quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Estação das flores

A casa é a mais florida da rua, talvez do bairro todo. A janela do quarto, emoldurada por uma bela árvore, parece se abrir gentilmente, como um sorriso. 
As flores coloridas,  iluminadas pelo sol da manhã, tornam-se mais atraentes para abelhas e beija-flores, que fazem a festa! No peitoril, a floreira dá ainda mais graça ao cantinho. 

A primavera é, definitivamente, a estação preferida dos donos da casa. Tudo bem que o casal também gosta do inverno, oportunidade pra assistir filmes enrolados no cobertor ou saborear um bela sopa. Do outono, pra caminhar pelas alamedas, pisando, delicadamente, no tapete de flores e folhas caídas das árvores. Do verão, pra aproveitar a alegria infantil de passar as tardes tomando banho de mangueira, mesmo que, oficialmente, apenas lavando o quintal.

Mas nada se compara à primavera e seus encantos! Não é à toa que eles ostentam o título da casa mais florida do bairro, são tão apaixonados por flores e plantas que adoram doar mudinhas para os vizinhos... o sonho do casal é espalhar o amor pela natureza para transformar a cidade num enorme jardim, ou bosque, ou pomar, ou tudo isso junto. Até a bicicleta costuma ter flores frescas em sua cestinha e estar sempre a postos, esperando os dois para um passeio tal qual Paul Newman e Katherine Ross na icônica cena do filme Butch Cassidy and Sundance Kid, ao som de "Raindrops keep falling on my head", na doce voz de B. J. Thomas.
Uau, que charme! Salve a primavera, as belas canções e os clássicos do cinema! :)


* A delicada ilustração em aquarela que me inspirou a escrever esta crônica é do amigo Gustavo Miranda! Obrigada pela parceria e generosidade... ❤️

sábado, 26 de outubro de 2024

Pequenas tensões cotidianas

– Tem umas coisas que classifico como pequenas tensões do dia a dia!

– Tá inspirada!

– Desculpe, mas preciso registrar esses pensamentos...

– Vai escrever? Quer bloco e caneta? Notebook? Tablet?

– Nada disso, vou lançar ao vento mesmo!

– Você tá bem? Alguém te ofereceu alguma bebida ou balinha estranha quando foi à padaria?

– Você que foi à padaria, querido!

– Ahahaha... é verdade! Até esqueci!

– Posso continuar com minhas reflexões?

– Pode, desde que externe o que está pensando, o vento e eu estamos curiosos aguardando!

– Ahahaha... bobo! São coisas que podem passar despercebidas para muitas pessoas, mas que me intrigam.

– Coisas que te intrigam? Não sei a do vento, mas a minha curiosidade já tá está gritando!

– Engraçadinho! A primeira delas: uma recomendação nas costas da poltrona da frente, no avião: "use o assento para flutuar". Incrível, a gente entra no avião pensando em voar e o banco da frente nos lembra que podemos ter que pensar em nadar! Que coisa tensa!

– Também acho! Mas o tema é avião?

– Não... por quê?

– Calma! É que falando em avião lembrei...

– Peraí, as reflexões sobre tensões do dia a dia são minhas e detalhe: você concordou!

– Nossa, mas o negócio é sério mesmo. Pensei que seriam colocações aleatórias e que pudéssemos compartilhar impressões...

– Adorei o discurso, mas só falei a primeira e você já quer tomar meu lugar no púlpito das tensões!

– Ahahaha... púlpito das tensões parece nome de novela!

– Posso continuar?

– Claro... o púlpito é todo seu, querida!

– Segunda... placas com a inscrição: Sorria, você está sendo filmado! É patético, basta avisar que estão nos filmando, pra que ficar sugerindo pra gente sorrir?

– Sorrir é bom pra relaxar... e se preferir, sorria e acene!

– No caso de câmeras de segurança, é melhor não acenar porque pode configurar atitude suspeita, melhor evitar... ahahaha!

– É mesmo... ahahaha!

– A terceira, pra sua alegria também envolve avião!

– Tá vendo? Sabia que devia ter mais sobre o tema!

– Deixa de ser metido, eu tinha um roteiro sobre as tensões, você é que quis atrapalhar minha performance!

– Jamais, só que conheço muito bem você e sei que devia ter mais tensões relacionadas.

– Tá bom, você ganhou! A terceira e que abomino é o momento em que a comissária demonstra como se deve colocar a máscara de oxigênio em situação de emergência.

– Pois é... e ensina com uma calma, inversamente, proporcional a uma situação de emergência!

– É irritante aquela cara blasé, fazendo tudo em câmera lenta. 

– O condenado deve ser escolhido por sorteio, porque é uma situação constrangedora, principalmente, porque a maioria dos passageiros nem olha na direção de quem está explicando.

– Eu até olho, mas não o tempo todo! Outra coisa que lembrei agora é gente que senta na janela e fecha a danada durante todo o voo, enquanto quem está no meio e até no corredor tá louco pra ver as nuvens, a chuva, a cidade, qualquer coisa, nem que seja a asa do avião! Mas esse tipo de gente parece criança birrenta! 

– Ahahaha... definiu bem! Agora, tem situação mais tensa que a hora do embarque? Aquela corrida para colocar a mala de mão no compartimento de bagagem, todos ansiosos, parece que se não guardar logo, a tripulação vai jogar tudo fora... ahahaha... 

– Ahahaha... é  assim mesmo! Agora, tá liberado pra falar suas tensões, amor!

– Ah! Obrigada, querida! O embarque só não é mais irritante que o desembarque, basta a aeronave aterrissar que todos começam a querer levantar de uma vez, ignorando os avisos pra ficar sentado cada um no seu lugar. É um desespero! Aí começam a abrir os compartimentos, todos ao mesmo tempo! E ficam amontoados, no corredor estreito, malas, mochilas e seus donos descompensados disputando pra ver quem sai primeiro!

– Arrasou com suas tensões... mais alguma?

– Tô satisfeito! Agora, só tem uma coisa que me deixa mais tenso do que tudo isso que falamos...

– O quê?

– Os dias em que vamos pedir comida por aplicativo... é a maior tensão olhar aquele cardápio com um mundo de opções e não saber o que escolher...

– Tá dando uma de irônico? Não acredito que, mais uma vez, vai dizer que sou indecisa! 

– Imagina! Pra provar que isso nao reflete a realidade, vamos pedir uma pizza? Mas tem que ser metade de cada sabor... valendo!

– Seu irritante, para com isso... não vou escolher nada!

– Olha a tensão!

– Palhaçada! :)

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Tensão em Paris

Mais uma HQ assinada pela talentosa e criativa dupla Lafebre e Zidrou, "A Mundana" acontece, nos anos 1940, em uma Paris ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Desde a primeira cena, que mostra parisienses enfrentando o bombardeio e o toque de recolher imposto pelas forças de ocupação, já dá pra perceber a qualidade do que temos em mãos, tanto pelo roteiro quanto pela arte, e o que podemos esperar ao longo das páginas dessa ficção com belas pitadas de História!  

A narrativa envolvente nos apresenta personagens comuns que tentam seguir a vida em meio aos bombardeios e à tensão que a cidade luz vive. O protagonista é o inspetor Aimé Louzeau, que trabalha na Vicios, uma brigada policial de Paris, que combate prostituição e drogas. Em uma das operações, ele se depara com a taitiana Eeva (com "e" duplo), que ilustra a capa da HQ e dá um toque de mistério à trama.  Ainda que seja uma história marcada por momentos de violência, como em todo roteiro de Zidrou, há espaço para o humor refinado e personagens bem construídos e de uma tocante humanidade.


Para completar, tenho que dizer, mais uma vez, como me encanta a arte de Jordi Lafebre. Seu traço é de uma beleza impressionante, criativo e divertido na medida certa. Cada página é uma obra de arte, com suas nuances de cor, acompanhando o ritmo da história... cenários ricos em detalhes... cada personagem tem seu charme. Ah! Sou fã mesmo e toda a HQ que ele assinar faço questão de colecionar! Viva os roteiristas e ilustradores que tanto me inspiram! :) 

sábado, 19 de outubro de 2024

Um doce vilarejo

Faz tempo que não escrevo sobre alguma música aqui em meu querido blog. Mas esta semana, em um dos momentos em que procurei aconchego, me atentei a “Vilarejo”, de Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Pedro Baby. Que linda canção que me emociona cada vez que ouço, principalmente, esta apresentação ao vivo dos Tribalistas (video que compartilho pra sonharmos juntos... rsrsrs)! Adoro! É delicada ao falar de coisas simples e preciosas! É de uma beleza esperançosa que me animou, me inspirou... quase saí dançando, rodopiando de braços abertos! Já conhecia essa música, mas como tudo tem sua hora, neste momento, ela me tocou!

Gosto dos Tribalistas... da potencia sofisticada de Marisa, da intensa sonoridade de Brown e da poesia pungente de Arnaldo... como não gostar do que eles e seus parceiros produzem?


Engraçado que escrevi uma crônica há alguns meses, mas postei só nesta quarta-feira e agora vejo como minha “Cidadezinha” é irmã do “Vilarejo”, porém, enquanto a minha é modesta crônica, a deles é bela canção! 

“Lá o tempo espera, lá é primavera. Portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar. Em todas as mesas, pão, flores enfeitando os caminhos, os vestidos, os destinos e essa canção...” Ah! Sou só aplausos e lágrimas, emoção de quem adoraria ter um teto nesse vilarejo de amor! A beleza de certas canções pode deixar o dia mais leve, amenizar as preocupações e me fazer sonhar ainda mais... que perigo... ahahaha... Viva a música e os grandes artistas brasileiros! :)

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Cidadezinha

Era uma vez uma cidadezinha com bairros repletos de casinhas de cores variadas e janelas de madeira. Todas com quintal e jardim de roseiras e buchos, aqueles arbustos que parecem pequenas arvorezinhas, que despertaram muito a criatividade da Gi criança… rsrsrs… mas isso é outra história! Na frente, terraço com muretas baixas, samambaias penduradas no teto, derramando beleza e frescor aos privilegiados que descansam nas cadeiras de vime que completam o ambiente.

Delimitando os terrenos, cercas e portões de madeira baixinhos pra todos que passam na calçada poder admirar as rosas bem cultivadas e as toalhinhas de crochê na mesinha de vime no terraço. Duas portas de entrada, a da frente elegante, forte, de madeira nobre, sempre fechada a chave, garantindo a tranquilidade da sala de estar. No quintal do fundo, a porta da cozinha permanece aberta durante todo o dia, com sua cortininha de plástico esvoaçando e os aromas de bolo, assados e aquele cafezinho sempre fresco.

Ainda no fundo do quintal, um abacateiro pra dar a sombra agradável tanto pra quem quer brincar no balanço, como pra quem quer, simplesmente, sentar e ler em sua companhia. Num cantinho, uma horta com temperos, ervas, legumes e verduras. Sem esquecer do pequeno pomar com uma jabuticabeira, uma romãzeira e uma goiabeira, de onde sai a matéria-prima da goiabada mais gostosa das galáxias!

Bem sinalizadas com guias, permanentemente, pintadas de branco, as alamedas são tomadas por bicicletas, que dividem espaço com as senhorinhas e seus carrinhos de feira e poucos carros, principalmente, usados para os serviços públicos, além de um ou dois abastados habitantes da cidade que não conseguem resistir ao ronco dos motores e teimam em poluir o ar e a beleza do lugar, mas isso também é outra história!

As ruas de comércio, no centro da cidade, formam um quadrilátero em volta da praça principal. As lojas, muito bonitinhas com suas portas de madeira e vitrines iluminadas, vendem de um tudo, de alimentos a material para construção, de medicamentos a ração animal, de flores a itens de papelaria. São padarias, cafés, lavanderias, farmácias, docerias, bares, restaurantes, lanchonetes, lojas de ferragens, salão de beleza, barbearia.

Na praça principal, um coreto, onde a banda municipal costuma tocar em datas especiais e, aos sábados e domingos, à tarde. O Jacarandá-paulista, símbolo da cidade, divide a praça com dois ipês, um amarelo e um rosa, além dos arbustos, ladeados por passeios de pedras e gramado impecável. Quatro bancos colocados estrategicamente em pontos isolados, garantem privacidade tanto para as conversas mais românticas, quanto as de trabalho ou pra fofocar… fazer o quê? É da vida… rsrsrs…

Bom saber que a cidadezinha tem praças menores e canteiros por todos os quarteirões de seus 10 bairros. A arborização é o charme do local e o xodó de seus moradores. Existem, sim, os jardineiros oficiais, que são funcionários públicos, mas todos os habitantes são responsáveis pelas plantas e árvores e cuidam como se fossem as de seus quintais, tudo formalizado por lei municipal de muitos anos atrás. Ou seja, a consciência ambiental é uma marca desse lugarzinho.

No lado norte da praça principal, a majestosa Biblioteca Municipal, com seus mais de 30 mil livros catalogados, oferece conhecimento, alegria e sonhos a seus frequentadores. A maioria dos moradores da cidadezinha é leitor voraz e tem na Literatura, em suas mais variadas formas, uma companheira para noites frias, tardes ensolaradas e madrugadas insones. Mas, acima de tudo, eles acreditam que a leitura transforma e conscientiza sobre as dores do mundo e as belezas da vida!

E, então, quer saber onde fica essa agradável cidadezinha? Em minha imaginação, misturada às lembranças da infância. Talvez essa cidadezinha seja minha forma de sonhar em meio a tanta tragédia climática nos quatro cantos do planeta, porque, parafraseando Legião Urbana, torço por um mundo onde o simples seja visto como o mais importante! :)

* A doce ilustração é do meu irmão Gé (Gerson Donato), um historiador que adora desenhar desde sempre... obrigada pela gentileza ❤️

sábado, 12 de outubro de 2024

Literatura aquarelada

Um dos maiores clássicos das histórias em quadrinhos, Moonshadow, de J. M. DeMatteis e Jon J. Muth, surpreende desde as primeiras páginas da narrativa, cujo personagem-título é um rapaz ingênuo, fruto do relacionamento de sua mãe, uma hippie terráquea, com um alienígena. O pai de Moon é da raça conhecida como Des-Mesus, esferas sorridentes que vivem abduzindo espécimes de todo o Universo! Não vou contar mais detalhes, porque a jornada fantástica é cheia de nuances e aventuras que valem a pena ser experimentadas durante a leitura!

Inocente, Moon conhece o mundo pelas narrativas da mãe e pelos livros que lê, mesmo assim resolve partir em uma jornada de descobertas, ao lado de seu gato, Frodo, e de Ira, um sujeito de reputação duvidosa, de quem quero falar mais daqui a pouco. Antes preciso dizer que uma das coisas que me encantaram foi a forma reverente com que DeMatteis cita suas referências na Literatura, como J. R. R. Tolkien. Logo me identifiquei, adoro a obra do criador de O Hobbit!

Enquanto Moon é sensível, gosta de livros, toca flauta, que ganhou de sua mãe, seu companheiro, o peludo e rabugento Ira, adora se meter em encrencas regadas a cerveja e sexo. Mesmo sendo esse problema em forma de criatura, Ira me chamou a atenção pela semelhança com o querido Chewbacca, o copiloto da nave Millenium Falcon e melhor amigo de Han Solo, da melhor saga das galáxias: Star Wars! Será que viajei muito? Ahahaha, mas quando a gente embarca nessa fantasia, o encantamento é garantido mesmo!

Na introdução desta edição definitiva, publicada pela editora Pipoca & Nanquim, DeMatteis fala como foi seu desenvolvimento como roteirista e como Moonshadow mudou sua vida criativa. Adorei o trecho: "Alguém (por mais que eu tente, não consigo lembrar quem) disse que a história na qual você está trabalhando nesse momento devia ser a única que vai escrever na vida: jogue ali tudo que pensa, tudo que sente, suas ideias e seus ideais, suas paixões e suas filosofias, seus sonhos e suas esperanças. Despeje ali cada gotinha da Pessoa Que Você É. Foi o que fiz em Moonshadow. Foi ali que... virei escritor"! Adorei essa entrega, não é à toa que produziu um clássico!  

Ah! O texto de DeMatteis é de uma criatividade envolvente, a cada capítulo, aumenta a curiosidade de acompanhar a jornada daquele rapazinho universo afora. Já a arte aquarelada de Muth é de uma beleza encantadora, delicada e, ao mesmo tempo, intensa. Moonshadow é um verdadeiro encontro de mestres! :)

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Artistas de rua

Ilustração: Jordi Lafebre
– Olhando essa foto, você tem noção que já se passaram décadas? Eu acho que eu tinha uns oito anos!

– Pois é, eu tinha 10 anos!

– Como é que pode? Você lembra quando essa foto foi feita?

– Ah! É o registro de nossa primeira apresentação! Voltamos pra casa tão animados, atropelando tudo que víamos pela frente!

– Ahahaha... é verdade, a mãe deu uma bronca e tanto porque a gente entrou espezinhando o chão que ela tinha acabado de limpar!

– Ah! Mas a gente tava numa euforia que só queríamos alcançar nosso quarto e voltar a sonhar com os palcos.

– Nosso palco sempre foi a rua...

– Mesmo assim, só de se imaginar num palco de verdade bastava, pelo menos pra essas duas crianças da foto.

– É verdade! Mas tô olhando aqui sua estampa...

– Ih! Já vai me aloprar...

– Não, só tava vendo como você era fofinho... rsrsrs

– Sei... gordinho, você quer dizer?

– Pra mim, sempre foi fofinho, depois que espichou e emagreceu...

– Perdi a graça?

– Claro que não! Você acha que o irmão da Nina aqui vai perder a graça algum dia?

– Ahahaha... concordo, somos charmosos desde pequenos.

– Mas, Juan, me diz uma coisa... quando você se olha no espelho você vê esse menininho?

– Vejo um carinha que teve uma infância criativa e muito alegre e sinto que ele continua aqui! E você quando olha no espelho vê essa menininha bochechuda e de olhos grandes?

– Ahahaha... não tenho tanta bochecha, mas aquela menina está aqui sim!

– Os olhos grandes continuam...

– Pois é... mas são bonitinhos... ahahaha...

– Claro que são! A irmã do Juan aqui tem olhos lindos desde pequena! E continua cantando muito bem...

– ... nas ruas!

– Qual o problema, Nina? Rua é o que mais tem em uma metrópole! Nosso palco é amplo!

– Fico triste, Juan, porque você é um músico estupendo e eu devo ter atrapalhado sua carreira... se você tivesse aceitado aquele convite...

– Convite? Pra abandonar minha irmãzinha sozinha nas ruas? Nem pensar!

– Mas eu não era, nem sou tão boa cantora como você é um artista completo.

– Para com isso! Fomos, somos e continuaremos sendo uma dupla mais do que dinâmica!

– Você sendo sempre mais otimista que eu...

– Sou apenas menos preocupado que você! Olha, tá juntando gente! Guarda essa foto, vamos começar nossa apresentação! :)

* A delicada e expressiva ilustração que me inspirou a escrever essa crônica garimpei do talentosíssimo quadrinista Jordi Lafebre, que autorizou, mais uma vez, que eu publicasse seu trabalho aqui em meu querido blog! Gracias, Jordi!

sábado, 5 de outubro de 2024

Uma menina punk

Sabe quando você gosta da capa de uma HQ? Pois é, com Superpunk, de Guilherme Petreca e Mirtes Santana, foi assim! Logo que a Editora Pipoca e Naquim anunciou a pré-venda fiquei muito curiosa!

A história tem como protagonista Violeta, uma menina de 13 anos que anda caindo do skate... rsrsrs... pois é, ela não é das melhores, e vive pra lá e pra cá com o walkman herdado de seu avô, ouvindo punk rock! 

Uma garota, aparentemente normal, que vai à escola, de skate, claro... Violeta vive altas aventuras com seu amigo Alan. Só que algo acontece quando ela toca uma fita cassete ao contrário e, a partir daí, se transforma na heroína mascarada Superpunk que... ah... não vou contar mais nada, mas garanto que vale a pena descobrir o que acontece!

Quando comecei a ler, na hora, lembrei de uma menina chamada Gisele (eu mesma... rsrsrs), que também adorava seu walkman e curtia ouvir suas músicas preferidas sempre em movimento pelas ruas de São Paulo... uhuuuuuu... por isso, tambem adorei esse lado retrô da personagem! 

Importante dizer que é uma aventura radical, mas também trata de temas relevantes como crescimento, amizade, autoconhecimento, confiança e a necessidade de se rebelar! Viva as HQs, os roteiristas e quadrinistas brasileiros! :)

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Uma leve consciência ecológica

– Ontem, quando eu coloquei a bolsa de gel pra amenizar a pancada que dei na perna, fiquei pensando...

– Que bom!

– Não seja engraçadinho... quer saber o que eu estava pensando?

– Fala logo, rainha das longas introduções!

– Tá bom, vamos direto ao assunto antes que eu alcance aquela cadeira...

– Ahahaha... nem vem!

– Eu tava pensando que as coisas que facilitam a vida do ser humano sempre fodem o planeta!

– Olha a boca, menina, pode ter crianças na sala...

– Não vou cair nas suas piadinhas, a minha linha de pensamento é séria. Minha avó e minha mãe usavam aquela bolsa de água quente normal, de borracha, que durava pra caramba. E o mais importante, dentro, a gente colocava água, não tinha um gel que deve ficar sei lá quantos anos pra desintegrar, sem contar o plástico que lasca com a Natureza.

– Concordo, mas você tem que dar o braço a torcer... aquecer a bolsa de gel no micro-ondas é mais fácil que esquentar água e encher a de borracha que costuma dar aqueles respingos na mão...

–  Mesmo assim é o que pensei... muita facilidade só...

–  Chega de palavrão! Já entendi. Então, na volta pra casa, vou passar na farmácia e comprar uma daquelas bolsas da Era Paleolítica!

– Não perca seu tempo, nós já temos uma...

– Temos? E onde está?

– Na gaveta de primeiros socorros, no banheiro.

–  E por que você não usou a tradição?

–  Por que estava com dor e era mais fácil usar a de gel.

–  Aí veio outra dor, a da consciência... entendi!

– Prometo que quando a de gel vencer, volto a usar a tradicional!

– Lamento informar que a tradicional também tem validade e se a gente não usa faz tempo, aliás, eu nem sabia que a nossa existia, a borracha pode estar grudada e aí não tem jeito.

– Mas ela dura mais e faz menos mal ao meio ambiente...

– Tá, então, vou jogar fora a de gel!

– Peraí... não faça isso, hoje à noite tenho que usar...

– Ah! Que beleza, ela só quer cuidar do planeta depois que sumir o roxo da perna?! Que consciência ecológica!

– Por acaso, você vai me ajudar?

– Você precisa de ajuda pra colocar água pra ferver?

– Insensível... preciso de ajuda para encher a bolsa de água quente...

– Quer que eu procure um tutorial na internet, jovem?

– Ahahaha... tá bom, confesso que nem ia comentar com você porque não teria como explicar o fato de que optei pelo mais fácil que fode o planeta!

– Ahahaha... tá bom, vamos refletir mais sobre esse assunto e adotar medidas mais ecológicas em nosso lar!

– Agora?

– Como agora? Consciência ecológica não é chá que a gente toma e tá tudo resolvido.

– Ahahaha... não fala assim que pressiona os chás, nem sempre eles resolvem tudo, apenas amenizam as dores, às vezes, físicas, às vezes, emocionais!

– Um a zero pra você, não sei mais o que dizer... só sentir.

– Ah! Assim você me deixa sem chão...

– Jamais! Pode cair em cima de mim... ahahaha...

– Bobo! :)