sábado, 12 de abril de 2025

Clara e Martinho

Nesta semana de saudades, a Gi menininha que habita em mim resolveu se manifestar! Lembrei das reuniões e festas de aniversário, que aconteciam em casa há décadas, ao som de música de qualidade! Cresci ouvindo os maiores nomes da MPB, mas quero falar especificamente de dois ícones que foram marcantes pra mim: Clara Nunes e Martinho da Vila.

Clara Nunes era uma festa de talento! Adorava sua presença iluminada, sua interpretação era irretocável e seus vestidos, um sonho! A delicadeza do figurino e a força da sua voz me encantavam! Lembro de cantar "Conto de Areia" (Romildo Bastos e Toninho Nascimento) desde sempre, acho uma das mais poéticas! A canção "Alvorecer" (Délcio Carvalho e Dona Ivone Lara), então, que linda! Sem contar a divertida "Meu sapato já furou", que eu cantava meu sapato já "fujou", coisas de Gi pequenininha... rsrsrs... 

Já Martinho da Vila era trilha sonora constante em casa! O disco "Canta canta, minha gente" era um dos que mais tocava... a música título é um hino à alegria, aliás, Martinho me ensinou a cantar sorrindo e isso é uma grande lição... é aprender, antes de tudo, a celebrar a vida, driblando os problemas! Mas desse LP cantávamos com a mesma empolgação todas as faixas (acho faixa tão mais elegante... Ah! Discos de vinil, aquele chiadinho que antecedia a introdução das canções era um charme).

Assim como há muitas outras canções que adoro na voz de Clara, como "O mar serenou" e "Canto das três raças"; do Martinho tem outras tantas que valem muito a pena ouvir a qualquer hora, como "Disritmia", "Casa de bamba", "Segure tudo" e a doce "Roda ciranda", que é daquelas que não dá pra ouvir parada... rsrsrs... a voz do Martinho é um aconchego só! Os dois merecem todos os aplausos por tornarem nossas lembranças ainda mais bonitas! 

Vida longa ao grande Martinho da Vila! Salve minha eterna cantora preferida Clara Nunes! :)

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Dias de saudade...

– Ouvi nossa querida criadora/autora falando com ela mesma que esta é uma semana de saudades!

– Também ouvi! Saudade é coisa complexa!

– Sim... e pode vir acompanhada de sorrisos ou de lágrimas, às vezes, dos dois ao mesmo tempo.

– Você tem saudade do quê, amor?

– Ah! De muitas situações, pessoas, animaizinhos de estimação...

– Mas a maioria dessas saudades provoca lágrimas ou sorrisos?

– Tudo misturado...

– Prefere não falar sobre esse tema delicado, minha saudosa preferida?

– Não é isso, mas penso que se a semana é de saudade pra nossa querida criadora/autora, talvez ela não queira que a gente fique falando sobre esse assunto.

– Ah! Mas essa é uma estrada de mão dupla... assim como ela nos inspira a refletir sobre nossas saudades, a gente tá sempre inspirando-a com nossos diálogos! Inclusive, acho que ela falou isso pra gente ouvir e dissertar sobre o tema!

– Nossa, pensando bem... é isso mesmo! Como você é sensível, amor! Fico admirada com sua conclusão, porque concordo muito. Sem contar que somos parte dela e ela é parte da gente!

– Exatamente... somos parte uns dos outros!

– Então, acho que ela não vai se importar se eu falar da saudade que sinto de um cachorrinho que tive na infância!

– Claro que não! Conta, amor!

– Ele ficava sentadinho em cima do muro de casa, esperando eu chegar da escola.

– Mas ele ficava no sol, na chuva... em qualquer clima?

– Na verdade, ele só subia no muro minutos antes de eu chegar... minha mãe não queria ele sozinho no quintal por muito tempo.

– Ele era pequeno?

– Sim... era um amendoinzinho! Era um chihuahua de pelo longo. Leve e fofo como uma pluma!

– Que lindo! Devia fazer uma festa quando você chegava!

– Ah! Era uma alegria! Eu largava a mochila e a lancheira no chão e ele pulava no meu colo. Tenho muita saudade desse tempo... chegar da escola e ver um serzinho daquele me esperando tornava a infância ainda mais bonita!

– Não sou um cachorro, você não volta mais da escola, mas estou sempre aqui te esperando, amor!

– Ahahaha... bobo! Como você é um pouquinho maior que um chihuahua, prefiro pular no seu colo... é mais seguro!

– Ahahaha... quer colinho agora ou posso falar de saudade?

– Mais tarde vou cobrar esse colinho, mas agora conte uma saudade sua!

– Enquanto ouvia sua história, lembrei que tenho saudade de quando ia à banca de jornal comprar histórias em quadrinhos e de quebra levava um gibi, daqueles de amendoim, pra adoçar a tarde... ahahaha 

– Ahahaha... aposto que lembrou do gibi quando falei do meu amendoinzinho!

– Na verdade, quando começamos a falar de saudade, lembrei das idas ao jornaleiro, aí você falou do seu amendoinzinho e logo lembrei do meu doce preferido... então, tive certeza que era a saudade perfeita a ser lembrada neste momento!

– Você tem bom gosto, amor! Também adoro gibis, os de amendoim e os de ler... ahahaha 

– A banca de jornal era de um casalzinho, dois velhinhos muito simpáticos, enquanto ele separava os melhores quadrinhos, ela embrulhava dois gibis sempre fresquinhos, que eu levava pra casa e dividia com minha mãe e meu pai... sempre gostei de compartilhar tudo com eles! E quando estavam sossegados, líamos juntos as revistinhas a tarde inteira... era muito bom!

– Que linda lembrança, amor... cheia de nuances... o casalzinho da banca... seu pais... emocionei!

– Ahahaha... linda! Não fala assim que eu desmonto...

– Essa nossa querida criadora/autora é esperta... fez a gente abrir nossos baús de lembranças... espero que a gente tenha amenizado as saudades que inundaram a semana dela!

– Deve estar emocionada também... ela adora uma lembrança de infância... rsrsrs

– Sim... mas agora quero o colinho que você prometeu...

– Então, vem cá minha paçoquinha...

– Ahahaha... tô indo, meu super-herói! :)


* Esta divertida e delicada crônica foi a forma que encontrei de homenagear os saudosos aniversariantes da semana: meu pai, na segunda-feira, minha mãe, hoje! ❤️

sábado, 5 de abril de 2025

Diversão garantida

– Álbum de figurinhas! Gosto!

– Ah! Você sabe que eu também! Cadê?

– Cadê o quê, amor?

– Você não tocou nesse assunto casualmente...

– Como assim?

– Te conheço, espertinha! Comprou um álbum novo pra gente completar?

– Ahahaha... tava aqui lembrando de álbuns que colecionava quando criança... Só pensei em introduzir um assunto agradável pra animar nossa tarde!

– Não acredito que é uma sessão de nostalgia!

– Por acaso você também não gostava de colecionar e, acima de tudo, completar álbuns de figurinhas na infância?

– Claro que adorava! Mas esse assunto não é passado pra nós,  já colecionamos vários álbuns de figurinhas juntos!

– Gosto de conversar sobre coisas relaxantes, mas pelo jeito você não quer sossego...

– Ah! Quero sossego, mas você falou de álbum de figurinhas, fiquei animado, gosto da adrenalina de abrir os pacotinhos... 

– ... colar a primeira figurinha e ficar imaginando a página completa...

– ... ver as páginas sendo preenchidas!

– Lembro que completei um álbum do Walt Disney na infância que foi marcante, porque a última figurinha foi difícil e tava toda amassada...

– Eu também consegui completar um álbum do Walt Disney... deu um trabalho do caramba, mas foi um prazer e um orgulho danado! Ahahaha...

– Ahahaha... é uma experiência adorável completar um álbum de figurinha na infância!

– ... e trazer isso pra vida adulta a dois, então, é muito bom! Será que a gente colecionou o mesmo álbum da Disney na infância?

– Não sei... mas é provável... por quê?

– Porque é muito romântico... unidos pelo amor aos álbuns de figurinhas!

– Nossa, que poético, amor!

– Você que começou com esse assunto aconchegante... acabou despertando meu lado sentimental!

– Assim você me faz chorar...

– Tá emocionada também? Só aviso que se você chorar, choro também!

– Por favor, não vamos alagar a casa com nossas reminiscências do passado, não quero molhar os pacotinhos, muito menos o álbum!

– AH! EU FALEI QUE TINHA SURPRESA AÍ! O que você está escondendo em sua sacolinha cor mostarda?

– Cor mostarda é ótimo... ahahaha... mas calma, menino! Vamos pra sala, colocar tudo na mesinha de centro e sentar no chão como fazíamos quando criança.

– Agora você é que está poética, amor!

– Ah! Somos sensíveis mesmo, mas vamos com calma, primeiro colocamos todos os pacotinhos em cima da mesinha, abrirmos um a um, organizamos as figurinhas por número pra facilitar, sem esquecer de tomarmos extremo cuidado na hora de colar cada uma delas no álbum! Ah! Vamos colar figurinhas a tarde inteira!

– Oba! Então, cola em mim, amor! E vamos logo, que tô curioso! :)

quarta-feira, 2 de abril de 2025

A habilidade criativa de Gabo

Ler "Cem anos de solidão", de Gabriel Garcia Marques, é embarcar em um navio que te leva para o alto mar... revolto... cheio de perigos e encantos.

Gabo nos faz mergulhar na saga da família Buendía, cujos membros são todos marcados pela solidão, cada um a seu modo! Nessa viagem, quando nosso navio parece alcançar a calmaria, vem uma nova geração e provoca novas tsunamis de conflitos, medos, desejos.

Com personagens absolutamente bem construídos e cheios de nuances, a obra versa sobre o ser humano, suas dores, angústias, amores. E a solidão é como um tempero que distingue os Buendía dos demais moradores de Macondo.

A família começa com José Arcádio Buendía, fundador da cidade de Macondo, que se casa com Úrsula Iguarán, e têm três filhos: José Arcádio, Aureliano e Amaranta, nomes que se repetem pelas próximas gerações, o que, sinceramente, exige concentração total na leitura... rsrsrs...

Brincadeiras à parte, Gabo é um exímio contador de histórias e sabe como ninguém se valer do realismo fantástico para envolver o leitor. Enquanto Úrsula é a razão, o esteio da família, José Arcádio é a emoção, ele está sempre atrás de ideias que possam tirar a cidade de Macondo da solidão geográfica que a mantém fora da rota do progresso.

"Cem anos de solidão" narra a história intensa de uma família de solitários... e, ao longo de suas páginas, é quase impossível não refletir sobre nossa própria solidão. Finalmente, li o clássico inquietante desse colombiano admirável e Prêmio Nobel da Literatura (1982)! Viva Gabo! Viva a Literatura sul-americana! :)

sábado, 29 de março de 2025

A alegria de calçar um par de tênis

– Gosto de observar as pessoas no metrô, especificamente, os pés das pessoas!

– O que você quer com os pés das pessoas? Será que a cidadã com quem mantenho um belo relacionamento há anos é tarada por pés e eu não sabia?

– Bobo, claro que não, apenas olho pra baixo pra admirar os tênis...

– Só piora... espero que não seja uma metáfora... rsrsrs

– Tá difícil de dialogar hoje, hein?

– Tudo bem, vou ficar quieto, mas explica logo o que você gosta de fazer no metrô, longe dos meus olhos!

– Não seja dramático! Nas minhas observações, percebo que o tênis é o preferido, de variados modelos e cores, está presente na maioria dos pés. Fico tentando identificar a marca de cada um e quando gosto até pesquiso o preço... rsrsrs...

– Ah! Que alívio... pensei que você ficava admirando os... 

– Engraçadinho! Sou uma mulher de respeito!

– Agora você é que está sendo dramática. Acalme-se, porque na minha opinião o tênis é uma das melhores invenções que o mundo já calçou e isso resolve tudo! Ahahaha...

– Concordo! Tênis vai bem com calça jeans, moletom, pantalona, vestidos de todos os comprimentos e estilos; também vai bem com meia de cano curto, de cano longo, colorida, estampada, listrada!

– Sem contar que o danado enfrenta qualquer piso: emborrachado, laminado, cerâmico, de taco. São perfeitos pra proteger os pés e dar estabilidade nas calçadas esburacadas, ruas de paralelepípedo, ladeiras íngremes.

– É o companheiro ideal para caminhadas, andar de bicicleta, levar o cachorro pra passear.

– Combina com qualquer tipo de ambiente, torna a roupa social mais descontraída, é democrático e amado por pessoas de todas as idades.

– Além de ser democrático e amado por pessoas de todas as idades, calçar o bom e velho tênis sempre dá uma sensação de liberdade, fico até mais inspirada, criativa! Então, posso continuar analisando os pés das pessoas no metrô?

– Licença concedida! Ahahaha... agora, fiquei com vontade de comprar uma bicicleta e adotar um cachorro só pra ir buscar inspiração pelas ruas e parques.

– Que lindo, amor! Gostei da ideia, mas como estamos em contenção de despesas, é melhor sair mais tarde só pra caminhar mesmo, sem compras por impulso!

– Como você derruba assim meu castelo de sonhos, querida?

– Ó o drama de novo, amor! Mas se é pra gastar dinheiro, podíamos aproveitar essa nossa declaração de amor ao tênis e ir comprar uns pares novos pra nós... rsrsrs...

– Boa ideia! Só acho que o ideal mesmo seria sermos patrocinados por alguma marca de tênis daqueles top de linha!

– Ahahaha... esse é meu construtor de castelos de sonhos preferido!

– Ahahaha... insensível!

– Tá vendo? A vida de tênis é mais divertida! 

– Na sua companhia, a vida é divertida até de Conga... ahahaha...

– Ahahaha... que amor! A recíproca é verdadeira! :)

quarta-feira, 26 de março de 2025

Só observando...

Brigitte costuma ficar escondida de olhos curiosos durante os churrascos que sua família humana costuma organizar. Ela não gosta muito de eventos sociais... a não ser dos passeios pelo bairro, aí ela se solta e até dá seus pulinhos de alegria, mas os tais churrascos só servem pra ter certeza de que nem todos os humanos podem ser adoráveis, muito pelo contrário, alguns chegam a ser bem estranhos e cheios de manias.


A cachorrinha é o xodó do estressado Bernardo e da tensa Bárbara, o casal que, embora levemente esquisito, a alimenta de ração e amor! Ah! O amor enfraquece qualquer esquisitice, Brigitte também adora os dois, mas confessa ficar nervosa quando inventam essas reuniões.

Como não pode impedi-los de marcar os churrascos, a cadelinha, cujo nome é uma homenagem à atriz francesa Brigitte Bardot, aproveita pra observar os convidados e refletir sobre seus comportamentos bizarros.

A começar pelo próprio Bernardo, uma criatura difícil de entender. Adora cerveja bem gelada, mas esquece a bebida em cima da mesa distraído conversando com os amigos e quando vai provar, reclama que está quente... ninguém mais liga para seus rompantes. Na organização do churrasco, sempre erra as quantidades pra menos ou pra mais, normalmente, a picanha pra menos e a linguiça pra mais... por que será? Ahahaha...

No canto da sala, perto do aparador, um dos amigos de Bernardo, que Brigitte não lembra o nome, segura com as duas mãos um copo de Coca-Cola, tal qual uma criança de oito anos, e com os olhos voltados à churrasqueira gourmet, ele espera que um pedaço de picanha seja servido em seu prato, mas sem grandes perturbações. Afinal, um adulto que toma refrigerante agarrado ao copo como se o mundo fosse acabar, realmente, não precisa de mais nenhuma perturbação, está bem servido... ahahaha...

Brigitte olha a cena e até fecha os olhinhos lembrando o dia em que experimentou a bebida que fez cócegas em seu focinho e provocou uma corrida ao potinho de água pra se livrar do gosto melado do refrigerante. A cachorrinha dá uma sacudida para esquecer a sensação e olha para o outro lado do aparador, onde uma mulher, elegantemente vestida, tem o olhar irritado de quem reprova a tudo e a todos.

Dessa humana sem modos ela lembra bem e até ensaia um rosnado, inclusive, sempre que pode tenta passar o recado para Bárbara, que não leva muito a sério, porque pensa que é ciúme... isso é revoltante, porque os cães sabem bem distinguir quem é gente boa... e essa aí não é mesmo, mas um dia ela ainda convence Bárbara.

Cansada, Brigitte deita um pouco pra descansar, mas logo fica em alerta... acaba de ver o rapaz perto da janela, aquele ela gosta, é educado e sempre faz um carinho quando a vê. Levemente deslocado, o rapaz de calça-cargo parece levar o mundo nos bolsos, enquanto segura o celular como se aguardasse uma mensagem muito importante que tira, completamente, seu foco do churrasco.

Brigitte até suspira... rsrsrs... ele parece tão bonzinho, será que sofre por alguma humana desalmada? Ela já tentou várias vezes ouvir suas conversas, mas nunca conseguiu descobrir a razão de seu olhar de cachorro perdido... ahahaha... talvez por isso tenha um carinho especial por ele. 

Mas sua tranquilidade logo dá lugar à apreensão quando se depara com um dos convidados que pensa que pode acabar com o sofá que ela mal tem permissão de cheirar, quanto mais subir. Injustiça! Esparramado no sofá cor de pérola, o homem tem um copo de cerveja em uma das mãos e um daqueles chamados pratos de pedreiro na outra. Qualquer pessoa que admira sofás, mais ainda, sofás cor de pérola, deve ficar nervosa só de pensar o que pode acontecer se alguém chamar o cidadão de repente ou o volume da música aumentar, subitamente. Brigitte só não late em sua orelha, porque se o humano sem noção resolve manchar o sofá cor de pérola é capaz dela ser colocada de castigo por meses... quiçá por anos! Que horror!

Ah! Finalmente, sua querida humana vem para por ordem na casa. Bárbara é a última a aparecer... quando todos já estão acomodados e, principalmente, comendo e bebendo, pois acredita que assim diminui a vontade que eles têm de falar das mesmas coisas de sempre... como, por exemplo, pedir suas considerações a respeito da viagem que fez pra Birmânia há pelo menos 10 anos... que falta de repertório que assola esses humanos... sem contar os comentários recorrentes sobre ela parecer tão jovem... então, pra driblar essas chatices, faz questão de aparecer mais tarde, mesmo arriscando perder a rodada de muçarela de búfala.

Brigitte só sai de seu esconderijo quando ouve o barulho das colheres de sobremesa tilintando nos potinhos de sorvete. Uau! A reunião está acabando, logo vai poder ficar sozinha com seus humanos, assistindo a algum filme relaxante... e roncar tranquilamente esparramada no tapete.

Depois de mais um longo dia de churrasco, a cachorrinha chega à conclusão que não há problema algum com Bernardo e Bárbara. Na verdade, ele é estressado e ela tensa só com os outros humanos, com ela são doces e divertidos! Por sua vez, Brigitte só fica introspectiva nessas reuniões intermináveis, porque com eles é carismática, carinhosa e humilde... ahahaha... agora, chega de reflexões que tá na hora da ração... oba! :)

* A foto que ilustra esta crônica é de uma doce e fotogênica cachorrinha chamada Lady... ❤️

sábado, 22 de março de 2025

Outono

 – Ah! O sol de outono, céu azul iluminado, aquela brisa fresca... que gostoso andar por aí e depois...

– ... tomar um cappuccino!

– Como você sabe?

– Anos de convívio! Você sempre arruma um jeito de tomar um cappuccino... rsrsrs

– E você adora me levar por aí pra tomar cappuccino a qualquer tempo...

– E em todas as estações! É sempre um prazer!

– Mesmo quando você gostaria de tomar uma cerveja gelada num boteco?

– Claro... nada substitui a beleza de seu olhar pra xícara de cappuccino, aliás, sinto até um certo ciúme...

– Ahahaha... bobo... ciúme do cappuccino?

– Ciúme dos seus olhos brilhando pro cappuccino!

– Nossa... que romântico! O que houve?

– Deve ser o outono que deixa a gente mais sensível...

– Concordo, mas voltando ao tema ciúme...

– Desabafe, amor!

– Sabe do que fiquei com ciúmes outro dia? De ver você passeando de bicicleta... fiquei olhando da janela, parecia tão satisfeito em cima daquela magrela metida!

– Ahahaha... como assim?

– É verdade, nunca senti isso antes, mas aquele dia você saiu tão apressado dizendo que precisava andar de bicicleta pra desestressar, fiquei arrasada aqui pensando que antes você preferia desestressar comigo...

– Não fala assim, aquele dia eu tive trezentas reuniões no mesmo dia, precisava acalmar os ânimos pra aproveitar a noite com você, nem que fosse vendo um filme agarradinho...

– Sério? Fiquei meio perdida de te ver saindo com a bicicleta.

– Haja paciência com a gente, hein? Um com ciúme do cappuccino e a outra da bicicleta... ahahaha

– Ahahaha... deve ser o outono!

– Então, vamos parar com isso e aproveitar a tarde indo de bicicleta tomar cappuccino, que tal?

– Por que de bicicleta? Vamos à pé... assim podemos ir olhando a paisagem, as árvores...

– Os esquilos, as ararinhas azuis... quem ouve pensa que você tá num cenário das animações Disney... ahahaha...

– Engraçadinho!

– Tudo isso porque não quer me ver de bicicleta... ciumentinha adorável!

– Ah! "Adorável" me quebrou... nem consigo brigar.

– Ahahaha... sei como agradar sua pessoa... anos de convivência!

– Canalha cativante! :)

quarta-feira, 19 de março de 2025

Manhã agitada

 – Acordei sossegada, pensando em relaxar, mas tive que ficar sei lá quanto tempo tentando afastar uma abelha da lâmpada da cozinha. Parece brincadeira, eu só queria relaxar um pouco e, de repente, me vi com um pano de prato tentando acertar a abelha e torcendo pra ela sair pela janela... que canseira!

– Curioso, não ouvi nada.

– Claro que não ouviu, eu não falei nada durante a ação, fiquei só tentando espantar a abelha! Você queria ouvir o quê?

– Sei lá, você conversa com as plantas, pensei que conversasse com os animais... 

– Engraçadinho! Você acha que eu ia ficar discutindo com uma abelha? Depois de muitas tentativas de acertar um peteleco, ela veio pra cima de mim... aí fiquei furiosa e amassei a dita cuja!

– Como é cruel! Você não sabe a importância das abelhas para manutenção da vida na Terra?

– Ahahaha... você acha que eu ia conviver com uma abelha que estava pronta pra me atacar? Ela que vá polinizar pra lá... tá na cara que entrou aqui por acaso...

– Mais grave ainda! Você não acha triste a abelha estar perdida e você não ajudá-la a seguir seu caminho?

– Eu nem sei por onde entrou essa metida!

– Por que não me chamou?

– Ah! O herói! Você acha que eu não sei espantar uma abelha?

– É óbvio que não sabe! Você disse que esmagou a criaturinha!

– Ela tentou me atacar!

– Ahahaha... você fala como se tivesse sido atacada por um rinoceronte!

– Você ri, mas não pensa que se ela tivesse me picado eu poderia inchar como aquele peixe...

– Ahahaha... você por acaso tem alergia à picada de abelha pra pensar em inchar como um baiacu?

– Eu sei lá! Mas não vou pagar pra ver... tenho mais o que fazer do que testar uma possível alergia?

– Ah! Minha tese é que a abelha tentou te atacar porque você é doce como o mel, amor! Acalme-se!

– Que romântico! Espero que não tenha nenhum traço de ironia em sua frase.

– Irônico, eu?

– Irônico e insensível!

– Parece nome de livro da Jane Austin!

– Ahahaha... bobo! :)

sábado, 15 de março de 2025

Um legítimo produto cultural brasileiro

Entre as inúmeras entrevistas que a Fernanda Torres deu durante a campanha de "Ainda estou aqui" rumo ao Oscar, me chamou a atenção a que ela fala da importância cultural das telenovelas brasileiras: "Novelas nos viciaram em nós mesmos, ajudaram o Brasil a não ser tão colonizado por culturas estrangeiras... Temos autores muito bons, principalmente, ali na década de 80, tínhamos novelas espetaculares. E elas ensinaram o povo brasileiro a se assistir em português"! 

Aí fiquei pensando, cresci assistindo novelas e desde sempre admirava seus autores. Adorava as novelas das 19h, divertidas como "Guerra dos Sexos", de Sílvio de Abreu, e "Vereda Tropical", de Carlos Lombardi, e a incrível "Que rei sou eu?", de Cassiano Gabus Mendes, que criou personagens inesquecíveis, interpretados por grandes atores, em uma trama que mesclava humor e crítica social e política... na minha opinião, uma mais marcantes e inovadoras novelas de todos os tempos! Salve o Reino de Avilan... rsrsrs

Claro que as novelas das 20h (que, hoje, passam sei lá que horas... rsrsrs... faz tempo que não assisto) também eram ótimas e contavam com autores brilhantes, como Manuel Carlos, Benedito Ruy Barbosa, Dias Gomes, Janete Clair, Gilberto Braga, Walter Negrão, que nos emocionaram, divertiram e inspiraram! Mas, sinceramente, as chamadas novelas de época, das 18h, sempre me conquistaram, algumas por flertarem com a Literatura, outras por retratarem histórias simples e, por isso, adoráveis... minhas preferidas e mais batutas são as que se passam nas décadas de 1950 e 1960, adoro as músicas, cenários e tramas envolventes, como, por exemplo, "Estúpido Cupido" (Mario Prata), e "Bambolê" (Daniel Más, com colaboração de Ana Maria Moretzsohn).

Confesso que, ao longo dos anos, fui deixando o hábito de assistir três novelas por noite... rsrsrs, mas as da faixa das seis ainda continuam me conquistando... como a atual "Garota do Momento", de Alessandra Poggi. Adoro o figurino, trilha sonora, os personagens bem construídos, a fotografia que dá o tom de 1958, época que parecia que o Brasil era mais próspero, alegre e leve... o que dá um certo aconchego e nos tira um pouco da dura realidade. 

É fato que adoro ler, ir ao cinema, ao teatro, visitar exposições, enfim, qualquer programa cultural, mas também gosto de assistir minha novelinha das seis... rsrsrs... porque adoro a atmosfera dos anos 1950... o boliche, as lambretas, a TV Ondas do Mar, o Clube Gente Fina e uma elegância que parece que o mundo foi perdendo ao longo dos anos. O elenco todo está muito bem, mas destaco o trabalho de Danton Mello interpretando o dono da agência de publicidade Hi-Fi, Raimundo e sua gastrite impagável, enfim, uma novela que vale a pena assistir pra desestressar!

Ah! A cultura brasileira é muito rica em suas várias vertentes e merece sempre ser valorizada. Concordo com nossa totalmente premiada Fernanda Torres ao exaltar a relevância cultural das novelas brasileiras. Salve toda e qualquer manifestação cultural que tempera a vida e ajuda a construir nossa identidade! :)

sábado, 8 de março de 2025

Viajando no cappuccino

Escolhi uma mesa num cantinho pra relaxar tomando um cappuccino. Sim, gosto mesmo em pleno verão, não ligo para o clima, se tiver vontade, tomo sorvete no inverno. Ah! Agora lembrei de um gelato que saboreei pertinho do Vaticano... luva, cachecol, casaco, botas e um gelato de pistacchio... uau! Foi em uma viagem há alguns anos, incrível como me senti à vontade em Roma... adoraria voltar a caminhar por suas ruas históricas! 

Ainda saboreando meu cappuccino, continuei pensando, rascunhando num pedaço de papel e como uma coisa leva a outra, comecei a imaginar uma longa viagem por cidades italianas e, quem sabe, conhecer a terra natal do meu avô paterno... a cidadezinha aprazível de Pontremoli, que fica na região da Toscana! Vendo as imagens, me imaginei passeando por suas simpáticas ruazinhas, parando pra observar os cantinhos e ouvir o sotaque local... adoro ouvir conversas aleatórias em italiano!

Lembro da minha saudosa mãe dizendo que eu tinha uns comportamentos que lembravam meu avô italiano, meu saudoso pai ria e concordava... ahahaha... Grazie mille!

No último gole do cappuccino, já me vejo atravessando o Atlântico rumo à viagem dos sonhos, começando pela Itália de meu avô paterno e depois seguindo para Portugal pra conhecer Lisboa, Porto e a terra do meu avô materno: Ilha da Madeira! Opa, xícara vazia, Gi aventureira preparada, mil ideias de roteiro, só faltam os euros... rsrsrs... Um salve para meu avô italiano e para meu avô português! Viva o Brasil e suas misturas! :)


* A foto da cidade de Pontremoli, que ilustra essa singela crônica sobre inspiração e raízes, é de Lilian Donatti.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Uma voz e uma canção marcantes

Esta semana, a cantora e compositora Roberta Flack saiu de cena... e uma das músicas mais importantes de sua carreira me faz lembrar de certos domingos em que minha saudosa mãe fazia frango com macarronada ou risoto ou qualquer prato delicioso... e quando íamos nos reunir à mesa, ela me pedia: põe uma música suave pra gente almoçar! Eu ia toda animada e escolhia um LP específico, uma coletânea com diversos sucessos da música internacional. 

Mas sempre colocava o lado B, porque, na minha opinião, ele começava com a música mais linda do disco e, inclusive, combinava com o pedido da minha mãe: "Kiling me softly"!

A letra fala exatamente sobre como alguém cantando uma história pode nos tocar tanto... como se cantasse a nossa própria história! Pois é, as canções têm esse poder de nos emocionar, nos fazer viajar, recordar. Desde criança, em casa, vivíamos rodeados por livros e discos (de vários estilos), que faziam e continuam me fazendo sonhar!


Esta música é daquelas que quando ouço em qualquer lugar, paro alguns minutos só pra lembrar daqueles almoços de domingo... a voz suave, o piano, a levada bossa nova, é realmente uma pérola! Obrigada por tanto talento! Aplausos para Roberta Flack! :)



* As imagens que ilustram essa singela homenagem são do disco cuja primeira faixa do Lado B foi tocada repetidas vezes... canção que me marcou e me emociona desde sempre ❤️

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Vamos ao Theatro!

Durante o dia, nada de novo... organizo a casa, vou ao mercado, derreto com o calor absurdo, mas a noite prometia uma experiência duplamente inédita... nada de me recolher para ler e sonhar. Lá pelas cinco da tarde, tomo um banho, visto uma roupa confortável,  às 18h, pego a bolsa, peço um carro de aplicativo e sigo, pela primeira vez, para o imponente e deslumbrante Theatro Municipal de São Paulo para, pela primeira vez, assistir a uma ópera... no caso, a prestigiada "O Guarani", de Carlos Gomes, inspirada no romance de José de Alencar, que narra a história de amor entre Ceci, filha de um nobre português, e o indígena Peri.

Logo de cara me encanto novamente pela arquitetura, que fachada linda... tantas e tantas vezes passei em frente, sem nunca entrar. Subindo as escadas, sinto um leve arrepio provocado pelo clima cultural que me inspira desde sempre e com o qual me identifica tanto.

A arte está em todos os cantos, lustres, teto, esculturas... e a escadaria... é de tirar o fôlego! Cada passo me prepara para um encantamento ainda maior quando me deparo com as clássicas poltronas, as galerias, o fosso da orquestra, o palco... que beleza poder admirar um templo da cultura assim de pertinho, tantas histórias e artistas já passaram por ali! 



O ambiente é acolhedor e o encantamento parece recíproco, é como se o Theatro também se encantasse com seu público e a cortina fosse seu sorriso se abrindo para a plateia que retribui com emoção e aplausos!

O Theatro Municipal é como uma entidade... cujo palco sagrado já presenciou tantos movimentos culturais e apresentações impecáveis... um lugar tão marcante pra Cultura brasileira e mundial.


Mas a importância histórica do Theatro Municipal não me intimida, pelo contrário, sinto-me à vontade e curiosa pra assistir ao espetáculo. A montagem é uma releitura da ópera de Carlos Gomes, com a participação de indígenas da etnia Guarani do Jaraguá, que dão uma nova dimensão à obra, pois a narrativa e a música de "O Guarani" se entrelaçam com a sonoridade indígena. 

Foi uma bela primeira experiência que despertou em mim o desejo de conferir a programação completa de óperas do Municipal... rsrsrs... Confesso que em vários momentos me emocionei ouvindo a Orquestra Sinfônica Municipal, comandada pelo maestro Roberto Minczuk, o Coro Lírico Municipal, a Orquestra e Coro Guarani do Jaraguá, e os cantores líricos impecáveis, intensos e admiráveis! Música é reconfortante, inspiradora e altamente recomendável para uma vida saudável! Viva a Cultura! Salve os artistas! Meu profundo respeito aos indígenas, que seus direitos sejam cada vez mais reconhecidos! Aplausos para a beleza das óperas! :)

* Agradeço ao Gé (meu irmão) a oportunidade. As fotos são de minha autoria, feitas sob efeito de emoção e encantamento! ❤️

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Uma ilha e seus segredos

"Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", do escritor moçambicano Mia Couto, é o que se pode chamar de uma saga familiar. A obra conta a história do estudante Marianinho que volta à ilha de Luar-do-Chão e se vê em meio a intrigas e segredos da família, tendo sido designado para comandar a cerimônia fúnebre do avô Dito Mariano.

A narrativa é permeada pela fantasia, com pitadas de poesia que torna a leitura envolvente e, ao mesmo tempo, inquietante. Alguns trechos são encantadores, como: "A cozinha me transporta para distantes doçuras. Como se no embaçado dos seus vapores, se fabricasse não o alimento, mas o próprio tempo. Foi naquele chão que inventei brinquedo e rabisquei os meus primeiros desenhos. Ali escutei falas e risos, ondulações de vestidos. Naquele lugar recebi os temperos do meu crescer". 

A maneira poética de falar sobre a cozinha nos aproxima dos personagens. Nos identificamos, porque este cômodo da casa também no Brasil e em qualquer parte do mundo costuma ser lugar de encontros, conversas e lembranças da família!

Outro trecho que destaco é quando Marianinho chega à casa de seu pai Fulano Malta: "Em Luar-do-Chão não se bate à porta, por respeito. Quem bate à porta já entrou. E já entrou nesse espaço privado que é o quintal, o recinto mais íntimo de qualquer casa. Por isso, à entrada do quintal de meu pai eu bato palmas e grito: - Dá licença?". Isso me lembrou a infância, quando morávamos em casa e as palmas no portão eram o sinal de que chegavam visitas. Todo quintal, toda casa devem ser respeitados!

Além de falar das tradições do lugar, o autor aborda ainda os conflitos que o progresso traz ao meio ambiente, ou seja, um livro para refletir. Viva a Literatura em Língua Portuguesa! :)

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Nicolau e Marcelino

René Goscinny é um encantador roteirista de quadrinhos, que ao lado do ilustrador Uderzo nos proporcionou belas e divertidas aventuras do icônico Asterix. 

Mas hoje, quero falar de "O pequeno Nicolau" (Le petit Nicolas), de Goscinny com ilustrações do querido Jean-Jacques Sempé. 

A obra conta a história de Nicolau e seus amigos, alunos absolutamente arteiros, que enlouquecem a professora e deixam os inspetores e o diretor da escola de cabelos em pé.

Mesmo com várias situações embaraçosas e dignas de pestinhas, há toda a leveza e a alegria de uma infância saudável, de tempos em que o recreio era hora de brincadeiras e diversão certa para as crianças... longe de celulares e redes sociais... infância analógica... a melhor e, certamente, a mais recomendada!

Com esse menininho sapeca, Goscinny mais uma vez nos brinda com uma narrativa sensível para além da diversão, enfatizando o que é mais importante na vida, as amizades, saber lidar com as diferenças, e a alegria de contar com os pais em momentos difíceis.

A ilustração de Sempé em "O Pequeno Nicolau" complementa a narrativa de Goscinny com maestria, seu traço fino e delicado nos coloca dentro do universo desse menininho levado e nos faz lembrar de nossos tempos de escola.

Ainda sobre Sempé, todos aqui sabem o quanto admiro sua arte e não posso deixar de destacar também a leve e divertida historia de "Marcelino Pedregulho" (Marcellin Caillou).

Marcelino é um menino que fica enrubescido sem motivo, podemos ver seu rostinho vermelho em várias situações. Mas aos poucos, ele vai aprendendo a enfrentar o problema, driblando as perguntas de todos sobre sua "mania" de ficar vermelho do nada, até que um dia conhece Renato Rocha, um menininho que espirra toda hora, sem nunca ter ficado resfriado.

A partir daí, os dois se tornam amigos, aceitando suas peculiaridades como nas verdadeiras amizades até que, de repente, Renê muda de bairro e... não vou contar mais nada. Prefiro que cada um experimente os encantos do mestre do cartum. Em "Marcelino Pedregulho, os traços finos de Sempé são de uma delicadeza ímpar e, de maneira sutil, ele nos faz ora gargalhar, ora refletir! Viva a inspiradora Nona Arte! Viva Goscinny e Sempé! :)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Ah... esse calor

Olha, o verão tá de lascar! Desculpe quem gosta de calor, mas com as mudanças climáticas, que são lenda só pra gente tapada, os dias quentes estão cada vez mais insuportáveis.

– Por isso, tô sempre propondo refeições leves e muita água!

E se o calor fosse só de derreter os miolos, beleza! Mas tem as enchentes, os deslizamentos de terra... todos potencializados por esse clima de deserto extremo.

– Mas o céu tá bonito... iluminado!

– Concordo, mas é só pra gente se encantar e esquecer que daqui a pouco lá vem chuva da braba.

– Você está muito tensa, amor!

– Ah! É um calor do caramba... perco a paciência só de ver o termômetro de rua nas alturas! Mesmo assim, fui resolver várias coisas tentando ignorar o suor escorrendo pelas costas e dissolvendo a maquiagem!

– Percebi que você voltou chateada... desabafe... conta o que te deixou com o fio desencapado!

– Ahahaha... bobo!

– Provoquei um sorriso... tô no lucro... conta tudo!

– Vou ser bem sucinta: pra começar passei por quatro farmácias pra conseguir comprar um remédio, sendo que em uma delas quase esfreguei o nariz do atendente na receita pra ele entender o que estava escrito.

– Que vergonha, mas você não esfregou o nariz...

– ... claro que não... se eu fizesse tudo o que tenho vontade...

– Pois é, também tenho vontades que ficam só no pensamento.

– Sei bem, lembro como se fosse hoje... ahahaha... sempre quis falar essa frase emblemática... lembro como se fosse hoje você querendo quebrar a cara de todo mundo naquele café por causa de uma simples canela.

– Como simples canela? Eu não gosto de canela, deixei claro durante o pedido e eis  que o cara me apresenta uma xícara de cappuccino repleta de canela!

– O pedido era da mesa ao lado, o rapaz errou...

– Mas me irritou, porque quando eu disse que não gosto de canela ele fez uma cara de deboche...

– Já te falei que não foi deboche, o rapaz era novo no trabalho, tava nervoso... aquilo foi uma tentativa de sorriso de desculpas.

– Tá bem, mas voltando ao calor... o que mais aconteceu?

– Ah! Deixa pra lá... foram só alguns contratempos que não vale a pena relembrar...

– Ah! Que linda! Só vale a pena relembrar as minhas agruras? E cadê a mulher atormentada pelo calor extremo?

– Tô mais calma, aliás, você me acalmou, meu chazinho de erva-doce!

– Você gosta é de rir da minha cara... sacanagem!

– A recíproca é verdadeira, amor!

 Ahahaha... a gente é doce! :)
 

* A foto que ilustra esta calorosa crônica é o registro que fiz de uma tarde de sol escaldante.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Viagem dos sonhos

Safira olha o passaporte em cima da escrivaninha e um sorriso enorme se abre em seu rosto. Finalmente, vai realizar seu sonho! A viagem que planeja há tanto tempo está prestes a se concretizar! Cadernos repletos de anotações, pesquisas e mais pesquisas, poucas horas de sono, concentração total, tudo pra conseguir encaixar os vários destinos, Alemanha, Noruega, Itália, Portugal, França, Dinamarca, Estados Unidos, Canadá, em uma só programação! 

Roupas separadas, sem muita convicção, afinal, ela nunca sabe direito o que levar... rsrsrs... Na hora de separar calças, vestidos, casacos, cachecóis, meias, gorros as dúvidas surgem e quando chega ao destino sempre descobre algo que levou demais e outros itens que levou de menos... rsrsrs... De qualquer forma, uma certeza que tem é que pretende comprar algumas peças durante suas andanças. 
Tênis escolhidos: um par confortável pra relaxar no avião e outro que será o modelo oficial para as caminhadas. Sem esquecer que separou uma grana pra comprar mais um par em uma das cidades visitadas. Safira adora trazer tênis de lembrança das viagens, mesmo que amigos e familiares digam que esse tipo de calçado é pesado demais. Ora, quem ouve vai pensar que ela calça 50, como os jogadores de basquete... ahahaha... e mesmo que calçasse 50, certamente, traria um par!

Nécessaire é outro ponto crítico, ela sempre esquece algum item essencial. Desta vez, até comprou uma nova! Além de kit de escova de dentes, pasta e fio dental, porta-xampu e condicionador, hidratante e, enfim, lembrou de colocar lixa de unha, nunca se sabe quando a danada pode quebrar! Arrumou tudo com antecedência e só espera não esquecer de colocar a bendita nécessaire na mala de mão... rsrsrs... que coisa!

Várias listas do que fazer, quais itens relacionar e uma checagem antes de colocar o cadeado nas malas parece ser o suficiente, mas são tantas anotações que teve de dividir em dois blocos com capas distintas pra não se enrolar. Ao mesmo tempo que é muito organizada, é ansiosa, por isso, mesmo com tudo programado, em algum momento acaba se atrapalhando, mas nada que não seja, absolutamente, contornável!



Ainda falando de organização, Safira adora preparar os roteiros a partir de guias turísticos, daqueles que vêm com mapas! Pesquisar no celular, nem pensar, é muito chato e não tem nenhum glamour... rsrsrs... o negócio dela é publicações físicas, gosta de assinalar com clipes ou marcadores autocolantes. E, acima de tudo, gosta de voltar pra casa e ver o guia com as páginas cheias de orelhas, recheado de tickets de metrô e museus... adoráveis lembranças da viagem!

De todas as etapas, comprar euros e dólares é, certamente, a tarefa mais sofrida da preparação para a viagem. Safira esperava que quando resolvesse viajar, as moedas europeia e norte-americana já estariam menos agressivas. Ledo engano, continuam cruéis, então, o jeito foi ir à casa de câmbio o mais rápido possível, fingindo não se importar com a cotação nas alturas, sorrir e acenar para o atendente, mesmo que xingando o capitalismo selvagem em pensamento!


Quando chega o grande dia, ela está muito empolgada, afinal tudo foi minuciosamente planejado, o momento é de completa alegria, mesmo sabendo que o imponderável costuma dar o ar da graça em viagens, sejam grandes ou pequenas, ocasionais ou dos sonhos! Viva Santos Dumont que inventou o avião e nos facilitou a ida a terras estrangeiras!
Boa viagem, Safira! :)




* Os desenhos que ilustram esta doce e divertida crônica são de minha autoria... um hobby secreto... rsrsrs... A viagem de minha querida personagem Safira combinou tão bem com meus rabiscos que resolvi juntar o útil ao agradável... rsrsrs... Espero que gostem do lado urban sketcher da Gi... ❤️!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Aconteceu em Paris!

Um bistro francês, chamado Chez Picard, é o cenário de "Senhor Lambert", do mestre do cartum, Jean-Jacques Sempé. A obra mostra a rotina de dois grupos de amigos, que se encontram na hora do almoço, um discute política e o outro futebol. A garçonete Lucienne e o senhor Cazenave, único que almoça sozinho, dão charme ao simpatico bistrô, ele sempre apressado e ela com a palavra certeira.

Os dias passam, tudo segue dentro previsto, como o próprio cardápio do bistrô, até que um dia Lambert não aparece para almoçar. Todos ficam admirados e o grupo que gosta de discutir política pergunta o que aconteceu. Os amigos de Lambert, que costumam discutir futebol, respondem simplesmente: "A gente não se mete na vida particular dos amigos... isso é amizade".

A partir daí, só aumenta a curiosidade sobre o que fez com que Lambert deixasse de comparecer ao tradicional almoço de todos os dias.

O que será que esse senhor anda fazendo? Rsrsrs... Não vou contar, prefiro que vocês mesmo descubram, mas posso dizer que a leitura é muito divertida. A narrativa fluida e o traço, como já disse em postagem anterior, delicado e preciso são a marca do ilustrador francês.

Sempre vale a pena conhecer obras de referências mundiais. Viva os cartunistas! Salve a sutileza e a elegância de Sempé! :)

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Poéticos e humanos

Em "Homens imprudentemente poéticos", do escritor português Valter Hugo Mãe, a poesia permeia toda a narrativa. A leitura é densa e, por vezes, tensa, mas fluida. 

O autor conta a história de dois vizinhos, o artesão Itaro e o oleiro Saburo, no Japão antigo. Enfrentando todo tipo de dificuldades, os dois consideram-se inimigos, o que torna essa relação ainda mais difícil.

Saburo, que morava com a esposa Fuyu, cultivava há tempos flores na orla da montanha... sua intenção era que o jardim funcionasse "como escola de modos, uma lição de ternura e respeito que ensinaria a todas as fomes a importância de respeitar a vida das pessoas". Mesmo assim se tornou viúvo de maneira trágica.

Itaro, por sua vez, morava com a irmã mais nova, Matsu, e a criada, senhora Kame. Ele pintava leques e aprendera a arte com o pai. "O artesão era um cúmplice da natureza, um certo intérprete. Como se avivasse a memória antiga à coisa inerte. O gesto precisava ser único, sem repetição, para que a obra comparecesse na espontaneidade possível. Os crisântemos, explicava o pai, devem nascer de verdade no calmo papel de arroz. Mais do que pintar, os artesãos semeiam. Declarava solenemente. Semeia as flores no papel, filho. Lavra".

Apenas nesses dois trechos, percebemos a delicadeza crua desses dois homens, como o próprio título diz, imprudentemente poéticos! Ao longo das páginas, o autor joga luz às profundezas do ser humano, suas alegrias, tristezas, traumas, medos! 

Concordo com Laurentino Gomes, que escreve o prefácio, acima de tudo, a obra tem conteúdo profundamente humano. E vale a pena ser lida com calma e reflexão! Viva a literatura em língua portuguesa! Salve a sensibilidade de Valter Hugo Mãe! :)

domingo, 26 de janeiro de 2025

Acredite, você consegue!

O que poderia ser uma sexta-feira comum, em que, depois do trabalho, eu só precisava chegar em casa, tomar um banho, colocar aquela camiseta, sinônimo de aconchego, jantar, assistir algo leve e depois ler um pouco pra relaxar... se tornou uma saga, com direito a desespero contido, desabafos ao telefone e um final inusitado.

Mas vamos por partes... depois do dia virar noite por volta das 16h, saí do trabalho às 17h, já sabendo do desabamento de shopping na ZN, alagamentos pela cidade e trânsito começando a engarrafar por todos os lados, ou seja, o negócio tava bem estranho.

Na entrada do metrô, eis que me deparo com uma fila quilométrica para chegar à catraca. Pra completar, um aviso sonoro dizia que a estação Jardim São Paulo-Ayrton Senna da Linha 1 - Azul estava alagada e a circulação interrompida, o que significava que o desembarque final seria em Santana e os passageiros teriam à disposição os folclóricos ônibus do Sistema Paese. Ainda tentei um carro de aplicativo durante meia hora, mais por desespero do que por acreditar que ia conseguir. 

Sem chance, a única opção foi passar a catraca e me ver na plataforma com milhares de pessoas cansadas e quase se estapeando pra entrar no trem. Tentando manter a calma, encostei numa parede e perdi a conta do número de trens que vi chegar lotados, foram pelo menos uns 15. 

Depois de duas horas, consegui entrar num trem. No desembarque em Santana, ao descer as escadas rolantes vi milhares de pessoas com celulares em punho buscando ajuda. Passei pela catraca como se pisasse em ovos... nem tirei o celular da bolsa, nada a fazer, o negócio era sair da estação. No terminal de ônibus, outras milhares de pessoas formavam filas enormes, duplicadas, triplicadas para cada linha, no ponto de táxi outra fila enorme...

E, mais uma vez, sem opção, resolvi ir a pé pra casa. Tomei fôlego, e comecei a caminhada devagar e, por segurança, tentando acompanhar pessoas que iam na mesma direção, mas muitas paravam nos pontos de ônibus e, mesmo cansada, continuei minha caminhada, decidida.

Até que vi um grupo que me pareceu animado, apertei o passo e me aproximei... uma das integrantes (Poli) me perguntou se eu vinha de Santana... eu disse que sim e perguntei pra onde eles iam, quando disseram Tucuruvi, abri um sorriso e perguntei se podia ir junto. E ela falou para o grupo: pessoal, mais uma! Todos sorriram... disseram que o Marcelo estava se sentindo o próprio Forrest Gump e seus seguidores... ahahaha... e me deram as boas-vindas!

A partir daí, pegamos o imenso limão que a vida estava nos oferecemos e fizemos uma doce e divertida limonada! Ao longo dos cerca de quatro quilômetros que nos separavam de nosso destino, fomos conversando, na frente iam Marcelo, Raissa, a caçulinha, e Silvia; na retaguarda, Daniel, Poli e eu.

Daniel, Poli e eu começamos a conversar de forma contida, mas com as primeiras risadas, passamos a aloprar uns aos outros (não chegamos ao nível 5ª série, mas foi quase lá... ahahaha). Nada como rir nesse tipo de situação.

Alguns quilômetros depois, a conversa passou a ser entre os seis ao mesmo tempo, perguntamos sobre a profissão de cada um... e fomos caminhando, sempre abordando assuntos leves que acabavam em risadas. Afinal, estávamos lascados mesmo em plena sexta-feira, depois de um dia de trabalho, escolhemos relaxar e cuidar uns dos outros pra chegarmos bem e em segurança. 

Idades diferentes, profissões diversas, mas algo em comum... como a Silvia falou, parecíamos personagens daqueles filmes apocalípticos em que a humanidade é quase totalmente dizimada e apenas um grupo de maltrapilhos tenta se salvar, andando pelas ruas destruídas... ahahaha... um grupo cinematográfico!

O que vale a pena registrar e até comentamos num dado momento é que fazer a caminhada em grupo tornou as adversidades mais fáceis de serem enfrentadas. Até brincamos várias vezes, quando alguém parecia estenuado, dizendo: acredite, você consegue! Ahahaha... Nunca tínhamos nos visto antes, mas nos identificamos por estarmos na mesma situação e termos optado pela gentileza e pelo bom-humor para amenizar um dia tão tenso.

Por isso, seja gentil com quem encontrar por aí... não sabemos as lutas que cada um enfrenta, mas a gentileza, certamente, abre portas e torna o mundo melhor! :)


* Coloquei duas fotos, porque na oficial do grupo... rsrsrs... o "fotógrafo" não se atentou que a Raíssa, caçulinha que deu a ideia de registrar o momento, ficou escondida... então, coloquei a segunda foto só com as mina... valeu!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

A essencial arte de Sempé

O traço delicado e preciso de Sempé me conquistou desde sempre. Em "Raul Taburin", ele conta a história de um brilhante mecânico de bicicletas que não consegue se equilibrar em duas rodas de jeito nenhum, isso porque ele tenta desde criança... rsrsrs... Além de ser uma leitura agradável e fluida, me identifiquei com Taburin por termos duas coisas em comum: adoro bicicletas, mas também não domino a arte de pedalar... rsrsrs...

Mas voltando ao livro desse notável ilustrador francês, adoro a forma divertida e suave como ele conta a história do mecânico, que fica tão famoso que seu sobrenome vira sinônimo de bicicleta. Taburin vive satisfeito com sua família, seu trabalho, mas guarda o segredo que ninguém na cidade imagina... sua habilidade em consertar bicicletas é inversamente proporcional à sua capacidade de pedalar.

Taburin segue consertando as magrelas dos moradores, que gostam bastante de seu jeito solícito, até que um dia chega à oficina o simpático Hervé Figure, um fotógrafo com um cabo de freio quebrado, problema que é prontamente resolvido. Aos poucos, eles ficam amigos, mas eis que uma noite Figure faz uma proposta à Taburin... ah... não vou contar mais nada, porque a ideia aqui é instigá-los a ter suas próprias experiências com a leitura, mas garanto que a história é envolvente e provoca boas reflexões.

Referência do cartum mundial, com a narrativa certeira e a sutileza de seu traço, Sempé emociona e revela personagens e cenários encantadores! Sua arte é inspiração pura! :)

sábado, 18 de janeiro de 2025

A força da Natureza

– Outro dia, andando pela calçada, comecei a observar as plantinhas que nascem em meio ao asfalto... são tão vistosas! É a Natureza mostrando sua força! Pena que ao menor sinal de "desconforto" o ser humano vai lá com uma enxada e arranca tudo.

– Curioso você falar sobre isso, ontem, eu tava olhando pela janela, depois da chuvarada, e fiquei um tempão admirando as árvores sendo acarinhadas pelo vento...

– Que poético, amor!

– Ah! Gosto de ficar observando as árvores depois da chuva, elas ficam mais bonitas, aliás, elas pareciam sorrir pra mim e, de repente, me peguei sorrindo de volta, sabe aquele sorriso cúmplice, tipo piada interna que só os íntimos entendem?

– Olha que se não fosse uma árvore, já estaria me rasgando de ciúme... Ahahaha...

– Palhacinha! Tô falando sério, adoro quando a chuva alegra as árvores!

– Tô brincando, bobo! É como diz o poeta: é preciso chuva para florir!

– ... e pra sorrir também!

– Mas voltando às calçadas... tenho pensado muito ultimamente sobre a falta de cuidado que se tem com a terra... poderiam ao menos deixá-la respirar um pouco, ver o Sol, sentir o vento... muito triste uma plantinha ter que fazer força pra nascer... e ainda ser tratada como lixo ou ser chamada de erva daninha...

– Concordo... e as árvores que soltam sementes, flores e folhas transformando as calçadas e canteiros em tapetes coloridos, mas que muitas pessoas chamam de sujeira, sem contar aquelas que só reclamam por ter que varrer o quintal, geralmente todo cimentado também!

– Se fizessem calçadas ecológicas a cidade seria tão mais agradável... sabe aqueles pisos com espaçamentos que deixam as plantinhas crescerem e facilitam o escoamento das águas da chuva?

– Seria perfeito, calçadas bonitas, a Natureza se abrindo e o risco de enchentes diminuindo! Mundo ideal é o nome disso!

– Eu diria o começo de um mundo ideal, mas, certamente, um senhor começo!

– Adorei nossas reflexões, amor!

– Sabe o nome disso? Sintonia!

– E amor à Natureza!

– Mas agora chega de falar de árvore e vem cá...

– Minha ciumentinha... tá bom, vou quebrar seu galho... ahahaha

– Ahahaha... engraçadinho... não quero que quebre nada... 

– Fique tranquila, sou todo amor e carinho!

– Então, vem logo balançar minha roseira!

– Ahahaha... é pra já! :)


* A foto que inspirou essa crônica é o registro que fiz de uma calçada degradada, como tantas outras pela cidade, que merecem muito mais atenção e respeito.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Lápis e papel

Tão generosos são o lápis e o papel... com eles podemos rascunhar ideias, textos... podemos rabiscar retas, curvas. Simples e práticos, cabem em bolsos, se acomodam bem em qualquer cantinho da bolsa e não costumam ser exigentes. 

Modestos e sem rapapés, lápis e papel estão sempre prontos quando a inspiração chama ou uma necessidade de escrever ou rabiscar grita mais alto. 

Fáceis de usar, não precisam de manual de instruções, tampouco funcionam à bateria, por isso não nos deixam na mão.

Tetê está sempre com um bloco e um lápis à espreita, ao menor sinal de criatividade, lá está ela, ora escrevendo, ora rabiscando. Desde muito pequena, menor do que é agora, ela impressiona dizendo que quando crescer quer criar!

Ressabiados os pais insistem em saber que tipo de criação: porcos, galinhas, quem sabe, agapornes? Ahahaha... ela dá uma gargalhada, que ilumina o ambiente, e desconversa: quero criar mundos com meus escritos ou rabiscos, não importa, tenho tempo pra sonhar enquanto ainda sou criança!

A mãe abre um sorriso e pede pra pequena mostrar o que tem criado, ultimamente. O pai, por sua vez, torce o nariz e resmunga que será mais uma artista pobre na família.

Arregalando os olhinhos, Tetê faz cara de indignada, esconde seu bloco e diz em alto e bom som: me aguardem... vou ser respeitada e, como sempre ouço vocês dizendo, se der pra pagar os boletos, rir de nós mesmos e comer uma pizza aos sábados já tá valendo! :)


* Esta crônica foi inspirada na doce ilustração de Hiro Kawahara (@hirokawahara), parabéns pelo trabalho sempre inspirador ❤️