quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Uma ilha e seus segredos

"Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", do escritor moçambicano Mia Couto, é o que se pode chamar de uma saga familiar. A obra conta a história do estudante Marianinho que volta à ilha de Luar-do-Chão e se vê em meio a intrigas e segredos da família, tendo sido designado para comandar a cerimônia fúnebre do avô Dito Mariano.

A narrativa é permeada pela fantasia, com pitadas de poesia que torna a leitura envolvente e, ao mesmo tempo, inquietante. Alguns trechos são encantadores, como: "A cozinha me transporta para distantes doçuras. Como se no embaçado dos seus vapores, se fabricasse não o alimento, mas o próprio tempo. Foi naquele chão que inventei brinquedo e rabisquei os meus primeiros desenhos. Ali escutei falas e risos, ondulações de vestidos. Naquele lugar recebi os temperos do meu crescer". 

A maneira poética de falar sobre a cozinha nos aproxima dos personagens. Nos identificamos, porque este cômodo da casa também no Brasil e em qualquer parte do mundo costuma ser lugar de encontros, conversas e lembranças da família!

Outro trecho que destaco é quando Marianinho chega à casa de seu pai Fulano Malta: "Em Luar-do-Chão não se bate à porta, por respeito. Quem bate à porta já entrou. E já entrou nesse espaço privado que é o quintal, o recinto mais íntimo de qualquer casa. Por isso, à entrada do quintal de meu pai eu bato palmas e grito: - Dá licença?". Isso me lembrou a infância, quando morávamos em casa e as palmas no portão eram o sinal de que chegavam visitas. Todo quintal, toda casa devem ser respeitados!

Além de falar das tradições do lugar, o autor aborda ainda os conflitos que o progresso traz ao meio ambiente, ou seja, um livro para refletir. Viva a Literatura em Língua Portuguesa! :)

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