quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Encontro especial

Olhando as gotas de chuva escorrendo pela janela, Antoine lembra quando conheceu Blanche. Foi num dia chuvoso como hoje, há quase uma década, em uma charmosa rua da capital francesa.

Naquela tarde, a chuva fina e fria deixava o dia introspectivo, ainda assim, Antoine decide fazer seu passeio diário. Sobretudo, cachecol e guarda-chuva, ele sai pelas ruas de Paris. Desde criança, sempre gostou de sair na chuva, inclusive, adorava brincar pulando nas poças para espalhar a água ou dançar imitando Gene Kelly no famoso filme de Hollywood. Porém, agora, só se permite andar calmamente ouvindo o alegre tamborilar dos pingos no guarda-chuva, o que considera um enorme prazer.

Quando dobra a esquina, Antoine se depara com uma rua quase vazia, a não ser pela presença delicada de uma senhora muito elegante, mas nada previdente... está sem guarda-chuva... será que está desorientada?

Ora, Antoine, que exagero... desorientada! Vai ver é apenas uma mulher que não se preocupa com convenções, afinal, tomar chuva não é uma contravenção, mas pode ser considerada contraindicada para pessoas com problemas respiratórios que, obviamente, devem evitar as mudanças bruscas de temperatura.

Assim de longe, ela parece bonita e, pelo que percebo, está olhando pra mim... o que será que está pensando? Será que estou bem vestido para a ocasião? Que ocasião, Antoine? Olha o exagero de novo, concentre-se no passeio. Mas que essa senhora está olhando pra mim está. Ela tem um cabelo bonito... e esse casaco de poá lhe cai muito bem!

Não sei se atravesso a rua, sei lá, pode pensar que estou flertando e se ofender. Vou ficar mais um pouco, quem sabe ela dá o primeiro passo... chato é ficar aqui de guarda-chuva vendo uma dama desprotegida.

Do outro lado da rua, Blanche parece irritada... adora dias chuvosos, mas, foi surpreendida... não acredita que esqueceu de pegar o guarda-chuva! Olhando indignada para o céu, se pergunta: Como assim? O dia nasceu tão limpo!

Parada na calçada, ela sente os pingos escorrerem pelos cabelos e, aos poucos, serem represados no cachecol, mesmo assim não perde a elegância! Sorte que a chuva é fina, basta apenas ser ágil e correr até a cafeteria mais próxima. Uma boa xícara de café sempre resolve os problemas, pelo menos, os mais simples como ser pega desprevenida por uma chuva que não avisou que cairia.

Só quando olha para frente, Blanche vê um homem, de guarda-chuva, do outro lado da rua... este é prevenido! Aposto que é organizado... se veste bem, gostei do cachecol. Ah! Por favor, não romantize a cena, é apenas um senhor se preparando para atravessar a rua. Mas é elegante!

Quanto tempo será que estou parada nesta esquina? Parece que estou enraizada nesta calçada! Qual o problema, Blanche? Talvez o problema seja estar sempre esperando que um herói venha me salvar... mesmo que o perigo seja apenas pegar um resfriado... rsrsrs... Por que estou falando de herói? Que coisa mais sem pé nem cabeça! Bem que ele poderia ser cavalheiro, vir ao meu encontro e me proteger da chuva... olha aí, de novo, divagando como uma adolescente.

Decididos, começam a atravessar a rua... passos lentos e olhos pregados um no outro, como se estivessem conectados por um ímã. Antoine traz um sorriso tímido estampado no rosto e Blance, um brilho discreto no olhar!

No meio da rua, estendem a mão para um cumprimento formal. Boa tarde, sou Antoine! Boa tarde, meu nome é Blanche! Posso lhe dar uma carona em meu guarda-chuva? Claro, seria um prazer. Estava pensando em tomar um café, posso convidá-la? Incrível, pensei nisso logo que parei naquela esquina... se puder me acompanhar, Antoine, vou adorar! Estou aqui para isso, Blanche!

De repente, ele dá um salto da poltrona como se acordasse de um sonho... Blanche está na sua frente com uma bandeja na mão. Fiz café... você estava dormindo? Não, querida, estava lembrando. Ah! Com essa chuvinha, já sei o que estava lembrando: de nosso encontro em Paris! Antoine dá uma piscadela e começa a arrumar espaço na mesa para a bandeja do café. Você pode me ajudar, cortando o bolo, querido? Claro, Blanche... continuo aqui para isso! :)


* A foto que ilustra essa romântica crônica é de minha autoria, como meus personagens, também adoro ouvir o barulhinho da chuva e admirar as gotas d'água escorrendo pelo vidro da minha janela! ❤️  

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