Nicolas também tinha sido procurado pela incorporadora, mas não cedeu às suas investidas. Em seguida, foi internado e, obviamente, concentrou-se na recuperação da saúde. Não ficou sabendo que os outros proprietários haviam sucumbido.
E agora, o que fazer? Será que o Seu Juca da padaria da esquina e seu Arlindo da farmácia ainda estão por aí? E a praça com suas árvores frondosas, os bancos e as mesinhas para as tardes de dominó?
Ao descer do táxi, diante de tanta mudança em sua rua, Seu Nicolas andou pela calçada, observando a correria por trás da placa "homens trabalhando" em meio a caçambas de entulhos. Olha, aquela parece a janela azul do sobrado do Alípio. Sem conter a emoção, Seu Nicolas se pergunta onde estará seu amigo.
Quando chega à praça, ufa... lá estão as árvores e as mesinhas do dominó, mas está deserta. Decidido, volta para a frente de seu querido sobrado e abre a porta. Menino, seu cachorro, balança o rabo, está amoado no tapete em frente à televisão. Clotilde, bordando na poltrona de leitura, levanta os olhos devagar e abre um sorriso.
– Nicolas! Por que não me ligou pra irmos te buscar?
– Não se preocupe, Clotilde! Estou bem, esse período foi só uma forma que arrumei de descansar e comer comida sem gosto, no caso, pra emagrecer... rsrsrs... Posso te dar um abraço?
– Vem, logo, meu velho! Mas antes faz um cafuné no nosso pequeno...
Menino balança o rabo e se aproxima devagar, como se tivesse medo de machucar o dono.
– Ora, vem cá, pequeno, eu não quebro, pode pular nas minhas pernas!
O cachorrinho lambe as mãos de Nicolas, que abraça Clotilde e assim os três permanecem, por um momento, unidos... como sempre!
– Agora, me conte! Por que não ligou?
– Queria fazer uma surpresa... acabei surpreendido... Onde foram parar as casas dos nossos vizinhos?
– Ah, meu velho! Agora só na nossa memória, mas tudo bem, o importante é que estamos aqui... firmes e fortes... como o Sol! Engraçado, você sempre chamou nosso sobradinho de Sol pra me irritar por causa do amarelo lindo e discreto que escolhi... rsrsrs... Agora, gosto da ideia, nosso Sol vai continuar brilhando!
– Mesmo entre esses edifícios sem charme algum!
– Isso mesmo! Vamos pra cozinha? Você chegou bem na hora do café...
– Cronometrei a alta do hospital pra chegar nessa hora, tô com saudade do cheiro do seu café!
– Ah! Espertinho! Vem, Menino! Veja se ele tem água fresca, meu velho?
– Claro, é pra já! Não se assuste com o barulho da britadeira ao lado, Menino, estamos aqui com você!
– Sempre!
– Firmes e fortes...
– ... como nosso Sol particular! :)
* A ilustração é da querida sobrinha/afilhada/parceira @alikailustra
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