecta; outras Romas virão das quais mal posso imaginar a fisionomia, mas para cuja formação terei contribuído." Adriano era um visionário! Realmente, pra quem, como eu, já teve a oportunidade de visitar Roma, enxerga bem essas várias faces que a cidade eterna foi esculpindo ao longo dos séculos... lá pulsa história em cada canto. Toda a vez que leio algo relacionado à Roma, meu lado italiano pulsa mais forte e dá aquela vontade de correr pra lá de novo... sempre bom sonhar!
Enfim, é um livro que merece ser lido e reverenciado pela maestria da escritora, que nos envolve desde o primeiro parágrafo e que nos faz mergulhar numa época tão distante, mas com muitos desafios e conflitos ainda comuns ao nosso tempo! Agradeço ao meu irmão Gé (Gerson), que me presenteou com esse belo exemplar! Viva a Literatura! :)

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