quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Arte impecável

Com o prêmio Eisner 2025 de Melhor Desenhista/Arte-Finalista para a quadrinista brasileira Bilquis Evely, "Helen de Wyndhorn" encanta, principalmente, pela arte que nos faz mergulhar nas aventuras da protagonista por um mundo cheio de magia.

A grapic novel, que tem roteiro do norte-americano Tom King, arte impecável de nossa premiada Bilquis e colorização do também talentoso brasileiro Matheus Lopes, conta a história de Helen que depois de perder o pai, um renomado escritor de fantasia, vai morar na mansão do avô, Barnabas Cole, um homem misterioso e, aparentemente, frio.


A HQ é uma fascinante mistura de épico e gótico que, como diz a sinopse, combina a bravura de "Conan, o Bárbaro" com o encantamento de "O Mágico de Oz". Sim, é tudo isso e um pouco mais, porque a narrativa trata ainda de questões humanas, como relacionamento familiar, perdas, inseguranças, temas que despertam o leitor a refletir para além da própria história.

Não vou contar mais, pois prefiro que cada um tenha sua experiência de leitura... mas preciso reiterar que, sinceramente, o que mais encanta nesta obra é a arte. Bilquis, com seu traço fino e delicado, faz de cada quadro, cada página, uma obra de arte deslumbrante. 
A quadrinista paulista é um talento e nos enche de orgulho também por ser a primeira brasileira a vencer o "Oscar dos quadrinhos"! Aplausos à nossa ilustradora! Viva a nona arte! :)

sábado, 11 de outubro de 2025

Inocência feliz

Como diz a canção, há uma menina, há uma moleca morando sempre no meu coração... mas não é só quando a adulta aqui balança que ela vem pra me dar mão. Na verdade, a Gi pequena está comigo o tempo todo, tornando a vida muito mais leve e divertida!

Aproveitando que amanhã é Dia das Crianças e Dia de Nossa Senhora Aparecida, lembrei de uma história engraçada de quando eu tinha sete anos (foto) e fomos à Aparecida pagar uma promessa de minha mãe, que não vem ao caso aqui... mas que, enfim, nos levou a uma viagem bate e volta à Basílica para cortar meus cabelos.

Foi uma correria e quando estávamos todos no carro, minha mãe percebeu que tinha esquecido a tesoura e mandou que eu, a dona do cabelo a ser cortado, fosse correndo pegar. Mais tarde, chegamos em Aparecida, minha mãe fez uma trança nos meus cabelos em frente à imagem de Nossa Senhora... tudo transcorria conforme o planejado até que ela pediu ao meu irmão que cortasse a trança. Quando pegou a tesoura na sacola, ela levou o maior susto, eu tinha pegado a tesoura de frango... ahahaha... na hora, meu irmão não se segurou e riu e eu, sinceramente, não vi problema nenhum na tesoura vermelha e pouco discreta!

Como minha mãe era muito devota de Nossa Senhora Aparecida e o momento era solene, a bronca só veio depois... e assim mesmo foi suave... ahahaha... afinal, no fim das contas o cabelo havia sido cortado e acredito que, com todo respeito, Nossa Senhora nem deve ter se surpreendido, já conhecia sua pequena devota aqui...rsrsrs...

Ah! Gosto de lembrar da infância, porque por mais dificuldades que tivéssemos, sempre arrumávamos um jeito de rir das situações e é isso que torna as coisas mais fáceis de enfrentar, que nos ajudam a escrever nossas histórias, a criar nossas memórias afetivas e nos tornam mais humanos!

Toda a vez que estou numa situação desconfortável ou passando por um problema qualquer, típico de adultos, lanço mão de minha versão mirim e tudo se resolve, de um jeito ou de outro, a Gi menina/moleca não falha, ela sempre tem a solução pra Gi adulta enfrentar a porra toda... ahahaha...

Essa crônica é uma singela homenagem à beleza de se manter o sorriso infantil e valorizar a criança que temos dentro da gente! Salve Nossa Senhora Aparecida! :)

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Uma obra instigante

"Meio sol amarelo", da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, é uma leitura encantadora, ao mesmo tempo, densa e, profundamente, humana. A história se passa na década de 1960, quando a recém-indepentente Nigéria embarca em uma violenta guerra que dividiu o país com a tentativa frustrada de criação da República Independente de Biafra, deixando milhares de mortos.

O mais instigante do livro é que a autora não narra a guerra propriamente dita, mas como as pessoas lidam com o conflito e suas consequências, num embate entre realidade e ideologia. Os personagens são cativantes e cheios de nuances, cada um a seu modo, seguem equilibrando sonhos e angústias. Desde as primeiras páginas, somos convidados a acompanhar a trajetória de Ugwu, Olanna e Richard. 

Ugwu é um camponês ingênuo e extremamente leal, que trabalha na casa do revolucionário Odenigbo, professor da Universidade de Nzukka, que vive com Olanna, moça da alta sociedade que, para desespero da família, resolve ser professora universitária. Richard é um jornalista inglês, estudioso da arte local e aspirante a escritor, que se apaixona por Kainene, irmã gêmea de Olanna.

Primeiro livro que leio da autora, considero a obra um banho de realidade e um certeiro exemplo de como é bela a arte da escrita! Aplausos para Chimamanda! Viva as escritoras! :)

sábado, 4 de outubro de 2025

Conversa de flor

– Ah! Adoro esse início da nossa estação! As coisas parece que ficam mais iluminadas...

– Claro que ficam mais iluminadas... elas recebem mais incidência do Sol!

– Não seja tão prática... gosto do lado romântico da coisa toda!

– Ih! Lá vem a derretida! Por acaso, você não acha a Mãe Natureza linda em todas as estações?

– Não falei isso... sei que cada fase tem seus encantos, mas a Primavera é diferente pra nós flores... você não acha?

– Sei lá! A verdade é que tem flores em qualquer estação.

– Tudo bem, rabugenta! Vamos fazer o seguinte: fique aí com suas opiniões certeiras, que eu prefiro ficar com meu olhar mais atento pras belezas à nossa volta!

– Não precisa falar assim comigo, somos flores irmãs, do mesmo galho. Sei exatamente o que você sente e concordo sobre as belezas... Só fico preocupada com os seres humanos que, muitas vezes, dizem nos amar e, por egoísmo, nos arrancam da vida sem nem um pingo de remorso!

– Sei disso, irmã! Só não quero que se preocupe tanto, afinal, eles acham que dominam tudo mesmo. Só espero que um dia acordem pro fato de serem parte do Planeta e não donos!

– Uhuuuuuu! Gostei de ver a consciência, irmã romântica!

– Ahahaha... deixe de ser realista por alguns instantes e sinta o Astro-rei nos inundando de calor!

– Olha, lá! Tô falando... vem vindo um casalzinho de mãos dadas. Espero que o rapaz não queira ser o herói e nos arrancar do galho só pra agradar a moça!

– Não! Acho que o amor deixa as pessoas mais doces... 

– Vou tentar ser menos cética, mas com relação ao ser humano é sempre difícil!

– Vamos apostar! Pra mim, os dois estão tão bem juntos que só há espaço para beleza! E o ato de arrancar flores de seus galhos não me parece nada belo.

– Concordo! Mas vamos apostar o quê?

– Aposto que os dois vão se encantar conosco... branquinhas em meio às folhas verdes, iluminadas pelo Sol...

– Resuma a história... eles estão se aproximando!

– Está bem! Aposto que eles vão nos adorar e até tirar foto com a gente!

– Mania abominável de fotografar tudo o tempo todo! Está bem! Se você ganhar, resolvemos o que fazer depois...

– Combinado!

O casal chega perto da árvore e abre um sorriso! Uau! Que lindas flores! Quando o rapaz estica a mão como se fosse apanhá-las, a moça segura seu braço e dá uma piscada!

– Por favor, não arranque as florzinhas, quero que elas sejam as únicas testemunhas de nosso primeiro beijo!

– Sério?

A moça se aproxima do rapaz e os dois se beijam. Depois, ele saca o celular do bolso, faz várias fotos do casal tendo as flores como moldura e, em seguida, se afastam de mãos dadas.

– Ah! Que lindo! Não disse que nós inspiramos os humanos a serem melhores!

– Não exagere, realmente, esses dois foram legais, mas deve ser porque ainda não estão maduros... ahahaha...

– Não importa, ganhei a aposta, rabugenta!

– Romântica incorrigível!

– Sem enrolar... qual meu prêmio?

– Você já ganhou, irmã! Aliás, ganhamos, tivemos a sorte de encontrar humanos com almas de flor!

– Olha, minha irmãzinha... totalmente sensível!

– Pois é, rabugentas também amam! :)


* A foto que ilustra esta crônica é de minha autoria... um singelo registro em homenagem à Primavera! Salve a estação das flores!

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Sol particular

O sobradinho resiste até hoje... amarelo como o Sol. Poderoso, entre edifícios modernos e o trânsito caótico. Seu Nicolas, o dono, adoeceu ainda quando os sobrados vizinhos existiam. Ficou no hospital cerca de um mês e quando voltou foi surpreendido com a rapidez com que o chamado progresso lima a história e as marcas de seus cidadãos na cidade. Por que fazem isso? Só constroem prédios altos, retos, sem vida, sem cor, sem amor, sem consideração pelo passado. 

Nicolas também tinha sido procurado pela incorporadora, mas não cedeu às suas investidas. Em seguida, foi internado e, obviamente, concentrou-se na recuperação da saúde. Não ficou sabendo que os outros proprietários haviam sucumbido.

E agora, o que fazer? Será que o Seu Juca da padaria da esquina e seu Arlindo da farmácia ainda estão por aí? E a praça com suas árvores frondosas, os bancos e as mesinhas para as tardes de dominó?

Ao descer do táxi, diante de tanta mudança em sua rua, Seu Nicolas andou pela calçada, observando a correria por trás da placa "homens trabalhando" em meio a caçambas de entulhos. Olha, aquela parece a janela azul do sobrado do Alípio. Sem conter a emoção, Seu Nicolas se pergunta onde estará seu amigo.

Quando chega à praça, ufa... lá estão as árvores e as mesinhas do dominó, mas está deserta. Decidido, volta para a frente de seu querido sobrado e abre a porta. Menino, seu cachorro, balança o rabo, está amoado no tapete em frente à televisão. Clotilde, bordando na poltrona de leitura, levanta os olhos devagar e abre um sorriso.

– Nicolas! Por que não me ligou pra irmos te buscar?

– Não se preocupe, Clotilde! Estou bem, esse período foi só uma forma que arrumei de descansar e comer comida sem gosto, no caso, pra emagrecer... rsrsrs... Posso te dar um abraço?

– Vem, logo, meu velho! Mas antes faz um cafuné no nosso pequeno...

Menino balança o rabo e se aproxima devagar, como se tivesse medo de machucar o dono.

– Ora, vem cá, pequeno, eu não quebro, pode pular nas minhas pernas!

O cachorrinho lambe as mãos de Nicolas, que abraça Clotilde e assim os três permanecem, por um momento, unidos... como sempre!

– Agora, me conte! Por que não ligou?

– Queria fazer uma surpresa... acabei surpreendido... Onde foram parar as casas dos nossos vizinhos?

– Ah, meu velho! Agora só na nossa memória, mas tudo bem, o importante é que estamos aqui... firmes e fortes... como o Sol! Engraçado, você sempre chamou nosso sobradinho de Sol pra me irritar por causa do amarelo lindo e discreto que escolhi... rsrsrs... Agora, gosto da ideia, nosso Sol vai continuar brilhando!

– Mesmo entre esses edifícios sem charme algum!

– Isso mesmo! Vamos pra cozinha? Você chegou bem na hora do café...

– Cronometrei a alta do hospital pra chegar nessa hora, tô com saudade do cheiro do seu café!

– Ah! Espertinho! Vem, Menino! Veja se ele tem água fresca, meu velho?

– Claro, é pra já! Não se assuste com o barulho da britadeira ao lado, Menino, estamos aqui com você!

– Sempre!

– Firmes e fortes...

– ... como nosso Sol particular! :)


* A ilustração é da querida sobrinha/afilhada/parceira @alikailustra