quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Arte impecável

Com o prêmio Eisner 2025 de Melhor Desenhista/Arte-Finalista para a quadrinista brasileira Bilquis Evely, "Helen de Wyndhorn" encanta, principalmente, pela arte que nos faz mergulhar nas aventuras da protagonista por um mundo cheio de magia.

A grapic novel, que tem roteiro do norte-americano Tom King, arte impecável de nossa premiada Bilquis e colorização do também talentoso brasileiro Matheus Lopes, conta a história de Helen que depois de perder o pai, um renomado escritor de fantasia, vai morar na mansão do avô, Barnabas Cole, um homem misterioso e, aparentemente, frio.


A HQ é uma fascinante mistura de épico e gótico que, como diz a sinopse, combina a bravura de "Conan, o Bárbaro" com o encantamento de "O Mágico de Oz". Sim, é tudo isso e um pouco mais, porque a narrativa trata ainda de questões humanas, como relacionamento familiar, perdas, inseguranças, temas que despertam o leitor a refletir para além da própria história.

Não vou contar mais, pois prefiro que cada um tenha sua experiência de leitura... mas preciso reiterar que, sinceramente, o que mais encanta nesta obra é a arte. Bilquis, com seu traço fino e delicado, faz de cada quadro, cada página, uma obra de arte deslumbrante. 
A quadrinista paulista é um talento e nos enche de orgulho também por ser a primeira brasileira a vencer o "Oscar dos quadrinhos"! Aplausos à nossa ilustradora! Viva a nona arte! :)

sábado, 11 de outubro de 2025

Inocência feliz

Como diz a canção, há uma menina, há uma moleca morando sempre no meu coração... mas não é só quando a adulta aqui balança que ela vem pra me dar mão. Na verdade, a Gi pequena está comigo o tempo todo, tornando a vida muito mais leve e divertida!

Aproveitando que amanhã é Dia das Crianças e Dia de Nossa Senhora Aparecida, lembrei de uma história engraçada de quando eu tinha sete anos (foto) e fomos à Aparecida pagar uma promessa de minha mãe, que não vem ao caso aqui... mas que, enfim, nos levou a uma viagem bate e volta à Basílica para cortar meus cabelos.

Foi uma correria e quando estávamos todos no carro, minha mãe percebeu que tinha esquecido a tesoura e mandou que eu, a dona do cabelo a ser cortado, fosse correndo pegar. Mais tarde, chegamos em Aparecida, minha mãe fez uma trança nos meus cabelos em frente à imagem de Nossa Senhora... tudo transcorria conforme o planejado até que ela pediu ao meu irmão que cortasse a trança. Quando pegou a tesoura na sacola, ela levou o maior susto, eu tinha pegado a tesoura de frango... ahahaha... na hora, meu irmão não se segurou e riu e eu, sinceramente, não vi problema nenhum na tesoura vermelha e pouco discreta!

Como minha mãe era muito devota de Nossa Senhora Aparecida e o momento era solene, a bronca só veio depois... e assim mesmo foi suave... ahahaha... afinal, no fim das contas o cabelo havia sido cortado e acredito que, com todo respeito, Nossa Senhora nem deve ter se surpreendido, já conhecia sua pequena devota aqui...rsrsrs...

Ah! Gosto de lembrar da infância, porque por mais dificuldades que tivéssemos, sempre arrumávamos um jeito de rir das situações e é isso que torna as coisas mais fáceis de enfrentar, que nos ajudam a escrever nossas histórias, a criar nossas memórias afetivas e nos tornam mais humanos!

Toda a vez que estou numa situação desconfortável ou passando por um problema qualquer, típico de adultos, lanço mão de minha versão mirim e tudo se resolve, de um jeito ou de outro, a Gi menina/moleca não falha, ela sempre tem a solução pra Gi adulta enfrentar a porra toda... ahahaha...

Essa crônica é uma singela homenagem à beleza de se manter o sorriso infantil e valorizar a criança que temos dentro da gente! Salve Nossa Senhora Aparecida! :)

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Uma obra instigante

"Meio sol amarelo", da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, é uma leitura encantadora, ao mesmo tempo, densa e, profundamente, humana. A história se passa na década de 1960, quando a recém-indepentente Nigéria embarca em uma violenta guerra que dividiu o país com a tentativa frustrada de criação da República Independente de Biafra, deixando milhares de mortos.

O mais instigante do livro é que a autora não narra a guerra propriamente dita, mas como as pessoas lidam com o conflito e suas consequências, num embate entre realidade e ideologia. Os personagens são cativantes e cheios de nuances, cada um a seu modo, seguem equilibrando sonhos e angústias. Desde as primeiras páginas, somos convidados a acompanhar a trajetória de Ugwu, Olanna e Richard. 

Ugwu é um camponês ingênuo e extremamente leal, que trabalha na casa do revolucionário Odenigbo, professor da Universidade de Nzukka, que vive com Olanna, moça da alta sociedade que, para desespero da família, resolve ser professora universitária. Richard é um jornalista inglês, estudioso da arte local e aspirante a escritor, que se apaixona por Kainene, irmã gêmea de Olanna.

Primeiro livro que leio da autora, considero a obra um banho de realidade e um certeiro exemplo de como é bela a arte da escrita! Aplausos para Chimamanda! Viva as escritoras! :)

sábado, 4 de outubro de 2025

Conversa de flor

– Ah! Adoro esse início da nossa estação! As coisas parece que ficam mais iluminadas...

– Claro que ficam mais iluminadas... elas recebem mais incidência do Sol!

– Não seja tão prática... gosto do lado romântico da coisa toda!

– Ih! Lá vem a derretida! Por acaso, você não acha a Mãe Natureza linda em todas as estações?

– Não falei isso... sei que cada fase tem seus encantos, mas a Primavera é diferente pra nós flores... você não acha?

– Sei lá! A verdade é que tem flores em qualquer estação.

– Tudo bem, rabugenta! Vamos fazer o seguinte: fique aí com suas opiniões certeiras, que eu prefiro ficar com meu olhar mais atento pras belezas à nossa volta!

– Não precisa falar assim comigo, somos flores irmãs, do mesmo galho. Sei exatamente o que você sente e concordo sobre as belezas... Só fico preocupada com os seres humanos que, muitas vezes, dizem nos amar e, por egoísmo, nos arrancam da vida sem nem um pingo de remorso!

– Sei disso, irmã! Só não quero que se preocupe tanto, afinal, eles acham que dominam tudo mesmo. Só espero que um dia acordem pro fato de serem parte do Planeta e não donos!

– Uhuuuuuu! Gostei de ver a consciência, irmã romântica!

– Ahahaha... deixe de ser realista por alguns instantes e sinta o Astro-rei nos inundando de calor!

– Olha, lá! Tô falando... vem vindo um casalzinho de mãos dadas. Espero que o rapaz não queira ser o herói e nos arrancar do galho só pra agradar a moça!

– Não! Acho que o amor deixa as pessoas mais doces... 

– Vou tentar ser menos cética, mas com relação ao ser humano é sempre difícil!

– Vamos apostar! Pra mim, os dois estão tão bem juntos que só há espaço para beleza! E o ato de arrancar flores de seus galhos não me parece nada belo.

– Concordo! Mas vamos apostar o quê?

– Aposto que os dois vão se encantar conosco... branquinhas em meio às folhas verdes, iluminadas pelo Sol...

– Resuma a história... eles estão se aproximando!

– Está bem! Aposto que eles vão nos adorar e até tirar foto com a gente!

– Mania abominável de fotografar tudo o tempo todo! Está bem! Se você ganhar, resolvemos o que fazer depois...

– Combinado!

O casal chega perto da árvore e abre um sorriso! Uau! Que lindas flores! Quando o rapaz estica a mão como se fosse apanhá-las, a moça segura seu braço e dá uma piscada!

– Por favor, não arranque as florzinhas, quero que elas sejam as únicas testemunhas de nosso primeiro beijo!

– Sério?

A moça se aproxima do rapaz e os dois se beijam. Depois, ele saca o celular do bolso, faz várias fotos do casal tendo as flores como moldura e, em seguida, se afastam de mãos dadas.

– Ah! Que lindo! Não disse que nós inspiramos os humanos a serem melhores!

– Não exagere, realmente, esses dois foram legais, mas deve ser porque ainda não estão maduros... ahahaha...

– Não importa, ganhei a aposta, rabugenta!

– Romântica incorrigível!

– Sem enrolar... qual meu prêmio?

– Você já ganhou, irmã! Aliás, ganhamos, tivemos a sorte de encontrar humanos com almas de flor!

– Olha, minha irmãzinha... totalmente sensível!

– Pois é, rabugentas também amam! :)


* A foto que ilustra esta crônica é de minha autoria... um singelo registro em homenagem à Primavera! Salve a estação das flores!

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Sol particular

O sobradinho resiste até hoje... amarelo como o Sol. Poderoso, entre edifícios modernos e o trânsito caótico. Seu Nicolas, o dono, adoeceu ainda quando os sobrados vizinhos existiam. Ficou no hospital cerca de um mês e quando voltou foi surpreendido com a rapidez com que o chamado progresso lima a história e as marcas de seus cidadãos na cidade. Por que fazem isso? Só constroem prédios altos, retos, sem vida, sem cor, sem amor, sem consideração pelo passado. 

Nicolas também tinha sido procurado pela incorporadora, mas não cedeu às suas investidas. Em seguida, foi internado e, obviamente, concentrou-se na recuperação da saúde. Não ficou sabendo que os outros proprietários haviam sucumbido.

E agora, o que fazer? Será que o Seu Juca da padaria da esquina e seu Arlindo da farmácia ainda estão por aí? E a praça com suas árvores frondosas, os bancos e as mesinhas para as tardes de dominó?

Ao descer do táxi, diante de tanta mudança em sua rua, Seu Nicolas andou pela calçada, observando a correria por trás da placa "homens trabalhando" em meio a caçambas de entulhos. Olha, aquela parece a janela azul do sobrado do Alípio. Sem conter a emoção, Seu Nicolas se pergunta onde estará seu amigo.

Quando chega à praça, ufa... lá estão as árvores e as mesinhas do dominó, mas está deserta. Decidido, volta para a frente de seu querido sobrado e abre a porta. Menino, seu cachorro, balança o rabo, está amoado no tapete em frente à televisão. Clotilde, bordando na poltrona de leitura, levanta os olhos devagar e abre um sorriso.

– Nicolas! Por que não me ligou pra irmos te buscar?

– Não se preocupe, Clotilde! Estou bem, esse período foi só uma forma que arrumei de descansar e comer comida sem gosto, no caso, pra emagrecer... rsrsrs... Posso te dar um abraço?

– Vem, logo, meu velho! Mas antes faz um cafuné no nosso pequeno...

Menino balança o rabo e se aproxima devagar, como se tivesse medo de machucar o dono.

– Ora, vem cá, pequeno, eu não quebro, pode pular nas minhas pernas!

O cachorrinho lambe as mãos de Nicolas, que abraça Clotilde e assim os três permanecem, por um momento, unidos... como sempre!

– Agora, me conte! Por que não ligou?

– Queria fazer uma surpresa... acabei surpreendido... Onde foram parar as casas dos nossos vizinhos?

– Ah, meu velho! Agora só na nossa memória, mas tudo bem, o importante é que estamos aqui... firmes e fortes... como o Sol! Engraçado, você sempre chamou nosso sobradinho de Sol pra me irritar por causa do amarelo lindo e discreto que escolhi... rsrsrs... Agora, gosto da ideia, nosso Sol vai continuar brilhando!

– Mesmo entre esses edifícios sem charme algum!

– Isso mesmo! Vamos pra cozinha? Você chegou bem na hora do café...

– Cronometrei a alta do hospital pra chegar nessa hora, tô com saudade do cheiro do seu café!

– Ah! Espertinho! Vem, Menino! Veja se ele tem água fresca, meu velho?

– Claro, é pra já! Não se assuste com o barulho da britadeira ao lado, Menino, estamos aqui com você!

– Sempre!

– Firmes e fortes...

– ... como nosso Sol particular! :)


* A ilustração é da querida sobrinha/afilhada/parceira @alikailustra

sábado, 27 de setembro de 2025

Um cachorrinho aventureiro

Mais uma vez, uma obra do autor de "O Hobbit" me encanta! Em "Roverando", J. R. R. Tolkien nos apresenta a história de um cachorrinho que, ao invés de ficar brincando satisfeito com sua bola amarela no jardim, resolve rasgar as calças de um mago quando o dito cujo rouba sua bola! Muito irritado, o mago transforma Rover em um cãozinho de brinquedo.

Desesperado e perdido em meio às plantas do jardim, Rover passa, então, a procurar o tal mago para voltar a ser um cachorro de verdade! A partir daí, ele vive diversas aventuras na Lua, no fundo do mar! Ah... mas o que acontece com ele e por que o título do livro é Roverando, deixo para vocês descobrirem... recomendo a experiência!

Ainda que faça parte de suas obras para crianças e esta escrita para consolar seu filho Michael que havia perdido seu cãozinho de brinquedo, o enredo prende a atenção. Os personagens e cenários são muito bem construídos, nos proporcionando uma história tão envolvente que parece que embarcamos junto a Rover em seu voo com a gaivota Mia, rumo à Lua!

É, certamente, um livro com a marca da qualidade narrativa de Tolkien, que sabe como ninguém criar mundos e sagas com maestria! Pra quem quer uma leitura divertida, leve e emocionante, é uma ótima sugestão! Aplausos à genialidade do pai da literatura fantástica moderna! :)

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Romance e contos queirosianos

Em "A ilustre casa de Ramires", publicação póstuma de Eça de Queirós, o autor português faz uma análise profunda e irônica da nobreza lusitana, traçando vários fatos históricos e, ao mesmo tempo, nos brindando com a criação de um protagonista bem construído, cheio de nuances, herdeiro de uma das mais antigas linhagens nobres portuguesas: o escritor Gonçalo Mendes Ramires, o Fidalgo da Torre!

A narrativa se passa no final do século XIX, quando Gonçalo começa a escrever uma novela histórica sobre sua família. Aí está a genialidade de Eça de Queirós, que usando a metaliteratura, faz vários paralelos entre a história de Portugual em que vive o autor e a contada pelo fidalgo, além de comparar o protagonista com o próprio País, pois ambos enfrentam desafios e contradições, provocando, em nós leitores, altas reflexões!

Mesmo inseguro e cheio de angústias, o Fidalgo da Torre é generoso, gentil e... amorável... ah... adorei esta palavra! Vou até me permitir usá-la em meus textos... certamente, vai enriquecê-los e seria uma singela homenagem ao Eça!

Voltando à obra, adoro a capacidade do escritor, que além de inspirador, nos oferece uma aula da arte de escrever! Para quem, como eu, adora se aventurar criando histórias, alguns trechos são encantadores, como a frase: "A pena agora, como a espada outrora, edifica reinos..."; e o parágrafo: "E nessa manhã, depois de repicar a sineta no corredor, duas vezes o Bento empurrara a porta da livraria, avisando o Sr. Doutor 'que o almocinho, assim à espera, certamente se estragava'. Mas de sobre a tira de almaço Gonçalo rosnava 'já vou!' - sem desapegar a pena, que corria como quilha leve em água mansa, na pressa amorosa de terminar, antes do almoço, o seu Capítulo I".

Em "Contos", o escritor que deu início ao Realismo na literatura portuguesa, mostra seu domínio também da narrativa curta. A antologia, composta por oito contos, nos apresenta uma galeria de personagens em diversas situações cotidianas. Meu destaque vai para o conto que abre a coletânea "Civilização", que, anos depois, deu origem ao admirável romance "A cidade e as serras", obra sobre a qual abordei em postagem de julho deste ano!

Em resumo, dois exemplos da habilidade do escritor português, um dos meus preferidos ao lado do grande Saramago! Para quem quiser embarcar em histórias bem construídas e personagens "amoráveis", recomendo muito! Viva Eça de Queirós! Salve a Literatura! :)

sábado, 20 de setembro de 2025

À Natureza, com carinho!

– Amanhã é Dia da Árvore!

– Vamos celebrar! Elas são imprescindíveis, adoráveis e nos oferecem sombra, frutos, ar puro, folhas e flores lindas, de cores e tons variados, seus galhos são como abraços... os troncos dão a sensação de proteção...

– Que poético, amor! Mas antes de celebrarmos, preciso externar minha indignação!

Sou todo ouvidos!

– É incrível como são tão maltratadas, especialmente, nas metrópoles. Além de sofrerem com podas malfeitas, suas folhas, quando caem, são consideradas sujeira. Na verdade, as folhas funcionam como adubo para a terra e alimento para insetos e pequenos animais, é lamentável a falta de sensibilidade de quem considera os tapetes de folhas e flores como algo descartável!

Uma coisa que me deixa irritado também são os parques, que deveriam ser áreas realmente preservadas, mas que costumam ter espécies intrusas, plantadas inadvertidamente, sem que se leve em conta o equilíbrio do meio ambiente, o que acaba, inclusive, por afastar a fauna local. 

– Pois é, sempre achei que esses parques são para as árvores como os zoológicos são para os animais: redutos criados pelo ser humano, que nem de longe proporcionam a sensação que ambos têm na Natureza!

Concordo, amor! Preservar as árvores, as florestas, é preservar a vida no Planeta Terra. Está mais do que na hora de se entender que não somos superiores, somos parte da Natureza. Nossa relação com o meio ambiente deve ser de respeito e troca! 

– Agradeço aos céus por ter ao meu lado alguém que me entende e partilha das minhas opiniões a respeito da importância de preservarmos as árvores e os ecossistemas, inclusive, para nossa própria sobrevivência! Valeu, meu ecologista charmoso!

– A recíproca é verdadeira! Adoro ter ao meu lado a ativista mais fascinante da Terra!

– Uau! Obrigada! Agora, podemos pensar em como vamos celebrar a data?

– Seria prudente deixarmos pra pensar nas comemorações amanhã... o que acha?

– Boa ideia! Então, vem cá e "balança minha roseira"!

– Opa! É pra já! Seu jardineiro está sempre a postos! :)


*A foto que ilustra essa crônica é de minha autoria, feita em um dos meus passeios no bosque, enquanto seu lobo não vem... 😉

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Mergulhando no chá de camomila

Tem certas situações que provocam aquela vontade pueril de se recolher, sentar no sofá, à meia-luz, abraçar e depois ler um bom livro, ficar em silêncio, ouvindo só a própria consciência e analisando os próximos passos!

Essa necessidade de parar é normal, é como se precisássemos de uma reinicialização para atualizar os planos. Portanto, uma pausa, ainda que involuntária, tem um lado muito positivo se soubermos aproveitar esse momento para traçar, com entusiasmo, uma nova rota!

Para planejar novos caminhos, é preciso, antes de tudo, cuidar de si mesmo, encontrar conforto nas coisas que dão prazer, refletir sobre as possibilidades, fazer passeios culturais, deixar a criança que mora dentro da gente retomar um pouquinho nossas rédeas, descontrair os músculos, abrir o sorriso e se divertir como se a vida fosse uma tarde ensolarada ou chuvosa, claro, cada uma com seus encantos!

O fato é que desacelerar o ritmo, para muitos, combina com uma bela xícara de chá, torradas fresquinhas com geleia de amora e uma tarde de sossego. 

Sinceramente, no meu caso, pra diminuir o ritmo dos pensamentos e, realmente relaxar, só mergulhando, literalmente, numa bela xícara de chá de camomila! Já imaginou? Melhor do que uma banheira de hidromassagem! Ahahaha...

Brincadeiras à parte, desacelerar é sempre bom... e como dizia Cora Coralina: "Lembra do que te faz feliz/Fala dos teus sonhos/Alimenta o que te fortalece/Não deixa o mundo te engolir"! Aplausos para a sensatez da grande poeta! Viva o calmante chá de camomila e o necessário bom-humor pra enfrentar essa porra toda! :)


* A delicada arte que ilustra tão bem esta minha suave crônica é do querido Hiro Kawahara (@hirokawahara). Obrigada pela gentileza de sempre e pelo admirável talento!

sábado, 13 de setembro de 2025

A revista que nos fazia cantar

Música é muito bom pra embalar os momentos bons e pra nos aconchegar nos nem tão bons assim... rsrsrs... Sempre que falo de música, lembro de umas revistas que meu irmão Betão colecionava: "Violão e Guitarra - A Revista que canta na sua mão", Vigu para os íntimos!

A revista trazia as letras e as cifras, porque era voltada para quem estava aprendendo ou tocava e, no caso, meu irmão tocava violão, guitarra, baixo e o que viesse pela frente... rsrsrs... Lembro que a gente cantava as músicas enquanto ele tocava violão... era uma diversão!

Pesquisando na internet, só por curiosidade, encontrei exemplares da Revista Vigu que em casa ficavam até gastos de tanto a gente folhear e cantar! A música sempre se fez presente em nossa casa, minha infância teve uma trilha sonora da mais alta qualidade, de vários estilos, nacional e internacional. E a Vigu era ótima, porque trazia sucessos maravilhosos que, ao longo dos anos, se tornaram clássicos!


Hoje, as pessoas não sabem mais o prazer que é ouvir um disco de vinil em uma vitrola ou aparelho de som estéreo, daqueles com duas caixas grandes (em cima das quais era comum colocar um vasinho de planta ou um porta-retrato... rsrsrs) e aí com o encarte do LP nas mãos para não errar a letra, ouvia-se belas canções, tendo uma experiência cada vez mais rara. Aliás, o tato é um dos sentidos menos usados, atualmente, porque nas relações digitais não há abraços, as conversas se dão por meio de telas, impessoais, não há calor humano, não há toque e nada de momentos olhos nos olhos, como cantou Chico. Ouvindo música apenas em plataformas on-line não há mais a satisfação de arrumar os discos na estante, de admirar cada detalhe da capa e até de aconchegá-los em um abraço reconfortante, fazer o quê... outros tempos! Mas voltando ao tema revista...

Com a dupla Vigu/Betão, aprendi letras de músicas em inglês, como “Sharing the night together”, da banda norte-americana Dr. Hook; e em italiano, como “Io che amo solo te”, de Sergio Endrigo, entre outras tantas.

Ouvir os acordes do violão do meu irmão, com aquele suave arranhar nas cordas é dos melhores e mais construtivos passatempos que tínhamos... ficávamos sentados juntos, cantando sem nos preocupar com as eventuais desafinadas, aprendendo letras marcantes, vivenciando a época por meio da música. Esse tipo de experiência é que nos constrói, que nos molda pra vida, que nos faz quem somos! Viva a beleza da música! :)


* A crônica de hoje vai para o aniversariante Betão, meu irmão que todo mundo chama de Giba, mas como dizia minha saudosa mãe, eu não sou todo mundo, portanto, vou continuar chamando-o de Betão mesmo! Parabéns para meu violonista/guitarrista/baixista preferido! ❤️ 

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Mate com leite e Filosofia

 – É lamentável como as pessoas, hoje, não tem compaixão por ninguém... em situação nenhuma!

– Tá lembrando do episódio na cafeteria, né?

– Você não concorda?

– Claro que concordo, inclusive, tive vontade de levantar na hora e socar aquelas duas metidas...

– E um dos caras também, porque o único que parecia menos metido foi o que levou o banho de café gelado ou seja lá o que tinha naquele copo enorme.

– Ahahaha... desculpe, mas tive que rir. Você falou em copo enorme, lembrei daqueles dias insanos em que parava no Centro e tomava mate com leite. O atendente servia num recipiente tamanho família e colocava o copo do liquidificador do lado, dizendo: esse é o chorinho! Ahahaha... No caso, era chorinho porque a gente saía até triste depois de mergulhar num mar de leite em pó batido com chá mate gelado... bons tempos!

– Hoje você não conseguiria...

– Joga na cara que não tenho mais idade pra isso!

– Ahahaha... não é isso, amor! É que hoje somos mais comedidos...

– Chega de falar em acidentes de trabalho, incompreensão humana e aventuras da juventude...

– É melhor! Vamos falar de gastronomia!

– Gastronomia? Pensei que íamos mudar de assunto.

– Já mudamos!

– Cafeteria e mate com leite... curioso, mas pensei que ambos fizessem parte do rol da gastronomia.

– Não! Nada de lanches, quero falar de almoço... de jantar!

–Ah! Mas de gente normal ou aqueles cheios de talheres e copos de vários tamanhos?

– Ahahahah... dos mais finos!

– Acredito que eu não tenha repertório suficiente pra esse tipo de conversa, moça elegante!

– Ahahaha... Para com isso, fomos convidados pro jantar do...

– Não me lembre disso. Por mim, declinávamos na hora que chegou o convite.

– Temos que aproveitar as oportunidades e ter novas experiências! Não seja troglodita, amor!

– Ahahaha... troglodita e amor na mesma frase... adorei!

– Combinam com você, querido!

– Ah! Não seja cruel, não sou um troglodita, só não gosto de frescuras ao extremo!

– Então, cite uma frescura leve que você aguentaria.

– Você: levemente fresca!

– Ofendeu! Não gostei, vamos encerrar a conversa, se não você vai ver quem é...

– ... troglodita? Ahahaha... Adoro seu lado "vamos partir pra ignorância"! Mudando de assunto, mas ainda dentro do tema jantar, finalmente, conclui a leitura de "O Banquete", de Platão! 

– Ah! Que filosófico!

– Não seja irônica...

– Imagina, tô mó orgulhosa de você ter tido coragem de ler Platão, afinal, faz alguns meses que te dei de presente..

– Tive de me preparar... é uma leitura densa...

– Tudo bem... mas agora quero suas considerações!

– Assim de repente?

– Ué... você que veio todo animado dizendo que tinha lido! Vamos comentar!

 Tá bom! Logo de cara achei instigante o fato de Platão não ter participado do banquete, que contou com a presença de atenienses ilustres, entre eles, Sócrates. No encontro, os intelectuais apresentaram suas impressões sobre o Amor e o poder que ele exerce sobre nós.

– Uau! E qual sua conclusão sobre o Amor?

– Não sou filósofo, tampouco um intelectual capaz de formular uma resposta definitiva! Depois desta primeira leitura, refletindo um pouco, acredito que o Amor é um dos maiores bens do ser humano, concordo que ele nos estimula a nos conhecer melhor e buscar quem nos completa, para então fundir-nos com a pessoa amada e, juntos, nos transformarem em um só.

– Que lindo, amor! Você acredita que também refleti sobre isso quando li "O Banquete"?

– Claro que acredito! Uma das coisas que sempre nos uniu é a forma de pensar, de entender o mundo, de sentir as coisas...

– Tá inspirado! E o que achou do outro texto: "Apologia de Sócrates"?

– O discurso de defesa de Sócrates durante seu julgamento é magnífico, até marquei alguns trechos, como este: "Por toda parte eu vou persuadindo a todos, jovens e velhos, a não se preocuparem exclusivamente, e nem tão ardentemente, com o corpo e com as riquezas, como devem preocupar-se com a alma para que ela seja quanto possível melhor, e vou dizendo que a virtude não nasce da riqueza, mas virtude vem, aos homens, as riquezas e todos os outros bens, tanto públicos como privados".

– Lindo! Também gosto do trechio em que ele diz: "... o maior bem para um homem é justamente este, falar todos os dias sobre a virtude e os outros argumentos sobre os quais me ouvistes raciocinar, examinando a mim mesmo e aos outros, e, que uma vida sem esse exame não é digna de ser vivida...". É de uma sensibilidade, de uma humanidade que atualmente anda em falta...

– Enfim, obrigado pelo livro, amor! Você me tornou um homem mais reflexivo e feliz... porque ao seu lado, como diria nossa premiada, a vida presta!

– Posso te abraçar, meu filósofo preferido?

– Deve! :)

sábado, 6 de setembro de 2025

O Astro-rei e a sobremesa


– Hoje eu tava olhando uma vitrine contra o Sol... Nossa, como o Astro-rei é impiedoso... mostra tanto os defeitos da limpeza mal feita, quanto acentua nossas rugas. Fujam do Sol!


Ahahaha... mas quais rugas, amor?

As que teimam em aparecer em meu rostinho angelical... ahahaha...

Ahahaha... você está duplamente equivocada!

Duplamente? 

Você ainda não tem rugas e seu rostinho não é angelical.

Primeiro, obrigada com relação à falta de rugas... mas eu não tenho um rostinho angelical? E tenho cara de quê?

Cara, não... rostinho de uma mulher perspicaz, astuta... e atrevida!

Gostei... tá perdoado!

Ótimo! Então, vamos passear conforme combinamos?

Combinamos?

Não seja engraçadinha... combinamos de ir...

... à exposição? Ah! Pelo sorriso safado, acertei!

Ahahaha... quer dizer que, enquanto digo que você é perspicaz, astuta e atrevida, você me vem só com um "safado"? Que injustiça!

Safado, inteligente, amoroso...

Uau! Isso me animou sobremaneira! 

– Ahahaha... controle-se, porque temos uma exposição pra desbravar! 

Mas temos que seguir toda a programação!

Claro! Iniciamos com cultura, em seguida, com gastronomia!

Só não me venha com alta gastronomia.

Ahahaha... até parece! Vamos à cantina comer uma massa estupenda, acompanhada de um vinho...

... magnífico?

Isso mesmo! E uma sobremesa que amamos... que é a...

–...torta de chocolate? Bolo de cenoura? Petit gateau? Canolli? Sorvete de massa?

– Que coisa, como gostamos de sobremesa, hein?

Ahahaha... gostamos mesmo, mas a que você estava pensando não é nenhuma dessas!

Não!

–  E, obviamente, você quer que eu acerte a verdadeira... ahahaha...

Não seja indelicado! Posso não ter rostinho angelical, mas sou sensível,  a nossa sobremesa devia ser marcante pra você também.

Calma, minha querida, vou lembrar... prometo.

Não prometa o que não pode cumprir, este é um dos nossos lemas de casal!

Assim fico sem saída, mas tá bom, refresque minha memória...

Como eu gostaria de colocar sua cabeça dentro do freezer pra te refrescar a memória, literalmente, amor!

Ahahaha... esse "amor" concluindo a frase me desarma totalmente...

Ahahaha... sei! Agora não enrola e diga logo qual é a nossa sobremesa preferida!

Nossa sobremesa preferida seria Torta Caprese?

Não me venha com pergunta, safado, quero a resposta!

Ahahaha... me senti num faroeste agora.

Ahahaha... não adianta me fazer rir, se você não acertar nossa sobremesa preferida vou chorar e não vai ser pouco... prepare-se!

Ahahaha... Está bem: Torta Caprese foi a primeira sobremesa que compartilhamos e, desde então, sempre que saboreamos é como se fosse a primeira vez!

– Você conseguiu me emocionar, querido! A Torta Caprese, realmente, é mais do que a sobremesa preferida, ela faz parte da nossa vida! 

– Por isso adoro saborear com você cada fatia da nossa história, amor! :)


* A foto do Sol é de minha autoria, adoro fotografar o nascer do Astro-rei! Já a da Torta Caprese consegui pesquisando na internet, é do NYT Cooking.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Mestre do humor e dos diálogos certeiros!

Recentemente, perdemos o mestre das crônicas e do humor refinado, Luis Fernando Verissimo! Um escritor sensível às coisas da vida, que usava magistralmente o humor para tecer o cotidiano, sempre cultivando a fina ironia e nos fazendo rir e nos identificar com as mais diversas situações e personagens comuns e, ao mesmo tempo, complexos!

Acima de tudo, Verissimo era um autor das humanidades! Observava o dia a dia com olhos atentos de quem sabe o que realmente importa. Marcou seu nome com letras maiúsculas na Literatura Brasileira e no coração de nós leitores!

Lembro que ao ler a coletânea de crônicas "Comédias de Vida Privada", lançada em 1994, fiquei encantada com a forma leve e fluida como o autor escrevia, mesmo quando abordava temas pesados como as mazelas da política. 

 Mais tarde, com o sucesso do livro, foi criada a série de TV "A Comédia da Vida Privada", exibida na Rede Globo, que me arrancava gargalhadas, mas que esta semana me fez chorar, revendo algumas cenas... até senti saudades da Gi de anos atrás que correu pra comprar as "Novas Comédias da Vida Privada" (1996) e continuar se deleitando com o humor inteligente e ágil do grande cronista.  

Verissimo e seus diálogos geniais me inspiraram como leitora e me inspiram a escrever minhas humildes e despretensiosas crônicas. Para contar boas histórias também é preciso saber ouvir, prestar atenção no movimento nas pessoas, na cidade e ele sabia como poucos! 

Como não falar de seu lado quadrinista! As tirinhas "As Cobras", cujas personagens, de traços simples e despojados, discutem de tudo, filosofia, política, a imensidão do Universo, futebol... Aliás, outra coisa que adoro em Verissimo e me identifico é seu amor pelo futebol, no caso dele, mais especificamente, amor pelo Internacional de Porto Alegre! Inclusive, um amigo meu, postou esses dias uma bela frase dele sobre o esporte: "Só o futebol permite que você sinta aos 60 anos exatamente o que sentia aos 6. Todas as outras paixões infantis ou ficam sériasu desaparecem, mas não há uma maneira adulta de ser apaixonado por futebol"! Concordo... só que minha torcida especial vai para o Saaaaaantos! Viva a democrática crônica que nos oferece liberdade pra falar dos mais variados assuntos! Salve a Literatura Brasileira! Todo o meu respeito e reverência ao mestre! Viva Verissimo! :)


* Agradeço a generosidade do querido quadrinista Orlandeli (@orlandeli) que, gentilmente, autorizou que eu ilustrasse minha carinhosa crônica com sua arte/homenagem! Obrigada e parabéns pelo trabalho! 😉 

sábado, 30 de agosto de 2025

Reencontrando uma amiga de infância

A Tina é uma das personagens do Maurício de Sousa que sempre gostei muito, quando criança até tive uma boneca de plástico, com aqueles óculos redondos, calça jeans boca de sino e o colar com o símbolo hippie... ahahaha... adorava o estilo! Confesso que não acompanhei de perto suas mudanças, mas continuei gostando dela, do Rolo, da Pipa, do Zecão! 

Sinceramente, gostaria que ainda tivessem histórias da Tina em sua forma clássica, a menina despojada, estilo paz e amor, mas tudo bem... também admiro a forma como ela evoluiu ao longo dos anos, acompanhando as mudanças de comportamento da sociedade e até da moda!

Ah! A Tina sempre teve um lugar de destaque nas minhas leituras de histórias em quadrinhos... e há pouco tempo, quando vi que estava sendo relançada a trilogia "Tina e os Caçadores de Enigmas", originalmente lançada entre 2007 e 2008, fiquei curiosa, porque não cheguei a ler na época e porque Tina está mais madura, cursano a faculdade de... Jornalismo! Ah! Aí não teve jeito, tive de conferir! Adorei revê-la, foi como reencontrar uma amiga de infância, que tem muitas coisas em comum comigo... escolhemos Jornalismo! E somos bem-humoradas! Ahahaha...

O primeiro volume da trilogia é muito divertido, Tina, Rolo, Pipa e Zecão se aventuram no interior de São Paulo em busca de informações sobre extraterrestres. Durante toda a trama, os personagens fazem referências a filmes que adoro como "Guerra nas Estrelas", "De volta para o futuro", "ET, o extraterrestre", além de temas relacionados ao espaço. É uma leitura leve e, ao mesmo tempo, instigante, repleta de citações, cores vivas e a arte irretocável da MSP Estúdios.

Gostei tanto que já comprei o segundo volume... e o terceiro? Já está em pré-venda... Oba! Pra quem gosta de histórias em quadrinhos, nada como revisitar uma personagem adorável! Viva as HQs nacionais... e as internacionais também... rsrsrs... :)

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Releitura de um grande clássico

Quando vi pela primeira vez a graphic novel "Jane", da roteirista estreante nos quadrinhos, Aline Brosh McKenna, e do ilustrador Ramón K. Pérez, fiquei muito curiosa só de saber que era uma releitura do grande clássico "Jane Eyre", da escritora inglesa Charlotte Brontë.

Gosto muito do livro, inclusive, escrevi sobre ele aqui, em 2021, num texto em que falei de obras das três irmãs Brontë. Mas voltando à HQ, ela conta a história de Jane, uma jovem que perde os pais e, por ser desprezada por parentes, resolve ir viver em Nova York, onde estuda desenho e para se sustentar arruma emprego de babá de Adele, a filha de Edward Rochester, um executivo poderoso e cheio de mistérios.

Por ser admiradora da obra-prima de Charlotte Brontë, li com o maior carinho e respeito, mas, sinceramente, o que mais me agradou foi a arte. O ilustrador usa diversas técnicas para nos contar as várias fases da protagonista, no início, as dificuldades são representadas em P&B; quando ela conhece a criança, tudo fica mais colorido e alegre; quando Jane sonha acordada, os traços se tornam mais delicados... mas não vou contar mais detalhes.

Assim como a roteirista dedica a obra à Charlotte Brontë, considero que ler essa HQ também é uma forma de homenagear a autora de um dos maiores clássicos do século XIX, que marcou a Literatura e continua inspirando gerações de artistas e de leitores! Viva as HQs! Salve as escritoras! :)

sábado, 23 de agosto de 2025

Uma metralhadora de recomendações

Ilustração: Eduardo Arruda
– Quando vi, no parque, uma mulher bombardeando os filhos de recomendações sobre como brincar no balanço, lembrei da... ahahaha... não faz essa cara que eu não aguento... ahahaha...

– Nem fala o nome pra não dar ideia pro Universo... ahahaha...

– Ahahaha... tá bom, só ia dizer que lembrei do dia em que ela me convidou pra passar a tarde na piscina! Pensei que seria uma tarde agradável e divertida...

– Pelo jeito, imagino que não tenha sido uma experiência muito instigante!

– Engraçadinho, se continuar me ironizando não conto mais nada!

– Calma, amor! Não seja cruel, conta logo... eu sei que você quer compartilhar...

– Tá bom... foi um festival de orientações e alertas... ahahaha... Quando cheguei, tirei os chinelos e ela logo disparou: "cuidado com o piso quente, o Sol está a pino, fique sentada na canga pra não queimar a bunda, agora, mergulhe os pés na água... assim... mas, por favor, não bata os pés que vai me molhar toda e molhar em volta da piscina... o que é muito perigoso... alguém pode escorregar"...

 E você conseguiu falar alguma coisa?

De que jeito? Ela é uma metralhadora de recomendações... ahahaha...

Ahahaha... pelo menos, você se diverte... bela definição da criatura.

Pois é, mas na hora é uma tensão, só dias depois consigo me divertir com as sandices dela.

– Mas, em resumo, você chegou a entrar na piscina?

– Não! Na hora que eu falei que ia dar um mergulho, ela me cortou dizendo: não faça isso, vai ter um choque térmico, o calor está muito forte e a água geladérrima!

– Mas pra que existe piscina se não é pra refrescar?

– Pois é, tentei explicar que costumo primeiro colocar os pés para ir acostumando e só depois mergulho, mas não consegui convencê-la. Fiquei longos minutos só com os pés na água e, claro, sem mexer muito pra não molhar tudo... ahahaha...

– Mas que sem noção, será que ela mergulha?

– Disse que só no alto verão!

– Ela nem devia ter piscina em casa! 

– Se é complicada no calor... imagina no frio!

– É verdade, ela tinha uma casa no campo também...

– ... que já tive o prazer de conhecer! Mas vou contar no estilo dela: sentamos no chão perto da lareira, pra tomar o que achei que seria um belo café da tarde e eis que ela: "vou te pedir uma coisa, cuidado com as migalhas do pão no tapete, além de sujar podem te ferir, uma vez minha avó se cortou com uma casca de pão que alguém descuidado deixou cair no chão, foi uma correria, acabou com a festa. Mas não se preocupe, esse pão de leite não tem casca... no entanto, pode sujar o chão. Isso pegue a xícara, beba um gole de café com leite e, em seguida, morda um pedaço de pão, ajuda na mastigação... nem olhe para o bolo, depois você come, quando terminar o pão... já terminou? Então, pegue um pedaço do bolo, claro, use o guardanapo, ele é bem molhadinho, pode sujar sua mão que, consequentemente, poderá sujar sua roupa ou, pior ainda, sujar a toalha de linho, bordada por minha tataravó... como você pode ver, é uma joia de família e deve ser respeitada. Está gostando? Você está tão quieta... não está acostumada com tantas coisas deliciosas no café da tarde... entendo... mas não se intimide... depois podemos jogar dominó... ou ir no balanço sentir a brisa no rosto"... Sem brincadeira, perdi a paciência, levantei e saí dizendo que ia ao banheiro... ela deve estar me esperando até hoje! E já faz um bom tempo...  

– Tô impressionado... como você não perdeu o fôlego contando essa história!

– Foi uma homenagem a ela e seus bombardeios verbais!

– Ahahaha... posso te perguntar uma coisa?

– Pode, mas sem ironias... pergunte!

– Por que você é amiga dessa pessoa cheia de manias?

– Ahahaha... parece letra de pagode... Ah! Sei lá, quando a gente se conheceu na escola, ela me defendia...

– ... defendia de quem, amor?

– Nas brigas na hora do recreio...

– Ahahaha... nossa, mas você brigava no recreio?

– Eu não, mas sempre tinha umas monstras que queriam me bater... sabe como é, bonita, inteligente...

– ... humilde... ahahaha...

– Tô brincando, bobo! Na verdade, ninguém queria ser amiga dela, porque era mandona e irritava todo mundo... ahahaha... achei chato deixá-la sozinha, então, resolvi introduzi-la na turma!

– Uau! Bonita, humilde e magnânima... ahahaha... essa é minha garota! 

– Ahahaha... perspicaz, astuto e charmoso... este é meu garoto!

– Vem cá... agora, só quero bombardeios de carinho!

– Uau! :)


* A tirinha que ilustra esta crônica é do quadrinista e ilustrador Eduardo Arruda (@eduardobarruda), que, gentilmente, autorizou que eu publicasse sua arte aqui em meu querido blog! Obrigada e parabéns pelo trabalho! 😉 

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Mezzo diversão, mezzo emoção!

A comédia italiana "Faz de conta que é Paris" é um aconchego! Ela narra a história de três irmãos que, depois de cinco anos afastados, se reencontram para satisfazer o último desejo do pai: viajar todos juntos para Paris! 
Dirigido e protagonizado por Leonardo Pieraccioni, que interpreta Bernardo, irmão de Ivana (Giulia Bevilacqua) e Giovanna (Chiara Francini), o filme tem momentos bastante divertidos e outros tensos, afinal, entre eles e o pai Arnaldo Cannistraci (Nino Frassica) há muita mágoa e problemas de relacionamento, que, aos poucos, vão sendo resolvidos ou, pelo menos, amainados.

A viagem de trailler, na verdade, acontece no haras de Bernardo, no interior da Toscana e, com a ajuda de conhecidos, os irmãos vão construindo cenários inusitados de uma Paris genérica para agradar o pai, que quase não enxerga, o que torna a tarefa mais fácil na medida do possível.

Preciso dizer que adoro comédias italianas e essa veio na hora certa! Estava precisando de algo afetuoso e, ao mesmo tempo, divertido! Gosto da forma como os conflitos são apresentados. A interpretação natural dos atores e a beleza da língua italiana são encantadoras, um prato cheio pra quem, como eu, adora a Itália e também as doces luzes de Paris!

Algumas situações são hilárias e os personagens secundários, muito bem construídos, enriquecem a trama, como os vizinhos, mãe e filho, que se incomodam com o tal trailer dando voltas no haras, os policiais, o ex-funcionário da universidade onde o pai dava aulas que encontra a família num restaurante... sem contar o flasback com a mãe, enfim, não vou detalhar as cenas, pois vale muito a pena assistir e ter suas próprias experiências!

A fotografia é agradável, o longa é de uma simplicidade que nos abraça... o roteiro, ágil e profundo, nos presenteia com ironia, drama e leveza na medida certa, ora nos levando às gargalhadas, ora nos emocionando e nos levando à reflexão. Ah! É uma doce e tradicional comédia italiana: divertida e emocionante... come noi... :)

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Um doce violeiro...

A Graphic MSP "Viola" sobre o personagem Chico Bento, terceira assinada pelo cartunista, quadrinista, chargista e ilustrador Orlandeli, é de uma poesia que nos acalma e aconchega! Esta é a primeira que leio, não que as anteriores não tenham me chamado a atenção, mas acho que essa me conquistou pela delicadeza do tema. Chico descobre que seu avô Firmino, que não chegou a conhecer, era um violeiro de mão cheia! 
A partir daí, o menino herda a viola e passa a se interessar pela história do avô e descobre que a música está no sangue da família, pois seu pai também é um grande violeiro.

A sensibilidade da narrativa e o traço refinado do autor encantam! Com sua simplicidade, Chico nos envolve em uma história repleta de beleza e emoção, mostrando sua conexão, por meio da música, com o avô e o pai, três gerações unidos pela viola! A ilustração é um caso à parte, com cores suaves, Orlandeli nos apresenta a beleza do campo em suas diversas nuances. Todos os personagens são bem construídos e decisivos na trama! Temos aqui um Chico Bento e sua turma cativantes como sempre! Viva a clássica e tradicional moda de viola! :)

sábado, 9 de agosto de 2025

Um lugar feito de música

Ler "100 discos para conhecer Aguardela", com roteiro de Daniel Lopes (um dos Pipoca & Nanquim) e Raphael Salimena (que também é responsável pela arte) foi uma experiência duplamente agradável e instigante! Primeiro, por ser em formato de LP, o que já é uma satisfação! E, segundo, por ter me feito lembrar, anos atrás, quando eu sentava em um pufe, ao lado do aparelho de som, e passava as manhãs de domingo ouvindo um disco atrás do outro... de MPB, rock, pop... que diversão! Inspiração no mais alto grau! 

A obra é uma coletânea de discos que conta a história de um instigante recanto chamado Aguardela, que, em 1950, com a chegada da cantora Dorinha, se transforma em um polo de música, encantando e influenciando gerações! Em uma jornada de 1950 a 2000, o leitor viaja pelos vários gêneros musicais e, por meio das capas e contracapas dos LPs, conhece os artistas, a cultura e os segredos e os encantos de Aguardela!


Para quem gosta de música (será que tem quem não goste?), é uma ótima oportunidade de descobrir novos sons, bandas e artistas, que embora fictícios, parecem reais pela força e beleza. 

Viva a música em todas as suas vertentes... porque, como diria Nietzsche, "sem a música, a vida seria um erro"! Viva a Cultura! :)

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Um quarteto simpático

Ir ao cinema é sempre uma experiência encantadora... pra mim, um ritual... quando sento na poltrona, as luzes se apagam e a tela se mostra majestosa, deixo o mundo lá fora e durante pouco mais de duas horas, mergulho na história, por isso mesmo sempre escolho muito bem o que vou assistir!

Desta vez, o que me levou à sala escura foi a curiosidade de conferir esse adorável Quarteto Fantástico, criado por Stan Lee e Jack Kirby, e que me fez lembrar do desenho animado, que assistia quando criança na TV... ah... deixa pra lá... ahahaha...

Voltando ao filme da Marvel, Quarteto Fantástico - Primeiros Passos... simplesmente, adorei! Gosto muito dos personagens, bem construídos, leves e ao mesmo tempo densos! A agradável fotografia é um destaque, com suas cores vivas, remete às histórias em quadrinhos e à arte de Kirby!

Os quatro personagens são ótimos e, realmente, formam um quarteto irretocável: Reed Richards (Senhor Fantástico), Susan Storm (Mulher Invisível), Jonathan "Johnny" Storm (Tocha Humana) e Ben Grimm (O Coisa)... não posso deixar de elogiar o elenco que dá vida a esses simpáticos heróis... Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn e Ebon Moss-Bachrach... que nos conquistam desde a primeira cena, com muita ação, pitadas de humanidade e humor na medida certa! 

É muito facil torcer por eles, não só nas cenas de ação em que estão salvando o mundo, mas também nos momentos em família, resolvendo tarefas do dia a dia... sem contar com o charme do robô Herbie cozinhando com Ben ou sendo babá de Franklin, filhinho de Reed e Sue. É encantador como os quatro combinam e se entendem até quando se desentendem... rsrsrs... caso de Johnny e Ben! Por falar em encantador, a cena em que Franklin salva a vida de sua mãe é uma das mais emocionantes e mostra que o pequeno tá longe de ser apenas um bebezinho! 

Ah! É o tipo de filme que diverte e emociona... saí do cinema bastante animada! Nada como super-heróis simpáticos pra nos inspirar num sábado à tarde! Se fizerem com o mesmo capricho, aceito uma sequência... rsrsrs... Gostei e recomendo! :)

sábado, 26 de julho de 2025

A arte de criar histórias

Escrever é sempre bom, mas escrever ficção, criar personagens e vê-los crescendo e se tornando independentes é encantador, porque os personagens são como filhos, que a gente lança no mundo, cuida, acolhe, incentiva suas descobertas e quando vê eles estão dizendo o que pretendem da vida, no caso dos personagens, o rumo da história!

Sempre gostei de escrever e de ter uma caneta e um caderninho por perto... afinal, as ideias não gostam de esperar, quando não temos onde registrá-las, as danadas desaparecem.

Mesmo adorando anotar minhas ideias no tradicional e querido papel, quando criança, o primeiro contato que tive com uma máquina de escrever foi arrebatador! Era uma portátil, muito lindinha, cor de laranja... ela me instigava a escrever, mas eu não podia usar muito, pois a preferência era do meu saudoso irmão mais velho, que à época já estava na faculdade.

Mais tarde usei muito essa máquina e lembro dela com carinho até hoje. Curiosamente, há pouco tempo, fui visitar um amigo que tem uma igualzinha como decoração... que linda! Se pudesse, teria aquela da infância comigo só pra lembrar da Gi menininha querendo escrever histórias...

O barulho das teclas de uma máquina de escrever é sem igual, digitar no computador pode até ser mais cômodo, quebrar menos unhas, mas nada como ser provocada pelo barulhinho das teclas e o sininho avisando que está na hora de mover a alavanca de avanço para mudar de linha e continuar a escrever! Agora, chega de falar da máquina, vamos voltar ao tema central, porque estou digitando e computador adora dar pau quando se sente preterido ou quer simplesmente nos lascar... rsrsrs...

Falei tudo isso para registrar que ontem foi Dia Nacional do(a) Escritor(a)! Uma data que gosto muito de comemorar, primeiro, porque adoro os escritores, sou uma leitora assídua... adoro Literatura brasileira e de tudo que é país, desde que me conquiste e me encante! Os escritores nos proporcionam viajar por diversos lugares fictícios ou reais e nos apresentam a milhares de personagens que nos fazem companhia durante a leitura! Admiro inúmeros nacionais... como os Verissimo (Érico, pai, e Luis Fernando, filho), Machado de Assis, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Chico Buarque, Fernando Sabino, Zélia Gattai, Clarice Lispector, Plínio Marcos, Nelson Rodrigues... e outros tantos!

Em segundo lugar, gosto de comemorar esta data por ter, humildemente, publicado três romances de forma independente, fico feliz em ter tentado entrar pra turma dos que criam histórias! Escrever, pra mim, é uma necessidade, por isso publico duas vezes por semana aqui em meu doce blog! Criar personagens é instigante e adorável... ter meus personagens por companhia é acolhedor! Viva a Literatura Nacional! :)

* Na foto que ilustra esta doce crônica, meus queridos três livros/filhos... "Procurando Sophia", "Infância, o recreio da vida" e "Correndo por aí" ❤️ ❤️ ❤️

quarta-feira, 23 de julho de 2025

É preciso manter-se em movimento!

– Às vezes, penso em fazer yoga!

– Com som de acento agudo ou circunflexo?

– Ahahaha... é mesmo, antigamente a gente falava yóóóga! Agora, dizem que o certo é yôga, com o som do "o" bem fechado!

– Aula de pronúncia à parte, continue...

– Pois é, eu tava dizendo que queria praticar yoga... quando leio sobre o assunto fico animada, mas só de pensar nas poses que é preciso fazer, desanimo...

– Por que, amor? Você sempre foi uma quase atleta!

– Realmente, quase corria, quase ia à academia, quase jogava futebol...

– Como é que é? Você quase jogava futebol? Como nunca me disse antes?

– Talvez pra não aumentar sua patrulha sobre o fato de ser uma quase atleta!

– Que maldade! Eu não faço isso... só me preocupo... antes, a gente ia junto pra academia, caminhando, agora você não quer nem que eu te leve no colo ou de carro... ahahaha...

– Engraçadinho! Você sabe por que parei de ir à academia... meu joelho está levemente estourado...

– Adoro sua delicadeza... levemente estourado... ahahaha...

– Sinceramente, não sei onde está a graça! Ah! Só pra lembrar... você também foi quase jogador de basquete! 

– Parei porque entrei na faculdade e não dava pra conciliar as duas coisas.. o que foi? Não me olha com essa cara de que eu não tinha altura pra isso... em primeiro lugar, eu era armador, não precisava ter dois metros de altura, em segundo, sou bem alto para a média geral!

– Não fica nervoso, meu quase anão! Ahahaha...

– Se 1,85 m pra você é quase anão... fazer o quê?

– Tô brincando, amor! É claro que você é alto... 1,85 m de charme e de preguiça de treinar basquete!

– Ahahaha... não tenho mais energia pra correr uma quadra armando jogo pra um bando de sem noção... mas chega de enrolar e diz logo por que não vai fazer yoga!

– Eu não disse que não vou fazer yoga... só estou refletindo se vale a pena tentar fazer aquelas poses... e se eu não tiver jeito pra coisa? Vou pagar pra ser humilhada... ahahaha... ainda bem que consigo rir dessa miséria toda... ahahaha...

– Ahahaha... o humor é tudo! E quando temos alguém pra rir junto então... aí que ninguém segura a gente!

– Cúmplices na alegria e na zombaria!

– Ahahaa... agora, sinceramente, precisamos voltar a fazer alguma atividade física juntos... ou não... desde que a gente se mexa! Nosso corpo precisa de movimento!

– Será que consigo fazer yoga? Já me disseram que é bom pra quem tem problema de joelho...

– Tem que tentar, amor! Eu te levo amanhã, que tal?

– Nossa, mas amanhã não ia ser nosso dia de folga? Pra gente fazer nada com propriedade e sem culpa?

– Ahahaha... Se a gente organizar direitinho dá pra não fazer nada brilhantemente e depois irmos conferir se você vai se tornar a mais nova praticante de yoga do pedaço!

– Ah! Não exagera, amor! Mas aceito a programação... com uma condição... você tem que ficar o tempo todo me assistindo... ahahaha...

– Melhor filme é te assistir, amor!

– Uau! Que romântico! Pensando bem, já que você falou que precisamos manter nosso corpo em movimento... vem cá que vou te mostrar minhas teorias sobre a necessidade de movimento... ui! 

– Uhuuuuuu! Tirem as crianças da sala! :)