quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Uma voz e uma canção marcantes

Esta semana, a cantora e compositora Roberta Flack saiu de cena... e uma das músicas mais importantes de sua carreira me faz lembrar de certos domingos em que minha saudosa mãe fazia frango com macarronada ou risoto ou qualquer prato delicioso... e quando íamos nos reunir à mesa, ela me pedia: põe uma música suave pra gente almoçar! Eu ia toda animada e escolhia um LP específico, uma coletânea com diversos sucessos da música internacional. 

Mas sempre colocava o lado B, porque, na minha opinião, ele começava com a música mais linda do disco e, inclusive, combinava com o pedido da minha mãe: "Kiling me softly"!

A letra fala exatamente sobre como alguém cantando uma história pode nos tocar tanto... como se cantasse a nossa própria história! Pois é, as canções têm esse poder de nos emocionar, nos fazer viajar, recordar. Desde criança, em casa, vivíamos rodeados por livros e discos (de vários estilos), que faziam e continuam me fazendo sonhar!


Esta música é daquelas que quando ouço em qualquer lugar, paro alguns minutos só pra lembrar daqueles almoços de domingo... a voz suave, o piano, a levada bossa nova, é realmente uma pérola! Obrigada por tanto talento! Aplausos para Roberta Flack! :)



* As imagens que ilustram essa singela homenagem são do disco cuja primeira faixa do Lado B foi tocada repetidas vezes... canção que me marcou e me emociona desde sempre ❤️

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Vamos ao Theatro!

Durante o dia, nada de novo... organizo a casa, vou ao mercado, derreto com o calor absurdo, mas a noite prometia uma experiência duplamente inédita... nada de me recolher para ler e sonhar. Lá pelas cinco da tarde, tomo um banho, visto uma roupa confortável,  às 18h, pego a bolsa, peço um carro de aplicativo e sigo, pela primeira vez, para o imponente e deslumbrante Theatro Municipal de São Paulo para, pela primeira vez, assistir a uma ópera... no caso, a prestigiada "O Guarani", de Carlos Gomes, inspirada no romance de José de Alencar, que narra a história de amor entre Ceci, filha de um nobre português, e o indígena Peri.

Logo de cara me encanto novamente pela arquitetura, que fachada linda... tantas e tantas vezes passei em frente, sem nunca entrar. Subindo as escadas, sinto um leve arrepio provocado pelo clima cultural que me inspira desde sempre e com o qual me identifica tanto.

A arte está em todos os cantos, lustres, teto, esculturas... e a escadaria... é de tirar o fôlego! Cada passo me prepara para um encantamento ainda maior quando me deparo com as clássicas poltronas, as galerias, o fosso da orquestra, o palco... que beleza poder admirar um templo da cultura assim de pertinho, tantas histórias e artistas já passaram por ali! 



O ambiente é acolhedor e o encantamento parece recíproco, é como se o Theatro também se encantasse com seu público e a cortina fosse seu sorriso se abrindo para a plateia que retribui com emoção e aplausos!

O Theatro Municipal é como uma entidade... cujo palco sagrado já presenciou tantos movimentos culturais e apresentações impecáveis... um lugar tão marcante pra Cultura brasileira e mundial.


Mas a importância histórica do Theatro Municipal não me intimida, pelo contrário, sinto-me à vontade e curiosa pra assistir ao espetáculo. A montagem é uma releitura da ópera de Carlos Gomes, com a participação de indígenas da etnia Guarani do Jaraguá, que dão uma nova dimensão à obra, pois a narrativa e a música de "O Guarani" se entrelaçam com a sonoridade indígena. 

Foi uma bela primeira experiência que despertou em mim o desejo de conferir a programação completa de óperas do Municipal... rsrsrs... Confesso que em vários momentos me emocionei ouvindo a Orquestra Sinfônica Municipal, comandada pelo maestro Roberto Minczuk, o Coro Lírico Municipal, a Orquestra e Coro Guarani do Jaraguá, e os cantores líricos impecáveis, intensos e admiráveis! Música é reconfortante, inspiradora e altamente recomendável para uma vida saudável! Viva a Cultura! Salve os artistas! Meu profundo respeito aos indígenas, que seus direitos sejam cada vez mais reconhecidos! Aplausos para a beleza das óperas! :)

* Agradeço ao Gé (meu irmão) a oportunidade. As fotos são de minha autoria, feitas sob efeito de emoção e encantamento! ❤️

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Uma ilha e seus segredos

"Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", do escritor moçambicano Mia Couto, é o que se pode chamar de uma saga familiar. A obra conta a história do estudante Marianinho que volta à ilha de Luar-do-Chão e se vê em meio a intrigas e segredos da família, tendo sido designado para comandar a cerimônia fúnebre do avô Dito Mariano.

A narrativa é permeada pela fantasia, com pitadas de poesia que torna a leitura envolvente e, ao mesmo tempo, inquietante. Alguns trechos são encantadores, como: "A cozinha me transporta para distantes doçuras. Como se no embaçado dos seus vapores, se fabricasse não o alimento, mas o próprio tempo. Foi naquele chão que inventei brinquedo e rabisquei os meus primeiros desenhos. Ali escutei falas e risos, ondulações de vestidos. Naquele lugar recebi os temperos do meu crescer". 

A maneira poética de falar sobre a cozinha nos aproxima dos personagens. Nos identificamos, porque este cômodo da casa também no Brasil e em qualquer parte do mundo costuma ser lugar de encontros, conversas e lembranças da família!

Outro trecho que destaco é quando Marianinho chega à casa de seu pai Fulano Malta: "Em Luar-do-Chão não se bate à porta, por respeito. Quem bate à porta já entrou. E já entrou nesse espaço privado que é o quintal, o recinto mais íntimo de qualquer casa. Por isso, à entrada do quintal de meu pai eu bato palmas e grito: - Dá licença?". Isso me lembrou a infância, quando morávamos em casa e as palmas no portão eram o sinal de que chegavam visitas. Todo quintal, toda casa devem ser respeitados!

Além de falar das tradições do lugar, o autor aborda ainda os conflitos que o progresso traz ao meio ambiente, ou seja, um livro para refletir. Viva a Literatura em Língua Portuguesa! :)

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Nicolau e Marcelino

René Goscinny é um encantador roteirista de quadrinhos, que ao lado do ilustrador Uderzo nos proporcionou belas e divertidas aventuras do icônico Asterix. 

Mas hoje, quero falar de "O pequeno Nicolau" (Le petit Nicolas), de Goscinny com ilustrações do querido Jean-Jacques Sempé. 

A obra conta a história de Nicolau e seus amigos, alunos absolutamente arteiros, que enlouquecem a professora e deixam os inspetores e o diretor da escola de cabelos em pé.

Mesmo com várias situações embaraçosas e dignas de pestinhas, há toda a leveza e a alegria de uma infância saudável, de tempos em que o recreio era hora de brincadeiras e diversão certa para as crianças... longe de celulares e redes sociais... infância analógica... a melhor e, certamente, a mais recomendada!

Com esse menininho sapeca, Goscinny mais uma vez nos brinda com uma narrativa sensível para além da diversão, enfatizando o que é mais importante na vida, as amizades, saber lidar com as diferenças, e a alegria de contar com os pais em momentos difíceis.

A ilustração de Sempé em "O Pequeno Nicolau" complementa a narrativa de Goscinny com maestria, seu traço fino e delicado nos coloca dentro do universo desse menininho levado e nos faz lembrar de nossos tempos de escola.

Ainda sobre Sempé, todos aqui sabem o quanto admiro sua arte e não posso deixar de destacar também a leve e divertida historia de "Marcelino Pedregulho" (Marcellin Caillou).

Marcelino é um menino que fica enrubescido sem motivo, podemos ver seu rostinho vermelho em várias situações. Mas aos poucos, ele vai aprendendo a enfrentar o problema, driblando as perguntas de todos sobre sua "mania" de ficar vermelho do nada, até que um dia conhece Renato Rocha, um menininho que espirra toda hora, sem nunca ter ficado resfriado.

A partir daí, os dois se tornam amigos, aceitando suas peculiaridades como nas verdadeiras amizades até que, de repente, Renê muda de bairro e... não vou contar mais nada. Prefiro que cada um experimente os encantos do mestre do cartum. Em "Marcelino Pedregulho, os traços finos de Sempé são de uma delicadeza ímpar e, de maneira sutil, ele nos faz ora gargalhar, ora refletir! Viva a inspiradora Nona Arte! Viva Goscinny e Sempé! :)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Ah... esse calor

Olha, o verão tá de lascar! Desculpe quem gosta de calor, mas com as mudanças climáticas, que são lenda só pra gente tapada, os dias quentes estão cada vez mais insuportáveis.

– Por isso, tô sempre propondo refeições leves e muita água!

E se o calor fosse só de derreter os miolos, beleza! Mas tem as enchentes, os deslizamentos de terra... todos potencializados por esse clima de deserto extremo.

– Mas o céu tá bonito... iluminado!

– Concordo, mas é só pra gente se encantar e esquecer que daqui a pouco lá vem chuva da braba.

– Você está muito tensa, amor!

– Ah! É um calor do caramba... perco a paciência só de ver o termômetro de rua nas alturas! Mesmo assim, fui resolver várias coisas tentando ignorar o suor escorrendo pelas costas e dissolvendo a maquiagem!

– Percebi que você voltou chateada... desabafe... conta o que te deixou com o fio desencapado!

– Ahahaha... bobo!

– Provoquei um sorriso... tô no lucro... conta tudo!

– Vou ser bem sucinta: pra começar passei por quatro farmácias pra conseguir comprar um remédio, sendo que em uma delas quase esfreguei o nariz do atendente na receita pra ele entender o que estava escrito.

– Que vergonha, mas você não esfregou o nariz...

– ... claro que não... se eu fizesse tudo o que tenho vontade...

– Pois é, também tenho vontades que ficam só no pensamento.

– Sei bem, lembro como se fosse hoje... ahahaha... sempre quis falar essa frase emblemática... lembro como se fosse hoje você querendo quebrar a cara de todo mundo naquele café por causa de uma simples canela.

– Como simples canela? Eu não gosto de canela, deixei claro durante o pedido e eis  que o cara me apresenta uma xícara de cappuccino repleta de canela!

– O pedido era da mesa ao lado, o rapaz errou...

– Mas me irritou, porque quando eu disse que não gosto de canela ele fez uma cara de deboche...

– Já te falei que não foi deboche, o rapaz era novo no trabalho, tava nervoso... aquilo foi uma tentativa de sorriso de desculpas.

– Tá bem, mas voltando ao calor... o que mais aconteceu?

– Ah! Deixa pra lá... foram só alguns contratempos que não vale a pena relembrar...

– Ah! Que linda! Só vale a pena relembrar as minhas agruras? E cadê a mulher atormentada pelo calor extremo?

– Tô mais calma, aliás, você me acalmou, meu chazinho de erva-doce!

– Você gosta é de rir da minha cara... sacanagem!

– A recíproca é verdadeira, amor!

 Ahahaha... a gente é doce! :)
 

* A foto que ilustra esta calorosa crônica é o registro que fiz de uma tarde de sol escaldante.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Viagem dos sonhos

Safira olha o passaporte em cima da escrivaninha e um sorriso enorme se abre em seu rosto. Finalmente, vai realizar seu sonho! A viagem que planeja há tanto tempo está prestes a se concretizar! Cadernos repletos de anotações, pesquisas e mais pesquisas, poucas horas de sono, concentração total, tudo pra conseguir encaixar os vários destinos, Alemanha, Noruega, Itália, Portugal, França, Dinamarca, Estados Unidos, Canadá, em uma só programação! 

Roupas separadas, sem muita convicção, afinal, ela nunca sabe direito o que levar... rsrsrs... Na hora de separar calças, vestidos, casacos, cachecóis, meias, gorros as dúvidas surgem e quando chega ao destino sempre descobre algo que levou demais e outros itens que levou de menos... rsrsrs... De qualquer forma, uma certeza que tem é que pretende comprar algumas peças durante suas andanças. 
Tênis escolhidos: um par confortável pra relaxar no avião e outro que será o modelo oficial para as caminhadas. Sem esquecer que separou uma grana pra comprar mais um par em uma das cidades visitadas. Safira adora trazer tênis de lembrança das viagens, mesmo que amigos e familiares digam que esse tipo de calçado é pesado demais. Ora, quem ouve vai pensar que ela calça 50, como os jogadores de basquete... ahahaha... e mesmo que calçasse 50, certamente, traria um par!

Nécessaire é outro ponto crítico, ela sempre esquece algum item essencial. Desta vez, até comprou uma nova! Além de kit de escova de dentes, pasta e fio dental, porta-xampu e condicionador, hidratante e, enfim, lembrou de colocar lixa de unha, nunca se sabe quando a danada pode quebrar! Arrumou tudo com antecedência e só espera não esquecer de colocar a bendita nécessaire na mala de mão... rsrsrs... que coisa!

Várias listas do que fazer, quais itens relacionar e uma checagem antes de colocar o cadeado nas malas parece ser o suficiente, mas são tantas anotações que teve de dividir em dois blocos com capas distintas pra não se enrolar. Ao mesmo tempo que é muito organizada, é ansiosa, por isso, mesmo com tudo programado, em algum momento acaba se atrapalhando, mas nada que não seja, absolutamente, contornável!



Ainda falando de organização, Safira adora preparar os roteiros a partir de guias turísticos, daqueles que vêm com mapas! Pesquisar no celular, nem pensar, é muito chato e não tem nenhum glamour... rsrsrs... o negócio dela é publicações físicas, gosta de assinalar com clipes ou marcadores autocolantes. E, acima de tudo, gosta de voltar pra casa e ver o guia com as páginas cheias de orelhas, recheado de tickets de metrô e museus... adoráveis lembranças da viagem!

De todas as etapas, comprar euros e dólares é, certamente, a tarefa mais sofrida da preparação para a viagem. Safira esperava que quando resolvesse viajar, as moedas europeia e norte-americana já estariam menos agressivas. Ledo engano, continuam cruéis, então, o jeito foi ir à casa de câmbio o mais rápido possível, fingindo não se importar com a cotação nas alturas, sorrir e acenar para o atendente, mesmo que xingando o capitalismo selvagem em pensamento!


Quando chega o grande dia, ela está muito empolgada, afinal tudo foi minuciosamente planejado, o momento é de completa alegria, mesmo sabendo que o imponderável costuma dar o ar da graça em viagens, sejam grandes ou pequenas, ocasionais ou dos sonhos! Viva Santos Dumont que inventou o avião e nos facilitou a ida a terras estrangeiras!
Boa viagem, Safira! :)




* Os desenhos que ilustram esta doce e divertida crônica são de minha autoria... um hobby secreto... rsrsrs... A viagem de minha querida personagem Safira combinou tão bem com meus rabiscos que resolvi juntar o útil ao agradável... rsrsrs... Espero que gostem do lado urban sketcher da Gi... ❤️!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Aconteceu em Paris!

Um bistro francês, chamado Chez Picard, é o cenário de "Senhor Lambert", do mestre do cartum, Jean-Jacques Sempé. A obra mostra a rotina de dois grupos de amigos, que se encontram na hora do almoço, um discute política e o outro futebol. A garçonete Lucienne e o senhor Cazenave, único que almoça sozinho, dão charme ao simpatico bistrô, ele sempre apressado e ela com a palavra certeira.

Os dias passam, tudo segue dentro previsto, como o próprio cardápio do bistrô, até que um dia Lambert não aparece para almoçar. Todos ficam admirados e o grupo que gosta de discutir política pergunta o que aconteceu. Os amigos de Lambert, que costumam discutir futebol, respondem simplesmente: "A gente não se mete na vida particular dos amigos... isso é amizade".

A partir daí, só aumenta a curiosidade sobre o que fez com que Lambert deixasse de comparecer ao tradicional almoço de todos os dias.

O que será que esse senhor anda fazendo? Rsrsrs... Não vou contar, prefiro que vocês mesmo descubram, mas posso dizer que a leitura é muito divertida. A narrativa fluida e o traço, como já disse em postagem anterior, delicado e preciso são a marca do ilustrador francês.

Sempre vale a pena conhecer obras de referências mundiais. Viva os cartunistas! Salve a sutileza e a elegância de Sempé! :)

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Poéticos e humanos

Em "Homens imprudentemente poéticos", do escritor português Valter Hugo Mãe, a poesia permeia toda a narrativa. A leitura é densa e, por vezes, tensa, mas fluida. 

O autor conta a história de dois vizinhos, o artesão Itaro e o oleiro Saburo, no Japão antigo. Enfrentando todo tipo de dificuldades, os dois consideram-se inimigos, o que torna essa relação ainda mais difícil.

Saburo, que morava com a esposa Fuyu, cultivava há tempos flores na orla da montanha... sua intenção era que o jardim funcionasse "como escola de modos, uma lição de ternura e respeito que ensinaria a todas as fomes a importância de respeitar a vida das pessoas". Mesmo assim se tornou viúvo de maneira trágica.

Itaro, por sua vez, morava com a irmã mais nova, Matsu, e a criada, senhora Kame. Ele pintava leques e aprendera a arte com o pai. "O artesão era um cúmplice da natureza, um certo intérprete. Como se avivasse a memória antiga à coisa inerte. O gesto precisava ser único, sem repetição, para que a obra comparecesse na espontaneidade possível. Os crisântemos, explicava o pai, devem nascer de verdade no calmo papel de arroz. Mais do que pintar, os artesãos semeiam. Declarava solenemente. Semeia as flores no papel, filho. Lavra".

Apenas nesses dois trechos, percebemos a delicadeza crua desses dois homens, como o próprio título diz, imprudentemente poéticos! Ao longo das páginas, o autor joga luz às profundezas do ser humano, suas alegrias, tristezas, traumas, medos! 

Concordo com Laurentino Gomes, que escreve o prefácio, acima de tudo, a obra tem conteúdo profundamente humano. E vale a pena ser lida com calma e reflexão! Viva a literatura em língua portuguesa! Salve a sensibilidade de Valter Hugo Mãe! :)