Ir ao cinema, pra mim, sempre foi coisa séria! Encaro
como um ritual, escolho muito o que vou assistir. Não é qualquer filme que me
leva à sala escura! Mas além de um prazer, uma ida ao cinema pode ser uma
aventura! Posso contar nos dedos as vezes que fui e nada de estranho
aconteceu... ahahaha!
Lembro que uma vez eu estava olhando a vitrine de uma
loja daquelas que são uma perdição pra mim... não, não são lojas de sapato...
ahahaha... as que mais me chamam mais a atenção são as de livros de cinema e
literatura em geral. Estava eu olhando uma vitrine e não percebi que estava na
reta da porta de entrada de uma das salas do cinema. Fiquei entretida com as
obras e angustiada com a falta de dinheiro para adquiri-las, quando de repente
um casal me cutucou, com delicadeza, e perguntou: esta fila é para qual filme?
Eu olhei e uma fila enorme, de vinte pessoas ou mais estava alinhada exatamente
atrás de mim. Sem graça e com medo de ser linchada – estava sozinha, não ia ter
ninguém pra me defender – falei o nome de um dos filmes em cartaz, o casal se
afastou para o fim da fila. Eu simulei um problema e sai pelo outro lado do
cinema... aff... essa foi por pouco. Até lembrei de uma das cenas clássicas
protagonizadas por Carlitos, do grande Charlie Chaplin, em que ele, sem pensar
em nada, empunha uma bandeira e arrasta uma multidão de manifestantes atrás de
si... ahahaha... um perigo!
Certa vez, na bilheteria, presenciei idosos que têm
prioridade no atendimento discutindo pra saber quem tinha de ser atendido
primeiro. Peraí, gente! Não vamos especificar tanto, senão ninguém sai daqui
hoje. Já pensou? Por favor, os idosos façam fila, ordenados pela idade, se
empatar, pelo número de doenças crônicas, se empatar, pelo número de cabelos
brancos, se empatar... ah... fica um atrás do outro e vamos comprar logo essa
bagaça desse ingresso, vai!
Agora dentro da sala é preciso rezar muito pra não
sentar atrás de um cabeção... Pois é, baixinhas sofrem, mas sobre isso não há muito
o que fazer, a não ser pedir aos céus que tenham piedade! Uma vez, fui a uma
sala extremamente pequena, muito apertada mesmo, para assistir a um filme
tenso, daqueles que você sai até enviesada do cinema. Mas tive uma pré-sessão
bastante relaxante, uma diversão! Estávamos eu e uma amiga sentadas nas
cadeiras cujos números compramos na bilheteria. Lugares estrategicamente
escolhidos para uma visão espetacular da tela! Fomos das primeiras pessoas a
entrarem na sala, por isso, pudemos nos divertir com a dança das cadeiras que
antecedeu a exibição do filme. Sim, vários idosos presentes, adoro todos,
principalmente, porque os que têm o hábito de ir ao cinema são independentes e
isso é muito legal!
Enfim, pra encurtar a narrativa, uma senhorinha sentou
imediatamente ao meu lado e depois duas outras. Aí começou a confusão. Um casal
entrou e disse que havia comprado as cadeiras que as duas velhinhas estavam.
Depois de muito custo, as duas saíram e o casal sentou. Olhei pra minha amiga e
disse: quanto você quer apostar que essa velhinha aqui do meu lado tá na
cadeira errada? Ela explodiu numa risada, porque os dois velhinhos da frente
também haviam sentado nas primeiras cadeiras que viram quando entraram e
tiveram que mudar de lugar. Passados apenas alguns segundos e outro casal entra
e pergunta a minha amiga qual o número de sua cadeira, ela responde. Sem nem
pensar, virei para a velhinha: a senhora está sentada na cadeira que comprou? E
ela: nem sei, sentei aqui porque achei mais fácil do que procurar... o casal
pediu licença a minha amiga, depois a mim e chegaram na velhinha, avisando que
compraram a cadeira onde ela estava. A senhora faz uma carinha tão desolada que
quase dei meu lugar, o problema é que a sessão estava quase lotada. Ela saiu
devagarinho e ficou tentando achar sua cadeira... com muito custo achou lá na
frente... apagaram-se as luzes e eu fiquei imaginando a gritaria que seria se
mais alguém tivesse sentado no lugar errado numa sala apertada como aquela e
com o filme começando... é melhor nem pensar!
Outro dia bizarro foi quando assisti a Meia Noite em
Paris, de Woody Allen. A abertura do filme mostra belas imagens ao som de uma canção
suave. Estamos todos entrando no clima, quando de repente uma senhora começa a
identificar em voz alta cada um dos lugares da capital francesa que apareciam
na tela. No começo foi até simpático, mas comecei a ficar ressabiada... será que
quando o filme começar, ela vai continuar narrando alto? No terceiro suspiro narrativo,
um rapaz deu um grito de silêncio e a mulher ficou resmungando e dizendo que
conhecia Paris e tinha muita saudade. Faltou o cara falar, então, vai pra lá,
querida! Mas, com a ajuda dos deuses da sétima arte, o filme começou e a
senhorinha ficou caladinha... sessão tranquila!
Coisas que acontecem... e, na verdade, depois que
sobem os créditos, o melhor de tudo é a sensação de satisfação de ter visto
mais um filme, não importam as situações estranhas que presenciamos antes da
sessão... tudo é experiência... e aqui tudo vira texto... opa, esse foi o
título da crônica de ontem... ahahaha!