sexta-feira, 25 de maio de 2018

Saudade em gotas...

Ele estava há um bom tempo parado, absorto, como se estivesse em algum planeta distante. Na verdade, ele estava ali simplesmente olhando as gotas da chuva escorrendo pelo vidro da janela da sala. Quase sem piscar, acompanhava cada uma das gotinhas que se juntavam umas às outras, deslizando até o parapeito. Por um instante, sua vida se resumiu àquele filme cujo final era previsível, mas que o deixava encantado... imerso em pensamentos.
A chuva caía torrencialmente, inundando ruas, transbordando rios, invadindo casas. Mas nada desviava sua atenção das gotinhas na janela. De vez em quando, a televisão gritava nas entradas ao vivo sobre o caos em que a cidade se transformou em poucos minutos. De repente, um trovão fez tremer não só as gotas na janela, como a casa inteira. Nesse momento, o fornecimento de luz foi interrompido. A gritaria na rua e nas casas sem iluminação retumbava aos quatro cantos. Mesmo assim, havia luz suficiente para que ele ainda enxergasse o interminável escorrer das gotinhas.
Passados longos minutos, a luz voltou... nova gritaria se fez ouvir na ruas e casas ao redor. Ele continuava ali, imóvel... a chuva lentamente diminuiu. E uma voz doce e familiar finalmente tirou sua atenção da janela.
- Vamos logo! Mamãe disse que é pra gente aproveitar que a chuva parou.
Ele deu um sorriso e abriu os braços para o menino.
- O que foi? Você tá triste, papai?
- Tô com saudades...
- Saudades do quê?
- Do vovô... ele que me ensinou a ver a corrida das gotinhas de chuva na janela, filho!
- As gotinhas! Cadê? Me ensina, papai!
A mãe aparece na porta da sala a tempo de escutar a conversa.
- Na próxima chuva, filho! Estamos atrasados... sua avó nos espera para o lanche!
- Mamãe, a vovó sabe ensinar sobre as gotinhas de chuva?
- Acho que sim! Quando chegar lá, pergunte a ela!
Enquanto o menino corre animado em direção ao carro, o pai não consegue esconder as lágrimas que inundam seu rosto. Ela o abraça e os dois saem em silêncio. No céu, o sol volta a brilhar. Na janela, num esforço imenso, uma gotinha luta para não escorregar sozinha pelo vidro... :)

Nenhum comentário:

Postar um comentário