sábado, 23 de novembro de 2024

Pudim de pão

– Quer um pedaço de pudim de pão?

Silêncio. Nenhuma resposta e a paciência dela se esgotando.

– Vou perguntar mais uma vez, só que vou subir o tom de voz... QUER UM PEDAÇO DE PUDIM DE PÃO?

Mas o que é isso? Você sempre me desconcentrando...

– Sem problemas, vou voltar pra cozinha e me servir sozinha!

– Não! Depois de me provocar com pedaços de alegria como as fatias de seu pudim de pão, vai me deixar aqui chupando o dedo?

– Que eu saiba você estava concentrado jogando videogame, mas se preferir pode chupar o dedo... você tem 10 opções nas mãos... e se o alongamento estiver em dia, tem mais 10 nos pés... fique à vontade!

– Como você é cruel, hein!?

– Vamos fazer o seguinte... vou sair e quando eu retornar, você, por favor, me receba com júbilo nesse sagrado recinto.

– Com o quê?

– Ah... esquece! Só me receba com animação!

Ela sai, fecha a porta devagar, fica no corredor durante cinco minutos, contados no relógio, e abre a porta novamente com os olhos brilhando.

– Oi... tudo bem? Aceita um pedaço de pudim de pão?

Com um enorme sorriso no rosto e modulando a voz como em um filme musical, ele aceita o pedaço do acepipe.

– Claro! Adoraria saborear uma fatia de alegria com você, querida!

– Que ótimo! Já coloquei a mesa para nosso lanche rápido.

– Ah! Mas precisa ser na mesa? Pensei que ia... está bem... vamos à mesa... só espere...

Ela olha com desaprovação, como se estivesse lidando com um aluno irresponsável que precisasse tomar advertência.

– ... está bem! Já estou indo, o que eu estava fazendo não tem a menor importância diante de estar em sua companhia saboreando seu pudim de pão!

– Então, vamos!

Ele olha para a tela do videogame com um ar de quem está perdendo algo precioso. Enquanto ela o espera no corredor irritada, mas se esforçando para manter o rosto sóbrio.

– Ah! Só mais uma coisa, querido, não leve o celular para nosso lanche furtivo!

– Lanche o quê?

– Está na hora de parar um pouco com o videogame e quem sabe...

– ... ler um pouco! Não seja injusta, adoro ler, só que...

– ... só que, ultimamente, quando tem um minuto de folga, já mergulha nesses jogos do cacete!

– Ué? Quando acabou a necessidade de usarmos palavras bonitas como as saídas dos romances do século 19?

– Quando você me fez perder a paciência mais uma vez, querido!

Ele a abraça rindo e os dois seguem para a sala de jantar.

– Também te amo! :)


* A ilustração é da querida parceira @alikailustra ❤️

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Dedicação e amizade

A HQ "Céleste e Proust", da quadrinista francesa Chloé Cruchaudet, narra a história de Céleste Albaret, governanta, secretária e, acima de tudo, amiga e confidente do escritor Marcel Proust, que foi decisiva enquanto o autor escrevia sua obra-prima "Em busca do Tempo Perdido". Paciente e sempre disposta a ajudar, Céleste era de uma dedicação à toda prova ao ícone da literatura mundial, chegando a ser, muitas vezes, sua fonte de inspiração. Mesmo assim, a relação dos dois têm momentos de tensão, pela personalidade complexa Proust.      

Sempre elegante e solícita, Céleste conquista a confiança do escritor! Em um dos muitos momentos singelos da HQ, já idosa, ela lembra de certa vez, depois de se verem às voltas com inúmeros papeizinhos com as correções de sua obra, Proust, já com a saúde bastante fragilizada e quase sem forças para escrever, entrega um bilhete à sua governanta, que diz:: "Obrigado, Céleste, você está linda hoje!" Uma bela relação de amizade, que marcou ambos profundamente.

A narrativa é encantadora! Além de Céleste e Proust, tenho que registrar dois personagens importantes para a protagonista: Odilon, seu marido, e Marie, sua irmã, presenças marcantes ao longo de toda a história! 
Mas o que mais me encanta nesta HQ é a arte em aquarela... de uma beleza arrebatadora! Cada página é uma obra de arte, as cores e a sutileza do traço ao retratar os cenários de Paris são dignas de aplausos! Inclusive, até despertou aquela vontade adormecida de voltar à cidade luz e aproveitar suas ruas cheias de poesia! :)

sábado, 16 de novembro de 2024

Delicadezas

O aroma de cidreira se espalha pelos ambientes da casa. Ela entra na sala de leitura, trazendo uma bandeja com duas xícaras de chá fumegantes e um prato de bolo, cortado em quadradinhos. Pé ante pé, ela deposita a bandeja, delicadamente, no aparador, senta-se na poltrona cor de caramelo, cruza as pernas e fica ali por alguns segundos. 

De repente, ela quebra o silêncio dando um leve pigarro. Ele não levanta os olhos do livro, mas um sorriso se abre em seu rosto.

– Por favor, faça uma pausa, o chá vai esfriar... não se preocupe, em seguida, deixo você novamente com seus estudos!

– Claro! Prefere ir à sala de jantar para saborearmos o chá da tarde mais confortavelmente?

– Não quero atrapalhá-lo. Lembre-se que prometeu me levar à apresentação de música clássica amanhã! 

– Vai ser ótimo! Vou terminar minha pesquisa sem falta! E, amanhã, adoraria que usasse aquele vestido pérola...

– Você adora aquele vestido!

– Na verdade, adoro você com aquele vestido!

– Assim me faz corar... vamos ao chá!

– Vai usar o vestido pérola?

– Fique tranquilo! Não vou decepcioná-lo.

– Você nunca me decepciona... aliás, que chá é esse? Uma delicia!

– A infusão com ervas frescas é sempre adorável e combina muito bem com o bolo de baunilha!

– Sim, combinação perfeita! Como você e eu!

– Como nós dois no concerto de música clássica!

– Ou ouvindo rock. A verdade é que juntos combinamos com todo tipo de música, livros, filmes!

– Mas seu tio não acha isso... ele disse que você merecia uma mulher mais sofisticada do que eu.

– Esqueça aquele ranzinza... sempre dizendo: chá combina com livros clássicos e música instrumental! Ora, para que tantas regras? Como diria minha avó: o que é de gosto, regalo da vida! Qual o problema de tomar chá de cidreira lendo uma história em quadrinhos? Ou um milk-shake lendo Guerra e Paz?

– Concordo! Desculpe ter falado de seu tio, vamos aproveitar nosso momento!

– Vamos aproveitar cada minuto... sempre! Preciso fazer outro pedido, amanhã, use os brincos de brilhantes... realçam seus olhos!

– Estarei elegantemente vestida e adornada!

– Tenho certeza! Quer que eu vista algo específico, um terno, sapatos, abotoaduras?

– A mim, basta seu braço enlaçado ao meu.

– Adoro suas delicadezas! :)

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Desumanidade

Guerras sempre foram e continuam sendo cruéis e sem sentido. A HQ "Maus - A história de um sobrevivente", de Art Spiegelman, mostra de maneira direta e, extremamente, dura as atrocidades que nazistas alemães submeteram judeus no campo de concentração de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial.

Art narra a experiência de seu pai, Vladek Spiegelman, como sobrevivente do Holocausto. A narrativa alterna momentos de tensão mostrando a ascensão do nazismo com a história de amor de seus pais, Vladek e Anja, tudo isso em meio a problemas cotidianos enfrentados durante as entrevistas que resultaram na obra.  Embora tensa, a leitura é fluida, a arte é certeira e rica em detalhes. 

Sinceramente, gosto de histórias em quadrinhos mais suaves, mas acredito que o Holocausto deva ser sempre recontado para que a humanidade não esqueça e não repita atitudes devastadoras como essa. O mais triste é que, ao longo das décadas e atualmente, as guerras continuam devastando e dizimando populações inteiras por todos os continentes! A paz se faz cada vez mais necessária! Viva as HQs que estão aí, não só para nos divertir, mas também para provocar reflexões e nos conscientizar sobre as dores do mundo!

sábado, 9 de novembro de 2024

Quadrinistas necessários!


Uma das maiores quadrinistas brasileiras, Laerte continua, ao longo dos anos, nos surpreendendo com sua arte e humor nonsense! Pra provar, trago dois momentos... O primeiro é a tirinha Piratas do Tietê (acima), publicada em 06/11/2024, na Folha de S. Paulo, que fala sobre nossa atenção perdida... rsrsrs... um belo exemplo de como a artista consegue se aproximar do leitor, provocando gargalhadas e identificação imediata com a situação... rsrsrs... Laerte é genial seja nas tirinhas de jornal (adoro que ainda existam tirinhas e jornais!), seja em HQs clássicas como as que foram reunidas na compilação "A insustentável leveza do ser e outras histórias", publicadas, originalmente, em edições das revistas Chiclete com Banana e Circo, na fase de reabertura política, pela qual o Brasil passou depois dos sombrios anos da ditadura.  

São quatro histórias... "A insustentável leveza do ser" (1987); "Os homens-pizza" (1989); "Aquele cara..." (1989) e "Penas" (1988)... não vou contar detalhes, mas posso dizer que a beleza do traço e a versatilidade de Laerte contando suas histórias recheadas de humor e crítica social são um bálsamo para quem gosta de ler histórias em quadrinhos que não só nos divertem, mas também nos fazem refletir sobre os absurdos do cotidiano.

Ah! E as tirinhas de Angeli que continuam atuais e também nos fazem refletir sobre as mazelas do mundo. Seu traço certeiro e seu humor ácido merecem todos os elogios e reverência! A tirinha "O Público e o Privado" (ao lado), publicada, em 27/10/2024, na Folha de S. Paulo, é de uma inteligência e de um sarcasmo dignos de aplausos e, mais uma vez, gargalhadas... claro que com um leve travo de amargura (fazendo uma referência à bela canção "Meu mundo e nada mais", de Guilherme Arantes), mas como diria nosso grande poetinha Vinícius de Moraes: "é melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe" , mesmo que, muitas vezes, nosso dinheiro continue indo para o beleléu e o dos hómi sempre indo pra cucuia!


Laerte, Angeli e tantos outros artistas do traço e da língua afiada são sinônimos de humor absolutamente necessário. Viva os cartunistas, quadrinistas, ilustradores que nos fazem melhores e mais fortes pra enfrentar essa porra toda! :)

sábado, 2 de novembro de 2024

Ah... comédias românticas!

Existem filmes que, independentemente, de qualquer coisa, são adoráveis, divertidos... podemos assistir inúmeras vezes que continuarão nos encantando e nos provocando gargalhadas e suspiros! "Um lugar chamado Nothing Hill" (1999), que, este ano, comemora 25 anos de seu lançamento, é um desses e figura na minha lista de melhores comédias românticas de todos os tempos.

Este foi o primeiro de uma série de DVDs que comprei quando eles ainda eram a doce maneira de ver e rever um filme que gostávamos e, detalhe, com a possibilidade de abraçar a caixinha, afinal, contato físico é sempre, infinitamente, melhor!

Gosto de um tudo nesse filme, a começar pelo roteiro de Richard Curtis. Adoro filmes de roteiro, onde o diálogo é o principal (claro que isso deve ter a ver com o fato de que amo escrever histórias)! Hugh Grant é um dos meus atores preferidos, é um ser britânico absoluto, faz as maiores peripécias com aquela cara blasé e tem um charme todo especial, interpretando William Thacker, dono de uma livraria de rua no bairro mais romântico de Londres. 

Adoro as caras apaixonadas que ele faz para a estrela norte-americana Anna Scott, (Julia Roberts) que um belo dia aparece em sua livraria e, a partir daí, a história se desenrola e se enrola pra depois se desenrolar de vez e tudo ficar bem pra alegria de quem, como eu, gosta de comédias românticas!

Preciso citar Spike (Rhys Ifans), o amigo que divide o apartamento e situações hilárias com William. E ele não é só hilário, mas é muito fofo quando se junta à turma de amigos para ajudar o protagonista a ir ao encontro de sua amada... ui! Outra coisa que gosto é que os personagens coadjuvantes, além de serem todos importantes para o desenvolvimento da trama, são ricos e muito bem construídos, o que faz com que a gente torça pra tudo dar certo! Ah... a trilha sonora também é de lascar de boa... principalmente, o inspirador Charles Aznavour cantando a suave "She"... uau!

Richard Curtis assina também o roteiro de outra comédia romântica que adoro: "Quatro casamentos e um funeral" (1994), que, este ano, completa 30 anos! Hugh Grant também é o protagonista! Desde a primeira vez que assisti me chamou muito a atenção e me instigou a escrever meu primeiro roteiro/livro, que continua até hoje inacabado em uma gaveta virtual no meu notebook. Gostei tanto que até comprei o livro com o roteiro do filme. Curtis cria diálogos muito bem construídos, personagens divertidos, mas, ao mesmo tempo, profundos! Adoro! Aplausos aos roteiristas criativos e ao cinema de qualidade! :)

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Estação das flores

A casa é a mais florida da rua, talvez do bairro todo. A janela do quarto, emoldurada por uma bela árvore, parece se abrir gentilmente, como um sorriso. 
As flores coloridas,  iluminadas pelo sol da manhã, tornam-se mais atraentes para abelhas e beija-flores, que fazem a festa! No peitoril, a floreira dá ainda mais graça ao cantinho. 

A primavera é, definitivamente, a estação preferida dos donos da casa. Tudo bem que o casal também gosta do inverno, oportunidade pra assistir filmes enrolados no cobertor ou saborear um bela sopa. Do outono, pra caminhar pelas alamedas, pisando, delicadamente, no tapete de flores e folhas caídas das árvores. Do verão, pra aproveitar a alegria infantil de passar as tardes tomando banho de mangueira, mesmo que, oficialmente, apenas lavando o quintal.

Mas nada se compara à primavera e seus encantos! Não é à toa que eles ostentam o título da casa mais florida do bairro, são tão apaixonados por flores e plantas que adoram doar mudinhas para os vizinhos... o sonho do casal é espalhar o amor pela natureza para transformar a cidade num enorme jardim, ou bosque, ou pomar, ou tudo isso junto. Até a bicicleta costuma ter flores frescas em sua cestinha e estar sempre a postos, esperando os dois para um passeio tal qual Paul Newman e Katherine Ross na icônica cena do filme Butch Cassidy and Sundance Kid, ao som de "Raindrops keep falling on my head", na doce voz de B. J. Thomas.
Uau, que charme! Salve a primavera, as belas canções e os clássicos do cinema! :)


* A delicada ilustração em aquarela que me inspirou a escrever esta crônica é do amigo Gustavo Miranda! Obrigada pela parceria e generosidade... ❤️

sábado, 26 de outubro de 2024

Pequenas tensões cotidianas

– Tem umas coisas que classifico como pequenas tensões do dia a dia!

– Tá inspirada!

– Desculpe, mas preciso registrar esses pensamentos...

– Vai escrever? Quer bloco e caneta? Notebook? Tablet?

– Nada disso, vou lançar ao vento mesmo!

– Você tá bem? Alguém te ofereceu alguma bebida ou balinha estranha quando foi à padaria?

– Você que foi à padaria, querido!

– Ahahaha... é verdade! Até esqueci!

– Posso continuar com minhas reflexões?

– Pode, desde que externe o que está pensando, o vento e eu estamos curiosos aguardando!

– Ahahaha... bobo! São coisas que podem passar despercebidas para muitas pessoas, mas que me intrigam.

– Coisas que te intrigam? Não sei a do vento, mas a minha curiosidade já tá está gritando!

– Engraçadinho! A primeira delas: uma recomendação nas costas da poltrona da frente, no avião: "use o assento para flutuar". Incrível, a gente entra no avião pensando em voar e o banco da frente nos lembra que podemos ter que pensar em nadar! Que coisa tensa!

– Também acho! Mas o tema é avião?

– Não... por quê?

– Calma! É que falando em avião lembrei...

– Peraí, as reflexões sobre tensões do dia a dia são minhas e detalhe: você concordou!

– Nossa, mas o negócio é sério mesmo. Pensei que seriam colocações aleatórias e que pudéssemos compartilhar impressões...

– Adorei o discurso, mas só falei a primeira e você já quer tomar meu lugar no púlpito das tensões!

– Ahahaha... púlpito das tensões parece nome de novela!

– Posso continuar?

– Claro... o púlpito é todo seu, querida!

– Segunda... placas com a inscrição: Sorria, você está sendo filmado! É patético, basta avisar que estão nos filmando, pra que ficar sugerindo pra gente sorrir?

– Sorrir é bom pra relaxar... e se preferir, sorria e acene!

– No caso de câmeras de segurança, é melhor não acenar porque pode configurar atitude suspeita, melhor evitar... ahahaha!

– É mesmo... ahahaha!

– A terceira, pra sua alegria também envolve avião!

– Tá vendo? Sabia que devia ter mais sobre o tema!

– Deixa de ser metido, eu tinha um roteiro sobre as tensões, você é que quis atrapalhar minha performance!

– Jamais, só que conheço muito bem você e sei que devia ter mais tensões relacionadas.

– Tá bom, você ganhou! A terceira e que abomino é o momento em que a comissária demonstra como se deve colocar a máscara de oxigênio em situação de emergência.

– Pois é... e ensina com uma calma, inversamente, proporcional a uma situação de emergência!

– É irritante aquela cara blasé, fazendo tudo em câmera lenta. 

– O condenado deve ser escolhido por sorteio, porque é uma situação constrangedora, principalmente, porque a maioria dos passageiros nem olha na direção de quem está explicando.

– Eu até olho, mas não o tempo todo! Outra coisa que lembrei agora é gente que senta na janela e fecha a danada durante todo o voo, enquanto quem está no meio e até no corredor tá louco pra ver as nuvens, a chuva, a cidade, qualquer coisa, nem que seja a asa do avião! Mas esse tipo de gente parece criança birrenta! 

– Ahahaha... definiu bem! Agora, tem situação mais tensa que a hora do embarque? Aquela corrida para colocar a mala de mão no compartimento de bagagem, todos ansiosos, parece que se não guardar logo, a tripulação vai jogar tudo fora... ahahaha... 

– Ahahaha... é  assim mesmo! Agora, tá liberado pra falar suas tensões, amor!

– Ah! Obrigada, querida! O embarque só não é mais irritante que o desembarque, basta a aeronave aterrissar que todos começam a querer levantar de uma vez, ignorando os avisos pra ficar sentado cada um no seu lugar. É um desespero! Aí começam a abrir os compartimentos, todos ao mesmo tempo! E ficam amontoados, no corredor estreito, malas, mochilas e seus donos descompensados disputando pra ver quem sai primeiro!

– Arrasou com suas tensões... mais alguma?

– Tô satisfeito! Agora, só tem uma coisa que me deixa mais tenso do que tudo isso que falamos...

– O quê?

– Os dias em que vamos pedir comida por aplicativo... é a maior tensão olhar aquele cardápio com um mundo de opções e não saber o que escolher...

– Tá dando uma de irônico? Não acredito que, mais uma vez, vai dizer que sou indecisa! 

– Imagina! Pra provar que isso nao reflete a realidade, vamos pedir uma pizza? Mas tem que ser metade de cada sabor... valendo!

– Seu irritante, para com isso... não vou escolher nada!

– Olha a tensão!

– Palhaçada! :)

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Tensão em Paris

Mais uma HQ assinada pela talentosa e criativa dupla Lafebre e Zidrou, "A Mundana" acontece, nos anos 1940, em uma Paris ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Desde a primeira cena, que mostra parisienses enfrentando o bombardeio e o toque de recolher imposto pelas forças de ocupação, já dá pra perceber a qualidade do que temos em mãos, tanto pelo roteiro quanto pela arte, e o que podemos esperar ao longo das páginas dessa ficção com belas pitadas de História!  

A narrativa envolvente nos apresenta personagens comuns que tentam seguir a vida em meio aos bombardeios e à tensão que a cidade luz vive. O protagonista é o inspetor Aimé Louzeau, que trabalha na Vicios, uma brigada policial de Paris, que combate prostituição e drogas. Em uma das operações, ele se depara com a taitiana Eeva (com "e" duplo), que ilustra a capa da HQ e dá um toque de mistério à trama.  Ainda que seja uma história marcada por momentos de violência, como em todo roteiro de Zidrou, há espaço para o humor refinado e personagens bem construídos e de uma tocante humanidade.


Para completar, tenho que dizer, mais uma vez, como me encanta a arte de Jordi Lafebre. Seu traço é de uma beleza impressionante, criativo e divertido na medida certa. Cada página é uma obra de arte, com suas nuances de cor, acompanhando o ritmo da história... cenários ricos em detalhes... cada personagem tem seu charme. Ah! Sou fã mesmo e toda a HQ que ele assinar faço questão de colecionar! Viva os roteiristas e ilustradores que tanto me inspiram! :) 

sábado, 19 de outubro de 2024

Um doce vilarejo

Faz tempo que não escrevo sobre alguma música aqui em meu querido blog. Mas esta semana, em um dos momentos em que procurei aconchego, me atentei a “Vilarejo”, de Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Pedro Baby. Que linda canção que me emociona cada vez que ouço, principalmente, esta apresentação ao vivo dos Tribalistas (video que compartilho pra sonharmos juntos... rsrsrs)! Adoro! É delicada ao falar de coisas simples e preciosas! É de uma beleza esperançosa que me animou, me inspirou... quase saí dançando, rodopiando de braços abertos! Já conhecia essa música, mas como tudo tem sua hora, neste momento, ela me tocou!

Gosto dos Tribalistas... da potencia sofisticada de Marisa, da intensa sonoridade de Brown e da poesia pungente de Arnaldo... como não gostar do que eles e seus parceiros produzem?


Engraçado que escrevi uma crônica há alguns meses, mas postei só nesta quarta-feira e agora vejo como minha “Cidadezinha” é irmã do “Vilarejo”, porém, enquanto a minha é modesta crônica, a deles é bela canção! 

“Lá o tempo espera, lá é primavera. Portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar. Em todas as mesas, pão, flores enfeitando os caminhos, os vestidos, os destinos e essa canção...” Ah! Sou só aplausos e lágrimas, emoção de quem adoraria ter um teto nesse vilarejo de amor! A beleza de certas canções pode deixar o dia mais leve, amenizar as preocupações e me fazer sonhar ainda mais... que perigo... ahahaha... Viva a música e os grandes artistas brasileiros! :)

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Cidadezinha

Era uma vez uma cidadezinha com bairros repletos de casinhas de cores variadas e janelas de madeira. Todas com quintal e jardim de roseiras e buchos, aqueles arbustos que parecem pequenas arvorezinhas, que despertaram muito a criatividade da Gi criança… rsrsrs… mas isso é outra história! Na frente, terraço com muretas baixas, samambaias penduradas no teto, derramando beleza e frescor aos privilegiados que descansam nas cadeiras de vime que completam o ambiente.

Delimitando os terrenos, cercas e portões de madeira baixinhos pra todos que passam na calçada poder admirar as rosas bem cultivadas e as toalhinhas de crochê na mesinha de vime no terraço. Duas portas de entrada, a da frente elegante, forte, de madeira nobre, sempre fechada a chave, garantindo a tranquilidade da sala de estar. No quintal do fundo, a porta da cozinha permanece aberta durante todo o dia, com sua cortininha de plástico esvoaçando e os aromas de bolo, assados e aquele cafezinho sempre fresco.

Ainda no fundo do quintal, um abacateiro pra dar a sombra agradável tanto pra quem quer brincar no balanço, como pra quem quer, simplesmente, sentar e ler em sua companhia. Num cantinho, uma horta com temperos, ervas, legumes e verduras. Sem esquecer do pequeno pomar com uma jabuticabeira, uma romãzeira e uma goiabeira, de onde sai a matéria-prima da goiabada mais gostosa das galáxias!

Bem sinalizadas com guias, permanentemente, pintadas de branco, as alamedas são tomadas por bicicletas, que dividem espaço com as senhorinhas e seus carrinhos de feira e poucos carros, principalmente, usados para os serviços públicos, além de um ou dois abastados habitantes da cidade que não conseguem resistir ao ronco dos motores e teimam em poluir o ar e a beleza do lugar, mas isso também é outra história!

As ruas de comércio, no centro da cidade, formam um quadrilátero em volta da praça principal. As lojas, muito bonitinhas com suas portas de madeira e vitrines iluminadas, vendem de um tudo, de alimentos a material para construção, de medicamentos a ração animal, de flores a itens de papelaria. São padarias, cafés, lavanderias, farmácias, docerias, bares, restaurantes, lanchonetes, lojas de ferragens, salão de beleza, barbearia.

Na praça principal, um coreto, onde a banda municipal costuma tocar em datas especiais e, aos sábados e domingos, à tarde. O Jacarandá-paulista, símbolo da cidade, divide a praça com dois ipês, um amarelo e um rosa, além dos arbustos, ladeados por passeios de pedras e gramado impecável. Quatro bancos colocados estrategicamente em pontos isolados, garantem privacidade tanto para as conversas mais românticas, quanto as de trabalho ou pra fofocar… fazer o quê? É da vida… rsrsrs…

Bom saber que a cidadezinha tem praças menores e canteiros por todos os quarteirões de seus 10 bairros. A arborização é o charme do local e o xodó de seus moradores. Existem, sim, os jardineiros oficiais, que são funcionários públicos, mas todos os habitantes são responsáveis pelas plantas e árvores e cuidam como se fossem as de seus quintais, tudo formalizado por lei municipal de muitos anos atrás. Ou seja, a consciência ambiental é uma marca desse lugarzinho.

No lado norte da praça principal, a majestosa Biblioteca Municipal, com seus mais de 30 mil livros catalogados, oferece conhecimento, alegria e sonhos a seus frequentadores. A maioria dos moradores da cidadezinha é leitor voraz e tem na Literatura, em suas mais variadas formas, uma companheira para noites frias, tardes ensolaradas e madrugadas insones. Mas, acima de tudo, eles acreditam que a leitura transforma e conscientiza sobre as dores do mundo e as belezas da vida!

E, então, quer saber onde fica essa agradável cidadezinha? Em minha imaginação, misturada às lembranças da infância. Talvez essa cidadezinha seja minha forma de sonhar em meio a tanta tragédia climática nos quatro cantos do planeta, porque, parafraseando Legião Urbana, torço por um mundo onde o simples seja visto como o mais importante! :)

* A doce ilustração é do meu irmão Gé (Gerson Donato), um historiador que adora desenhar desde sempre... obrigada pela gentileza ❤️

sábado, 12 de outubro de 2024

Literatura aquarelada

Um dos maiores clássicos das histórias em quadrinhos, Moonshadow, de J. M. DeMatteis e Jon J. Muth, surpreende desde as primeiras páginas da narrativa, cujo personagem-título é um rapaz ingênuo, fruto do relacionamento de sua mãe, uma hippie terráquea, com um alienígena. O pai de Moon é da raça conhecida como Des-Mesus, esferas sorridentes que vivem abduzindo espécimes de todo o Universo! Não vou contar mais detalhes, porque a jornada fantástica é cheia de nuances e aventuras que valem a pena ser experimentadas durante a leitura!

Inocente, Moon conhece o mundo pelas narrativas da mãe e pelos livros que lê, mesmo assim resolve partir em uma jornada de descobertas, ao lado de seu gato, Frodo, e de Ira, um sujeito de reputação duvidosa, de quem quero falar mais daqui a pouco. Antes preciso dizer que uma das coisas que me encantaram foi a forma reverente com que DeMatteis cita suas referências na Literatura, como J. R. R. Tolkien. Logo me identifiquei, adoro a obra do criador de O Hobbit!

Enquanto Moon é sensível, gosta de livros, toca flauta, que ganhou de sua mãe, seu companheiro, o peludo e rabugento Ira, adora se meter em encrencas regadas a cerveja e sexo. Mesmo sendo esse problema em forma de criatura, Ira me chamou a atenção pela semelhança com o querido Chewbacca, o copiloto da nave Millenium Falcon e melhor amigo de Han Solo, da melhor saga das galáxias: Star Wars! Será que viajei muito? Ahahaha, mas quando a gente embarca nessa fantasia, o encantamento é garantido mesmo!

Na introdução desta edição definitiva, publicada pela editora Pipoca & Nanquim, DeMatteis fala como foi seu desenvolvimento como roteirista e como Moonshadow mudou sua vida criativa. Adorei o trecho: "Alguém (por mais que eu tente, não consigo lembrar quem) disse que a história na qual você está trabalhando nesse momento devia ser a única que vai escrever na vida: jogue ali tudo que pensa, tudo que sente, suas ideias e seus ideais, suas paixões e suas filosofias, seus sonhos e suas esperanças. Despeje ali cada gotinha da Pessoa Que Você É. Foi o que fiz em Moonshadow. Foi ali que... virei escritor"! Adorei essa entrega, não é à toa que produziu um clássico!  

Ah! O texto de DeMatteis é de uma criatividade envolvente, a cada capítulo, aumenta a curiosidade de acompanhar a jornada daquele rapazinho universo afora. Já a arte aquarelada de Muth é de uma beleza encantadora, delicada e, ao mesmo tempo, intensa. Moonshadow é um verdadeiro encontro de mestres! :)

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Artistas de rua

Ilustração: Jordi Lafebre
– Olhando essa foto, você tem noção que já se passaram décadas? Eu acho que eu tinha uns oito anos!

– Pois é, eu tinha 10 anos!

– Como é que pode? Você lembra quando essa foto foi feita?

– Ah! É o registro de nossa primeira apresentação! Voltamos pra casa tão animados, atropelando tudo que víamos pela frente!

– Ahahaha... é verdade, a mãe deu uma bronca e tanto porque a gente entrou espezinhando o chão que ela tinha acabado de limpar!

– Ah! Mas a gente tava numa euforia que só queríamos alcançar nosso quarto e voltar a sonhar com os palcos.

– Nosso palco sempre foi a rua...

– Mesmo assim, só de se imaginar num palco de verdade bastava, pelo menos pra essas duas crianças da foto.

– É verdade! Mas tô olhando aqui sua estampa...

– Ih! Já vai me aloprar...

– Não, só tava vendo como você era fofinho... rsrsrs

– Sei... gordinho, você quer dizer?

– Pra mim, sempre foi fofinho, depois que espichou e emagreceu...

– Perdi a graça?

– Claro que não! Você acha que o irmão da Nina aqui vai perder a graça algum dia?

– Ahahaha... concordo, somos charmosos desde pequenos.

– Mas, Juan, me diz uma coisa... quando você se olha no espelho você vê esse menininho?

– Vejo um carinha que teve uma infância criativa e muito alegre e sinto que ele continua aqui! E você quando olha no espelho vê essa menininha bochechuda e de olhos grandes?

– Ahahaha... não tenho tanta bochecha, mas aquela menina está aqui sim!

– Os olhos grandes continuam...

– Pois é... mas são bonitinhos... ahahaha...

– Claro que são! A irmã do Juan aqui tem olhos lindos desde pequena! E continua cantando muito bem...

– ... nas ruas!

– Qual o problema, Nina? Rua é o que mais tem em uma metrópole! Nosso palco é amplo!

– Fico triste, Juan, porque você é um músico estupendo e eu devo ter atrapalhado sua carreira... se você tivesse aceitado aquele convite...

– Convite? Pra abandonar minha irmãzinha sozinha nas ruas? Nem pensar!

– Mas eu não era, nem sou tão boa cantora como você é um artista completo.

– Para com isso! Fomos, somos e continuaremos sendo uma dupla mais do que dinâmica!

– Você sendo sempre mais otimista que eu...

– Sou apenas menos preocupado que você! Olha, tá juntando gente! Guarda essa foto, vamos começar nossa apresentação! :)

* A delicada e expressiva ilustração que me inspirou a escrever essa crônica garimpei do talentosíssimo quadrinista Jordi Lafebre, que autorizou, mais uma vez, que eu publicasse seu trabalho aqui em meu querido blog! Gracias, Jordi!

sábado, 5 de outubro de 2024

Uma menina punk

Sabe quando você gosta da capa de uma HQ? Pois é, com Superpunk, de Guilherme Petreca e Mirtes Santana, foi assim! Logo que a Editora Pipoca e Naquim anunciou a pré-venda fiquei muito curiosa!

A história tem como protagonista Violeta, uma menina de 13 anos que anda caindo do skate... rsrsrs... pois é, ela não é das melhores, e vive pra lá e pra cá com o walkman herdado de seu avô, ouvindo punk rock! 

Uma garota, aparentemente normal, que vai à escola, de skate, claro... Violeta vive altas aventuras com seu amigo Alan. Só que algo acontece quando ela toca uma fita cassete ao contrário e, a partir daí, se transforma na heroína mascarada Superpunk que... ah... não vou contar mais nada, mas garanto que vale a pena descobrir o que acontece!

Quando comecei a ler, na hora, lembrei de uma menina chamada Gisele (eu mesma... rsrsrs), que também adorava seu walkman e curtia ouvir suas músicas preferidas sempre em movimento pelas ruas de São Paulo... uhuuuuuu... por isso, tambem adorei esse lado retrô da personagem! 

Importante dizer que é uma aventura radical, mas também trata de temas relevantes como crescimento, amizade, autoconhecimento, confiança e a necessidade de se rebelar! Viva as HQs, os roteiristas e quadrinistas brasileiros! :)

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Uma leve consciência ecológica

– Ontem, quando eu coloquei a bolsa de gel pra amenizar a pancada que dei na perna, fiquei pensando...

– Que bom!

– Não seja engraçadinho... quer saber o que eu estava pensando?

– Fala logo, rainha das longas introduções!

– Tá bom, vamos direto ao assunto antes que eu alcance aquela cadeira...

– Ahahaha... nem vem!

– Eu tava pensando que as coisas que facilitam a vida do ser humano sempre fodem o planeta!

– Olha a boca, menina, pode ter crianças na sala...

– Não vou cair nas suas piadinhas, a minha linha de pensamento é séria. Minha avó e minha mãe usavam aquela bolsa de água quente normal, de borracha, que durava pra caramba. E o mais importante, dentro, a gente colocava água, não tinha um gel que deve ficar sei lá quantos anos pra desintegrar, sem contar o plástico que lasca com a Natureza.

– Concordo, mas você tem que dar o braço a torcer... aquecer a bolsa de gel no micro-ondas é mais fácil que esquentar água e encher a de borracha que costuma dar aqueles respingos na mão...

–  Mesmo assim é o que pensei... muita facilidade só...

–  Chega de palavrão! Já entendi. Então, na volta pra casa, vou passar na farmácia e comprar uma daquelas bolsas da Era Paleolítica!

– Não perca seu tempo, nós já temos uma...

– Temos? E onde está?

– Na gaveta de primeiros socorros, no banheiro.

–  E por que você não usou a tradição?

–  Por que estava com dor e era mais fácil usar a de gel.

–  Aí veio outra dor, a da consciência... entendi!

– Prometo que quando a de gel vencer, volto a usar a tradicional!

– Lamento informar que a tradicional também tem validade e se a gente não usa faz tempo, aliás, eu nem sabia que a nossa existia, a borracha pode estar grudada e aí não tem jeito.

– Mas ela dura mais e faz menos mal ao meio ambiente...

– Tá, então, vou jogar fora a de gel!

– Peraí... não faça isso, hoje à noite tenho que usar...

– Ah! Que beleza, ela só quer cuidar do planeta depois que sumir o roxo da perna?! Que consciência ecológica!

– Por acaso, você vai me ajudar?

– Você precisa de ajuda pra colocar água pra ferver?

– Insensível... preciso de ajuda para encher a bolsa de água quente...

– Quer que eu procure um tutorial na internet, jovem?

– Ahahaha... tá bom, confesso que nem ia comentar com você porque não teria como explicar o fato de que optei pelo mais fácil que fode o planeta!

– Ahahaha... tá bom, vamos refletir mais sobre esse assunto e adotar medidas mais ecológicas em nosso lar!

– Agora?

– Como agora? Consciência ecológica não é chá que a gente toma e tá tudo resolvido.

– Ahahaha... não fala assim que pressiona os chás, nem sempre eles resolvem tudo, apenas amenizam as dores, às vezes, físicas, às vezes, emocionais!

– Um a zero pra você, não sei mais o que dizer... só sentir.

– Ah! Assim você me deixa sem chão...

– Jamais! Pode cair em cima de mim... ahahaha...

– Bobo! :)

sábado, 28 de setembro de 2024

O herói mascarado de Eisner

A obra de Will Eisner é realmente inspiradora, com belos roteiros e personagens bem construídos, é considerado um dos quadrinistas mais influentes da Nona Arte. Em junho, fiz uma publicação sobre algumas de suas obras, adoro! 

Agora quero falar sobre Spirit, o herói mascarado, criado em 1940. A coletânea, publicada pela JBraga Comunicação, em comemoração aos 80 anos do personagem, traz nove histórias, inclusive a que conta como o criminólogo Denny Colt se tornou Spirit, temido pelos bandidos de Central City. 

A que mais gostei é "Ouro", uma mistura de faroeste, mistério e aventura, mostrando toda a genialidade de Eisner ao criar ambientes, tramas e ilustrações, resultando em histórias que envolvem o leitor a cada quadrinho!

Achei interessante também os depoimentos, que precedem cada uma das nove HQs, assinados por profissionais renomados da indústria dos quadrinhos. Eles trazem detalhes da forma como Eisner trabalhava, sobre a criação de Spirit e reiteram a admiração que têm pelo artista que, além de ser considerado o pai das HQs, popularizou o termo graphic novel quando publicou, em 1978, o álbum "Contrato com Deus e outras histórias de cortiço"! 

Só faço uma ressalva, embora respeite muito o trabalho dos artistas que colorizaram cinco histórias, confesso que prefiro Spirit em p&b! Mas qualquer publicação com obras de Eisner vale a pena! Viva os clássicos das histórias em quadrinhos! :)

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

De repente...

Um helicóptero passa zuncando por sobre a casa. Ela nem imagina quem poderia ser, então, continua fazendo o ponto de tricô mais complicado do Universo. Nada podia tirar sua atenção, mas aquele ruído, estava agitando seu pensamento. E, mais uma vez, ele passa, mas desta vez parece tão próximo que ela chega a pensar que vai aterrissar em seu quintal, já que o telhado está longe de ser um heliporto. Com a curiosidade aumentando aos poucos, mas ainda controlada, ela continua dando as laçadas, resmungando, apreensiva, para não perder o ponto.

O som se distancia e ela se concentra no tricô. Que ótimo! Só mais umas 10 laçadas e seu cachecol começa a se tornar realidade. Ainda está curto, mas bem adiantado. Ao todo devem faltar uns 30 centímetros pra concluir o trabalho, que, se der certo, será o primeiro de muitos que virão… e sua loja poderá, realmente, sair do papel, quer dizer, loja não, a portinha que herdou de sua avó confeiteira. Na época, a polêmica se instalou porque alguns familiares queriam que ela seguisse a culinária, mas não houve jeito, sua praia é mesmo o artesanato, especificamente o tricô! De repente, seus devaneios são interrompidos pelo som do helicóptero. Zangada, ela coloca as agulhas e o projeto de cachecol na cestinha de vime e vai até a janela. Uau! Como dizem, está um céu de brigadeiro! Azul anil, cintilante, sem qualquer nuvem, e o vento trazendo um aroma de baunilha. Ela respira fundo e quando olha para cima de novo, vê um cesto descendo do helicóptero, que se aproxima, lentamente, de seu quintal. As árvores envergam, a grama se achata e sua feição se torna cada vez mais aterrorizada! O que é isso, pergunta ela. Um ataque inimigo? Mas qual inimigo? Estou sempre na minha, nem tenho saído de casa, ando tão reclusa produzindo meus cachecóis!

Irritada, ela aperta os olhos para tentar ver quem se aproxima, mas não consegue… miopia é isso, à distância todos são um só… borrão! Ahahaha… que bom que ela ainda consegue rir de si mesma num momento de tensão como este. Com o medo falando mais alto, ela corre até a área de serviço e pega uma vassoura de piaçava, pelo menos, pode tentar dar umas pauladas, caso seja necessário se defender. O instinto de sobrevivência, quem sabe, a orientará na hora certa, afinal, ela nunca deu nem um catiripapo em ninguém, quanto mais pauladas.

De vassoura em punho, ela tem os olhos pregados no cesto do helicóptero, que paira sobre seu quintal. Quem será? Será que errou de endereço? Eu não estou esperando ninguém pelos ares, nem que um homem caia do céu pra mim… ahahaha. Rindo de nervoso, ela agarra o cabo da vassoura com força e dá um gemido, daqueles bem sentidos. Não acredito, isso é hora de uma farpa resolver espetar meu dedo? Se fosse só espetar, mas pela dor aguda, deve ter enfiado na pele, mas agora não posso pensar nisso, aguenta aí dedo, tenho que descobrir o que quer essa visita inoportuna. Neste momento, o helicóptero baixa mais um pouco, provocando uma enorme ventania, que faz com que seu lenço de cabeça se desamarre e saia voando pelo quintal, sorte que foi contido pelo galho de uma de suas árvores. Pelo menos, não se perdeu por aí. A cesta aterrissa, delicadamente, no gramado e ela fica impressionada com o que vê. O leitor deve estar pensando, um ET! Não, não parecia um extraterrestre, mas pela beleza poderia ser definido como “de outro mundo”. 

Com um sorriso enorme no rosto, ele sai do cesto com um envelope azul em uma das mãos e uma mochila na outra. Sem conseguir segurar a curiosidade, ela pergunta, com a voz trêmula: quem é você? Eu te conheço? Mais um sorriso iluminado se abre, marcando covinhas encantadoras no rosto dele. Você me conhece? Sou fruto de sua imaginação! Como assim? E o helicóptero? Também! Não estou entendendo, por acaso, essa farpa no dedo e meu lenço agarrado na árvore são minha imaginação? Não fique nervosa. Eu não estou nervosa, só quero entender o que está acontecendo! Será que minha vizinha de quase um século de vida me deu um bolinho batizado hoje pela manhã? Claro que não! Não tem nada claro pra mim, aliás, tá tudo nublado. Não estou entendendo… peraí… cadê o helicóptero? Ele abre os braços, encolhe os ombros e dá um sorriso sem graça. 

Ao fundo, a voz de sua mãe interrompe a conversa. O som da televisão está tão alto que parece que esse helicóptero tá sobrevoando nossa casa! Abaixa isso, menina! A mãe aparece na porta da sala segurando a forma do famoso bolo de maracujá e ela fica estarrecida, não pela sobremesa que exala um aroma delicioso pelo ambiente, mas pelo fato de tudo aquilo ter sido… Desculpa, mãe, não percebi que a TV estava com o som tão alto. Como consegue se concentrar no tricô desse jeito? Que cara é essa, menina? Nada... só minha imaginação fértil atacando de novo! :)

* O delicado e despretensioso desenho que ilustra esta crônica encomendei do meu irmão Gé (Gerson Donato)! Obrigada pela gentileza e parceria ❤️

sábado, 21 de setembro de 2024

As aventuras de Tintim na Lua


Estas são as duas primeiras histórias que leio da série "As Aventuras de Tintim". O tema definiu minha escolha... adoro a Lua e por isso resolvi que seria com esses volumes que iria mergulhar no mundo do personagem icônico, criado pelo belga Hergé. Publicadas no início dos anos 1950, muito anos antes da primeira expedição à Lua (1969), as HQs mereceram muita pesquisa do autor para que o enredo fosse bem construído e ao mesmo tempo divertisse o leitor. O bom-humor está presente ao longo das duas historias, inclusive, nos momentos mais tensos e arriscados. 

Hergé criou um estilo que se tornou referência e revolucionou os quadrinhos na Europa e influenciou artistas ao redor do mundo. Não é à toa que a Bélgica é a terra de grandes artistas da Nona Arte, onde os quadrinhos ganharam, em maio deste ano, o status de patrimônio imaterial de Bruxelas, capital belga, que abriga o Museu da História em Quadrinhos.

Em "Rumo à Lua", Tintim e o Capitão Haddock são convidados pelo professor Girassol a irem para Sildávia, onde está desenvolvendo um projeto ultrassecreto do governo: a construção de um foguete que levará tripulantes à Lua! Surpresos, Capitão Haddock, o repórter Tintim e seu cachorrinho Milu descobrem que serão, ao lado do próprio professor, os tais tripulantes, a partir daí a historia se desenrola. 
Gostei muito da dinâmica da narrativa, com informações técnicas reais e pitadas preciosas de bom-humor! Não vou contar mais detalhes, mas Hergé sabe como fisgar o leitor. Tanto que fiquei curiosa para ler o próximo volume!

Já em "Explorando a Lua", após enfrentarem várias tentativas de boicote à viagem, Tintim e companhia conseguem partir rumo ao satélite natural. Mas nem imaginam como a aventura, que por si só já seria tensa, terá lances de perigo e trapalhadas, inclusive a descoberta da presença de tripulantes inesperados e não menos atrapalhados. Além de ser uma leitura fluida e emocionante, o leitor se depara com informações técnicas impressionantes sobre uma expedição do homem à Lua, mesmo tantos anos antes de acontecer de fato. Em resumo, posso dizer que as aventuras de Tintim na Lua são diversão mais que garantida, com roteiro muito bem construído e cores encantadoras! Viva Hergé e sua arte! Viva as HQs que nos proporcionam viagens incríveis e inspiradoras! :)

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Um clássico das tirinhas brasileiras

Criador da revista Fradim, o cartunista, quadrinista, jornalista e escritor Henfil (Henrique de Souza Filho) revolucionou as tirinhas e soube driblar as dificuldades, fazendo o leitor rir, sem jamais deixar de alfinetar a política, a religião e as desigualdades sociais, durante os sombrios anos da ditadura militar. 


Com os personagens Fradim e Cumprido,  o cartunista ironizava a religião e seus tabus. Desbocado, cruel e provocador, Fradim está sempre debochando das culpas de Cumprido. Mas a tirinha abaixo, com a qual dou muitas risadas toda a vez que leio, mostra uma das poucas situações em que Cumprido leva a melhor... ahahaha! 



Já, no Alto da Caatinga, o trio de personagens formado pelo cangaceiro, Capitão Zeferino,  a simpática e representativa Graúna e o intelectual Bode Orelana, que come livros, jornais e revistas. O trio rende boas risadas, mas, acima de tudo, muitas reflexões, mostrando a desigualdade social que assolava o Brasil dos anos 1970, em plena ditadura militar; desigualdade essa que, infelizmente, continua severa até hoje. Na tirinha acima, Graúna deixa Zeferino e Orelana surpresos quando diz sentir que, finalmente, vai voar: "Quero que o vento histórico me erga do solo e me faça planar sobre a alegria dos Maracanãs, Morumbis, Mineirões...". Ah! Henfil não dava ponto sem nó... as entrelinhas eram sempre significativas! 
Viva a arte de Henfil! Viva a democracia que nos possibilita a livre expressão e a realização de sonhos! :)

* Dos números de Fradim que aparecem na primeira foto, comprei apenas o número 1, os demais ganhei de presente do meu irmão Gé, inclusive, o número 20, Fradim Mulher, adoro... ahahaha... ❤

sábado, 14 de setembro de 2024

Cowboy das HQs

Lucky Luke é um destemido e simpático cowboy, criado pelo belga Morris, com roteiro do francês Goscinny (sim, o mesmo roteirista do maravilhoso Asterix... adoro!). Ah... são as grandes parcerias franco-belgas, desde sempre, criando obras clássicas da Nona Arte e encantando leitores, de todas as idades, mundo afora! 
Esta coletânea, de 1959 - 1960, traz as histórias: "Subindo o Mississipi", "Na pista dos Dalton", "À sombra dos Derricks". Muito divertidas! Lucky Luke e seu cavalo, Jolly Jumper, são um charme e estão sempre prontos para enfrentar qualquer situação! A leitura é fluida, a narrativa de Goscinny é temperada por muita aventura e humor e a arte de Morris é dinâmica e envolvente!

"Subindo o Mississipi" conta a história de dois capitães que disputam o monopólio da circulação no Rio Mississipi e decidem organizar uma corrida com seus barcos. A disputa é acirrada, Lucky Luke ajuda o Capitão Barrows, em seu barco Daisy Belle, contra as investidas do Capitão Lowriver. Os personagens secundários são tão ricos que poderiam ter suas próprias histórias... rsrsrs... como o piloto do Daisy Belle e seu assistente sempre oferecendo um café! 

Em "Na pista dos Dalton", como sempre os irmãos Dalton fogem da prisão e Lucky Luke tem que recapturá-los! Mas o toque especial desta aventura é a ajuda que o cowboy recebe... a companhia de Ran-Tan-Plan, o cachorro mais atrapalhado do Oeste! Ahahaha... ele protagoniza momentos muito divertidos e mesmo sendo pouco ou nada eficiente, Lucky Luke aceita sua companhia. Já seu cavalo Jolly Jumper não acha a ideia interessante, o que também resulta em cenas divertidas!

"À sombra dos Derricks" gira em torno do petróleo, que até então não tinha valor de mercado até o dia em que se descobriu era um ótimo combustível. A partir daí, a pacata cidade de Titusville se vê sendo invadida por muitas pessoas atrás do chamado ouro negro, inclusive, Barry Blunt, um bandido que tenta se apossar dos poços de petróleo, quando entra em ação o astuto e corajoso Lucky Luke para por ordem na bagunça... rsrsrs...

Adoro o personagem e suas aventuras! É sempre bom ler e reler Lucky Luke, o problema é driblar a vontade de comprar os outros volumes da coleção! Viva as HQs clássicas que inspiram novos roteiristas e artistas! :)

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Pelas ruas da doce Paris

Pierre anda a passos lentos, ora olhando ao redor, ora pensando na vida. Sempre gostou de caminhadas solitárias. Quando criança, na hora da brincadeira, se não fosse dos primeiros escolhidos, o que acontecia com alguma frequência, logo tentava se afastar, na maioria das vezes com êxito, para caminhar pelas ruas. Gostava de ser pedestre, mesmo quando os amigos chamavam para um passeio de bicicleta, recusava dizendo que o primo a tinha levado, eram sócios na magrela. 

Claro que ele gostava de brincar e conversar com os amigos, mas tinha dia que preferia observar a vida e/ou refletir consigo mesmo. Ao longo dos anos, continuou gostando desses momentos de caminhada, que durante a faculdade e início da vida profissional ficaram mais espaçados. 

Aí vieram as atribulações da fase adulta e ele se tornou um entre milhões de robotizados, que sobrevivem de casa para o trabalho, do trabalho para casa, e, nos  finais de semana, comparecem às convenções familiares e sociais. Com tantas obrigações e responsabilidades, aos poucos, as libertadoras caminhadas solitárias foram rareando. 

Até que chega à velhice e sua vontade de caminhar volta com força, levando-o ao encontro daquele menino que adorava driblar qualquer situação pra assumir seu lado andarilho pelas ruas de Paris! Hoje, quando sai de casa, não precisa mais arrumar desculpas ou despistar ninguém, tampouco vai sozinho, leva sua bengala como companhia e dispõe de inúmeras lembranças que desencadeiam incontáveis reflexões! :)

* A foto que ilustra esta delicada crônica fiz quando visitei a cidade-luz (dezembro de 2015) e pude admirar a beleza de suas ruas e seus elegantes moradores, como esse senhor que tive a sorte de registrar! Merci, Pierre!

sábado, 7 de setembro de 2024

Momento Mafaldinha!

A Mafalda sempre me divertiu com sua inteligência e seu visual de menininha sapeca... rsrsrs... aqui mesmo já escrevi sobre ela (abril/2021), quando li o "Toda Mafalda", livro que reúne as tirinhas da pequena contestadora! Foi quando achei que tinha comprado a obra definitiva da menina criada por Quino. Mas aí, conversando com meu irmão Gé, descobri que havia outra obra chamada "Mafalda inédita", que reunia as tirinhas que não foram publicadas em nenhuma coletânea... e, na hora, fiquei com vontade de comprar. 

Passado um tempo dessa conversa, eis que me deparo com a notícia de que uma escultura igual a que tem em Buenos Aires (do artista argentino Pablo Irrgang) seria colocada na Livraria Martins Fontes, na Avenida Paulista... Ah! Sempre tive vontade de ir a Buenos Aires só pra sentar no banco ao lado da Mafaldinha... não fui, mas ela veio... ahahaha... e num sábado despretensioso, fui até a livraria e tive o prazer de me sentar ao lado de uma das mais importantes personagens das histórias em quadrinhos! Fiquei tão animada que, depois de registrar o momento em foto, entrei na livraria, decidida, e comprei as inéditas... rsrsrs... e como valeu a pena!

Além de contar os primórdios da personagem, o toque especial da obra são os textos narrando momentos marcantes da historia da Argentina e do mundo, ocorridos nos anos 1960/1970, contextualizando as tirinhas.
Viva a poderosa arte dos quadrinhos! :)

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Voar


Quando vejo o sobrevoo de pássaros em meio aos prédios fico imaginando como deve ser difícil pra eles avistarem uma árvore aqui e outra lá. Às vezes, voam sem ter um galho onde descansar e se abrigar do sol ou da chuva, muitas vezes, sobram-lhes os telhados das edificações que nem sempre são amigáveis. Mesmo assim continuam felizes pairando pela tarde ensolarada. São felizes porque voam naturalmente, asas abertas acompanhando o vento, ora planando, ora em voos rasantes. 
Triste das pessoas que não procuram ouvir o canto dos pássaros em suas rotinas estressantes. E pra quem diz nem se lembrar que eles existem, peço que se voltem às belezas naturais, estou sempre apurando os olhos para encontrá-los em suas revoadas ou pousados, como pinturas, nos galhos das benditas árvores que nos dão sombra e sossego. Adoro ouvir suas delicadas conversas cantadas, isso acalma, alegra a alma e nos humaniza. Experimentem! O mundo está precisando de paz e amor, porque “todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão… Eu passarinho!”, já dizia o doce e grande poeta Mario Quintana. Viva a poesia, a sagrada Natureza e a sutileza dos pássaros! :)

*A foto que ilustra esta singela crônica é de minha sobrinha, que, sensível como a tia... rsrsrs, adora admirar e registrar pássaros de sua janela! Obrigada, Fe ❤ (Maria Fernanda, minha querida futura arquiteta)!

sábado, 31 de agosto de 2024

O amor está no ar


"Suzette ou o grande amor", do quadrinista francês Fabien Toulmé, é uma doce e divertida narrativa sobre relacionamentos amorosos e seus desafios. 

Admirador dos quadrinhos franco-belgas clássicos, como Tintin, Lucky Luke e Asterix, Toulmé nos brinda com a história de Suzette, uma senhora de 80 anos que, após ficar viúva, decide viajar para a Itália, ao lado da neta Noémie, em busca de um amor do passado.


Noémie trabalha em uma floricultura e namora com Hugo, estudante de Psicologia. Depois de seis anos de relacionamento, os dois resolvem morar juntos, mas as coisas não são tão fáceis. Então, as duas resolvem embarcar em uma viagem de Bourdeaux rumo a Portofino para tentar encontrar Francesco.

As ilustrações leves e divertidas, em tons suaves, embalam o leitor nessa viagem que aproxima ainda mais avó e neta. Duas mulheres, de gerações diferentes, ensinando uma a outra sobre as sutilezas dos relacionamentos amorosos, cada uma do seu jeito, apoiando uma a outra e entendendo os receios uma da outra. Impossível não refletir ao longo das páginas. Bela leitura! :)