sábado, 29 de novembro de 2025

Sobre sonhos

– Será que a gente consegue viajar no próximo feriado prolongado? Eu sei que é um horror pegar a estrada lotada, mas quando a gente chega na praia é tão bom ficar contemplando o mar...

Que romântica, amor! O que foi? Tá sensível?

Eu não tô, eu sou sensível, querido!

Claro... quis dizer que hoje, neste momento, você está mais sensível que o normal.

Ah! Assim é melhor... tava aqui lembrando que adoro ficar caminhando na areia, molhando os pés na água, olhando a linha do horizonte, aqueles barcos enormes em alto mar...

Bonito... mas prefiro só olhar assim de longe. 

Ahahaha... não te critico, também prefiro só olhar... 

Mas, diga-me, o que te fez lembrar de barcos em alto mar?

– Ah! É que ontem tava lendo "O conto da ilha desconhecida" do grande...

– ... José Saramago!

– Sim! Adoramos esse português, né, amor?

– Como não amar esse Zé tão especial?

– Ahahaha... adoro!

– Então, conta...

– Pensei que íamos comentar a obra!

– Ainda não li, querida!

– Não acredito! Achei que você tinha lido quando me mostrou...

– Foi um presente pra você, amor! Não me dei o direito nem sequer de folheá-lo... queria que você lesse antes.

– Que gentileza, amor!

– É um prazer te presentear, ainda mais com livro, que a gente ama!

– Realmente, amamos! Então, vou falar o que mais gostei nesse conto de nosso querido Saramago.

– Tô curioso...

– Não vou detalhar, porque quero que você leia pra depois a gente comentar juntos!

– Beleza! Então, fala o que você mais gostou!

– Primeiro, a ironia e a genialidade de Saramago faz qualquer obra ser marcante! E esse conto narra a história de um homem que bate à porta das petições do palácio para pedir ao rei um barco que o leve à ilha desconhecida... a conversa entre eles é ótima, vou ler um trecho: "... E tu para que queres um barco, pode-se saber, foi o que o rei de facto perguntou quando finalmente se deu por instalado, com sofrível comodidade, na cadeira da mulher da limpeza, Para ir à procura da ilha desconhecida, respondeu o homem, Que ilha desconhecida, perguntou o rei disfarçando riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, dos que têm a mania das navegações, a quem não seria bom contrariar logo de entrada, A ilha desconhecida, repetiu o homem, Disparate, já não há ilhas desconhecidas, Quem foi que te disse, rei, que já não há ilhas desconhecidas, Estão todas nos mapas, Nos mapas só estão as ilhas conhecidas, E que ilha desconhecida é essa de que queres ir à procura, Se eu to pudesse dizer, então não seria desconhecida, A quem ouviste tu falar dela, perguntou o rei, agora mais sério, A ninguém, Nesse caso, por que teimas em dizer que ela existe, Simplesmente porque é impossível que não exista uma ilha desconhecida, E vieste aqui para me pedires um barco, Sim, vim aqui para pedir-te um barco, E tu quem és, para que eu to dê, E tu quem és, para que não mo dês, Sou o rei deste reino, e os barcos do reino pertencem-me todos..."

– E ele conseguiu o barco, amor?

– Ah! Aí você vai ter que ler!

– Que crueldade...

– Como assim? Eu te dei o prazer de me ouvir lendo um trecho lindamente escrito por nosso querido autor... foi um aperitivo...

– ... pra abrir o apetite da leitura? Parabéns, pois abriu... ahahaha...

– Ahahaha... mas não vou contar mais nada, o que posso dizer é que o conto é sobre a busca pelos sonhos e a necessidade de lutar para realizá-los... é poético, é irônico, é divertido, é profundo, é pra refletir...

– ... é Saramago! Gostei, agora, passa pra cá que quero ler!

– Sério?

– Por quê? Que carinha é essa?

– Ah! Pensei que tínhamos combinado um cineminha...

– É mesmo... quase esqueci, mas a culpa é sua que fica me tentando com boa leitura!

– Ahahaha... vai desistir? Se soubesse não tinha lido nada pra você...

– Não fala assim, adorei sua leitura enfática!

– Já vi que me lasquei, não quer mais ir ao cinema, prefere ficar lendo? O que eu posso fazer se também sou imbatível lendo em voz alta!

– Engraçadinha... claro que vamos ao cinema, mas deixa eu guardar o livro nas minhas coisas, se não você esconde...

– Não seja injusto, eu só guardo na estante depois que nós dois lemos a obra... e detalhe: guardar na estante não é sinônimo de esconder!

– Obrigada pela aula de língua portuguesa, amor! Mas agora, vamos logo que a sessão de cinema não nos espera!

– Pois devia, somos cinéfilos assíduos e estamos sempre comparecendo às sessões, divulgando os filmes, fazendo o tradicional boca a boca!

– Boca a boca? Gostei!

– Deixa de ser quinta série, amor... vou pegar minha bolsa.

– Não demora, porque se eu for te buscar no quarto, o cinema vai ficar pra outro dia... ahahaha...

– Ahahaha... sem comentários! :)

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Poesia ilustrada


Na semana passada, fui visitar a exposição "Drummond em cena", no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista! A mostra, que reúne 10 ilustrações inspiradas na obra de Carlos Drummond de Andrade é um belo passeio pra quem, como eu, adora quando a Literatura dialoga com as Artes Visuais!

Uma estátua do poeta, em tamanho natural, dá as boas-vindas, cercado por poemas cheios de sutileza, delicadeza e sabedoria, como "O tempo", "Para sempre" e "Amor...", que destaco na foto ao lado por ter me emocionado (outra vez, pois já o conhecia) e por acreditar que realmente "de amor andamos todos precisados" para nos alegrar, nos reumanizar e ir pra frente... que "nos vacine contra o feio, o errado..." Ah! Poeta, suas palavras continuam tão atuais e necessárias nesse mundo frio feito de telas e relações on-line. Sorte termos a poesia, a arte e a cultura para nos salvar das nossas e das dores do mundo!

Adorei todos os artistas, mas vou destacar o ilustrador Kleverson Mariano por dois motivos: primeiro, porque adorei o poema que ele escolheu ("O amor antigo") e a forma como retratou as várias faces do amor... casais cativantes... cores vivas! Segundo, porque já conhecia e admirava seu traço, inclusive, ele é autor de uma ilustração que me inspirou a escrever a crônica "Aflições caninas", postada aqui, em junho de 2024! Mais uma vez, obrigada pela generosidade!

Além de divulgar o talento dos artistas, a exposição também é uma forma de aproximar quem gosta de ler de quem gosta de arte visual... e melhor ainda, é uma grande oportunidade de descobrir e redescobrir a necessária poesia de Drummond!

Para completar minha humilde imersão na obra do poeta, li "Sentimento do mundo", publicado em 1940. Ler poesia é estar aberto às provocações, reflexões e até à leveza! Por isso, quero citar um poema em especial, por sua delicadeza divertida: "Indecisão do Méier", que diz assim: "Teus dois cinemas, um ao pé do outro, por que não se afastam para não criar, todas as noites, o problema da opção e evitar a humilde perplexidade dos moradores? Ambos com a melhor artista e a bilheteira mais bela que tortura lançam no Méier". Aplausos para o talento sensível de Drummond! :)

sábado, 22 de novembro de 2025

Um talento criativo injustiçado

Quando foi lançada a HQ "Bill Finger - à sombra de um mito", do roteirista norte-americano Julian Voloj e do desenhista israelense Erez Zadok, fiquei muito curiosa, afinal, era sobre o cocriador do Batman.

Na capa, a máquina de escrever me tocou... escrever não é fácil, participar da criação de um dos maiores ícones da cultura pop deve ter sido uma enorme satisfação... por outro lado, não ser reconhecido como cocriador deve ter sido uma dor inimaginável. E esse não reconhecimento gerou inúmeras dificuldades para Bill, não só financeiras, mas emocionais.

É triste ver uma cabeça tão criativa ser explorada da maneira como foi. Quando Bob Kane, que já trabalhava na indústria de quadrinhos, conheceu Bill Finger viu nele uma usina de ideias! Pena que desde o primeiro trabalho juntos, Kane não creditou o nome de Bill e quando cobrado respondeu que aquele era só o começo. Pois é, só o começo de uma das maiores injustiças que o mundo das HQs veria em sua história!

Baseada no livro "Bill the Boy Wonder: The secret co-creator of Batman", que o autor norte-americano Marc Tyler Nobleman escreveu após longa investigação sobre Bill Finger, a HQ mostra depoimentos de personalidades da época, que trabalharam com o roteirista e reiteraram a importância dele como o verdadeiro criador da persona de Batman, temperamento, história e origem, inclusive, elementos como o traje, a sombria Gothan City e toda a complexidade de Bruce Wayne. Mesmo com uma participação no desenvolvimento do homem-morcego muito maior que a de Kane, que apenas idealizou o visual do personagem, Bill não foi reconhecido em vida. Por isso, acredito que o maior mérito da HQ é trazer à luz, mais uma vez, alguém que viveu à sombra de uma indústria injusta que passou a creditar o nome do criador de Batman apenas em 2015, ou seja, 76 anos depois de sua primeira publicação, em 1939. 

Bill Finger é uma mente brilhante que merece ser reverenciada! Aplausos aos roteiristas e desenhistas que juntos, cada um com seu talento, nos brindam com obras inesquecíveis! Viva as histórias em quadrinhos! :)

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

A genialidade de um grande escritor

"Os Maias", obra-prima de Eça de Queirós, é uma leitura, absolutamente, prazerosa! O escritor português narra a história de três gerações de uma família, marcada por tragédias, na bela Lisboa do final do século XIX. 

Antes de mais nada, preciso dizer que além do autor ser um dos meus favoritos (já postei sobre ele aqui), este livro, especificamente, sempre esteve na minha lista de desejos e, finalmente, consegui comprar uma edição que coube no meu bolso... rsrsrs... Lembro de quando assisti a minissérie (TV Globo), no início dos anos 2000... desde então tinha certeza que, embora tenha adorado a adaptação para TV, a leitura seria ainda mais encantadora! Acertei!

A escrita de Eça de Queirós tem, da primeira à última linha, todas as características que admiro: narrativa envolvente, profunda quando tem de ser e irônica quando preciso for; personagens profundamente humanos e cativantes; e a tão necessária crítica social... tudo isso em um cenário que nos transporta à época! Confesso que cada vez que leio uma obra de Eça, aumenta minha vontade de visitar Portugal... fico me imaginando pelas ruas de Lisboa... Porto... é inspirador! Quando isso acontece, costumo esconder o cartão de crédito, imediatamente, para evitar compras de passagens aéreas por impulso... ahahaha!

Voltando ao livro, propriamente dito, podemos dizer que o casarão da família, o Ramalhete, é um dos personagens da história pela enorme influência que exerce no desenvolvimento da trama com seu ar sombrio, misterioso e ao mesmo tempo acolhedor. Ao longo dos anos, o Ramalhete se torna, cada vez mais, uma espécie de refúgio do avô Afonso da Maia, do neto Carlos e dos amigos da família, que vivem discutindo os rumos do País e de uma sociedade que caminha para o progresso a passos lentos, comparada à Paris e Londres.

O mérito do autor está em nos apresentar um enredo irretocável que, mesmo apresentando temas delicados e tensos como traição, suicídio, incesto e intrigas, nos envolve em uma narrativa rica e extremamente humana. Os personagens são realmente memoŕaveis e conquistam o leitor pela forma como tentam enfrentar os problemas, como encaram a vida. As conversas entre Carlos e João da Ega são um caso à parte, sejam as mais filosóficas, sejam as mais mundanas, carregam sempre 
boas pitadas de ironia.

Recentemente, li também "O Mandarim", um dos contos fantásticos de Eça, que conta a história de Teodoro, um funcionário público que leva uma vida pacata e monótona, sem muitas aventuras... até que um pacto que envolve uma certa herança muda sua vida. 

No texto sobre a obra, assinado pelo autor, ele discorre a respeito da necessidade de todo escritor português criar contos fantásticos para não sufocar nem morrer de nostalgia de seus sonhos! Adorei essa confissão... rsrsrs... e encerra dizendo: "Depois de escrita a última página, corrigida a última prova, ganha-se a rua, retoma-se o caminho e volta-se ao severo estudo do homem e de sua eterna miséria." Aplausos à genialidade do grande Eça de Queirós! Viva a Literatura! :)

sábado, 15 de novembro de 2025

Bússola quebrada

– Tô com a sensação de que minha bússola está quebrada!

– O quê?

– É como se eu estivesse sem rumo, mas ao mesmo tempo, com mil ideias... otimistas, sonhadoras e inspiradas!

– Uau! Mas, então, qual o problema?

– Difícil de entender? Pode ser, mas refletir é bom, abre horizontes!

– Ué? Onde está a insegurança que você tava sentindo há segundos atrás, quando introduziu sua bússola quebrada em nossa conversa?

– A insegurança e o medo adoram marcar presença durante minhas reflexões... normal! Mas o segredo é...

– ... tá com medo? Vai com medo mesmo! O importante é não desistir!

– Pois é, sempre em frente! Nem que esse "em frente" seja sem rumo definido, em uma estrada sinuosa, afinal, curvas são sempre bem-vindas, dão emoção à caminhada!

– Gosto assim! E lembre-se que a caminhada pode até parecer solitária, mas faço parte de sua torcida organizada...

– Obrigada, amor! E mesmo que sejam poucos nessa torcida, tudo bem, não procuro quantidade, o que me encanta é qualidade!

– Ah! Você é que me encanta, amor! E não fique mais tensa, essa sensação vai passar.

– Você acha que retomo meu rumo?

– Claro! Foi só um tropeço, uma rasteira, chame como quiser... o importante é que estou aqui pra te segurar!

– Tô melhor! Acho até que minha bússola está voltando a indicar o Norte... rsrsrs...

– Ah! Tá vendo, sei como lidar com seus descarrilamentos, querida! Vem cá que te ponho nos trilhos... rsrsrs...

– Não seja insensível... eu externando minhas aflições e você fazendo graça!

– Calma, amor! Só queria te deixar tranquila e dizer que tô aqui pra resolver seus problemas... ahahaha...

– Ahahaha... se oriente, rapaz! Da minha bússola cuido eu!

– Ih! Tá revoltada... não quer mais que eu cuide de sua bússola?

– Ê quinta série!

– Ahahaha... mas eu tô falando da bússola mesmo, aquela que tem os pontos cardeais... norte, sul, leste, oeste!

– E essa cara de canalha?

– É especial pra você... então, vem logo e me dá um abraço, porque abraçar quem a gente gosta é um santo remédio pra sensação de bússola quebrada, já dizia minha avó!

– Sua avó dizia isso mesmo?

– Sei lá... modo de dizer... ahahaha... essa expressão, sim, tenho certeza que minha avó falava... e, como você pode ver, passou de geração em geração... ahahaha...

– Ahahaha... bobo! Então, chega de conversa, quero esse seu abraço reparador!

– É pra já! :)

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

As primeiras tirinhas

Mais uma vez, passei por uma banca de jornal só pra dar uma olhadinha e eis que me deparo com "Tiras Clássicas - Turma da Mônica"! Ah! É sempre bom encontrar publicações especiais com a gênese de personagens tão queridos como os de Maurício de Sousa! 

A coletânea traz as primeiras tirinhas publicadas em jornais, no começo da década de 1960, com o título Cebolinha, que deu início à bela carreira de nosso querido quadrinista que, recentemente, completou 90 anos de vida!

Ao longo das páginas, podemos ver que o menininho charmoso que troca a letra "r" pela "l" desde sempre gostou de pregar peças nos colegas e, inclusive, já provocava Mônica, a menina baixinha e cheia de atitude que, por sua vez, veio a se tornar nossa mais do que querida dona da rua!

O primeiro volume traz muita diversão e os primeiros traços de Cebolinha, Floquinho, Franjinha, Bidu, Cascão, Xaveco (cujo nome era grafado com "Ch"). E uma curiosidade: Zé Luís era apresentado como irmão mais velho da valente Mônica, mas depois esse parentesco deixou de existir! 


Agora, vou querer os próximos volumes das "Tirinhas Clássicas"... rsrsrs... Ah! Vale muito a pena! É uma leitura leve e relaxante sobre essa adorável turminha que nos acompanha desde a infância! Aplausos ao talento admirável de Maurício de Sousa! Viva as doces tirinhas de jornal! :)

sábado, 8 de novembro de 2025

A alegria de visitar uma livraria

Livrarias são oásis de sonhos, ideias, inspiração! Visitar uma livraria é descobrir novos autores; acariciar livros que não podemos comprar, mas que, imediatamente, incluímos em nossa lista de desejos; é esconder o exemplar que queremos no fundo da prateleira pra ninguém comprar antes; é olhar cada uma das seções com olhos infantis, transbordando de alegria! É folhear um exemplar e, lendo a contracapa, ter a curiosidade aguçada!

Tudo bem que durante a pandemia, por pura necessidade de ler enquanto o mundo parava, acabei recorrendo aos livros eletrônicos... agradeço a companhia deles, mas nada como ter um livro físico em mãos, destacar os trechos que mais nos marcam na obra. No meu caso, uso marcadores de papel, não gosto de grifar nem anotar nas páginas, mas cada um na sua, quem gosta, beleza! O importante é ler e aproveitar tudo que a leitura tem de bom!

Esta semana, fui a uma livraria e até esqueci a dor na coluna... rsrsrs... pelo menos, enquanto andava por entre as estantes e me encantava com escritores conhecidos e garimpava novos universos literários! Ir ao encontro de livros e HQs é sempre bom, ainda que seja só pra passar no leitor do código de barra e assustar com o preço... rsrsrs... Ou organizar o bolso pra, quem sabe, comprar numa próxima vez e se o orçamento permitir, ter a satisfação de sair com a sacolinha recheada! Sim, claro que também apoio as bibliotecas! Elas são democráticas, inclusivas e generosas, mas é que sempre tem aquele autor ou autora que a gente quer e precisa ter em nossa estante, aí a livraria nos garante as aquisições desses livros que nos são especiais.

Mas voltando às livrarias, prefiro as de rua, são adoráveis e nos proporcionam passeios incríveis. Além de perambular por diversos gêneros litérarios, podemos fechar a programação tomando um café... adoro livrarias com cafeteria como, por exemplo, a Martins Fontes da Paulista, a Livraria da Vila da Fradique Coutinho... e até a Realejo, de Santos (cuja visita cultural pode ser um bate-e-volta com direito a uma caminhada na praia).

Ah! Só queria registrar meu amor pelas livrarias e dizer que elas são meu passeio preferido, desde que a programação inclua café e bolo... rsrsrs... Viva as queridas livrarias de rua! Viva a Literatura e seus encantos! :)

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Memórias e poesia em quadrinhos

"Mais uma história para o velho Smith", do quadrinista, chargista e ilustrador Orlandeli, aborda identidade, memórias e o destino das lembranças, depois que elas vão embora. Vencedora na categoria Histórias em Quadrinhos do Prêmio Jabuti 2025, a HQ é poesia e arte irretocáveis! O autor nos brinda com ondas de emoção e humor sutil ao longo de toda a narrativa. O carismático protagonista é um grande contador de histórias, o que me conquistou logo de cara! 

Sempre que voltava do mar, todos paravam para ouvir as histórias do marinheiro até que um dia ele não consegue mais se lembrar delas. Então, decide retornar ao mar para tentar recuperar suas lembranças e, a partir daí, vive várias situações curiosas e bastante reveladoras. 

Ah! A HQ é encantadora não só por ter como cenário o mar e seus mistérios, mas também por nos apresentar um protagonista tão humano e simpático como o velho Smith, que nos faz refletir sobre nossas próprias lembranças! Aplausos para Orlandeli e seu mais do que merecido Jabuti! Viva as HQs brasileiras! :)

sábado, 1 de novembro de 2025

Bela ilustração e boas reflexões

Quando comprei "Celestia", do italiano Manuele Fior, no ano passado, fiquei curiosa para ler, também porque adoro ilustração em aquarela. Confesso que a primeira vez que li, não entendi nada... rsrsrs... e guardei na estante pra tentar mais tarde. Passaram-se meses e toda a vez que eu comprava uma nova HQ ou novo livro tinha a impressão que Celestia me olhava com uma lágrima no rosto, como a de seu protagonista, Pierrô.

Já a segunda tentativa de leitura deu certo! Em primeiro lugar, quero dizer que a ilustração aquarelada de Fior é de uma sensibilidade e uma beleza que, certamente, nos ajuda a compreender melhor o universo criado pelo italiano!

A narrativa é sobre a chamada "Grande Invasão", que devastou o continente, quando alguns sobreviventes encontraram refúgio em Celestia, uma pequena ilha de pedra, construída há mais de mil anos.


Os protagonistas Pierrô e Dora vivem com um grupo de jovens telepatas, mas por diversas razões, resolvem conhecer o continente, onde adultos são guardiões do "mundo antigo".

A leitura é uma sucessão de belas imagens e diálogos que nos provocam reflexões sobre a humanidade, suas fraquezas e complexidade. É uma HQ que exige mente aberta para absorver toda a sensibilidade de seu autor.

Vale pela beleza da ilustração e por tudo que nos faz refletir, principalmente, em tempos de ruído na comunicação, pouca conexão entre as pessoas e um mundo cada vez mais cruel e nada gentil como temos visto frequentemente por toda parte! Viva a arte que nos salva! Viva o alívio e a reflexão provocados pelas queridas HQs! :)

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Encontro especial

Olhando as gotas de chuva escorrendo pela janela, Antoine lembra quando conheceu Blanche. Foi num dia chuvoso como hoje, há quase uma década, em uma charmosa rua da capital francesa.

Naquela tarde, a chuva fina e fria deixava o dia introspectivo, ainda assim, Antoine decide fazer seu passeio diário. Sobretudo, cachecol e guarda-chuva, ele sai pelas ruas de Paris. Desde criança, sempre gostou de sair na chuva, inclusive, adorava brincar pulando nas poças para espalhar a água ou dançar imitando Gene Kelly no famoso filme de Hollywood. Porém, agora, só se permite andar calmamente ouvindo o alegre tamborilar dos pingos no guarda-chuva, o que considera um enorme prazer.

Quando dobra a esquina, Antoine se depara com uma rua quase vazia, a não ser pela presença delicada de uma senhora muito elegante, mas nada previdente... está sem guarda-chuva... será que está desorientada?

Ora, Antoine, que exagero... desorientada! Vai ver é apenas uma mulher que não se preocupa com convenções, afinal, tomar chuva não é uma contravenção, mas pode ser considerada contraindicada para pessoas com problemas respiratórios que, obviamente, devem evitar as mudanças bruscas de temperatura.

Assim de longe, ela parece bonita e, pelo que percebo, está olhando pra mim... o que será que está pensando? Será que estou bem vestido para a ocasião? Que ocasião, Antoine? Olha o exagero de novo, concentre-se no passeio. Mas que essa senhora está olhando pra mim está. Ela tem um cabelo bonito... e esse casaco de poá lhe cai muito bem!

Não sei se atravesso a rua, sei lá, pode pensar que estou flertando e se ofender. Vou ficar mais um pouco, quem sabe ela dá o primeiro passo... chato é ficar aqui de guarda-chuva vendo uma dama desprotegida.

Do outro lado da rua, Blanche parece irritada... adora dias chuvosos, mas, foi surpreendida... não acredita que esqueceu de pegar o guarda-chuva! Olhando indignada para o céu, se pergunta: Como assim? O dia nasceu tão limpo!

Parada na calçada, ela sente os pingos escorrerem pelos cabelos e, aos poucos, serem represados no cachecol, mesmo assim não perde a elegância! Sorte que a chuva é fina, basta apenas ser ágil e correr até a cafeteria mais próxima. Uma boa xícara de café sempre resolve os problemas, pelo menos, os mais simples como ser pega desprevenida por uma chuva que não avisou que cairia.

Só quando olha para frente, Blanche vê um homem, de guarda-chuva, do outro lado da rua... este é prevenido! Aposto que é organizado... se veste bem, gostei do cachecol. Ah! Por favor, não romantize a cena, é apenas um senhor se preparando para atravessar a rua. Mas é elegante!

Quanto tempo será que estou parada nesta esquina? Parece que estou enraizada nesta calçada! Qual o problema, Blanche? Talvez o problema seja estar sempre esperando que um herói venha me salvar... mesmo que o perigo seja apenas pegar um resfriado... rsrsrs... Por que estou falando de herói? Que coisa mais sem pé nem cabeça! Bem que ele poderia ser cavalheiro, vir ao meu encontro e me proteger da chuva... olha aí, de novo, divagando como uma adolescente.

Decididos, começam a atravessar a rua... passos lentos e olhos pregados um no outro, como se estivessem conectados por um ímã. Antoine traz um sorriso tímido estampado no rosto e Blance, um brilho discreto no olhar!

No meio da rua, estendem a mão para um cumprimento formal. Boa tarde, sou Antoine! Boa tarde, meu nome é Blanche! Posso lhe dar uma carona em meu guarda-chuva? Claro, seria um prazer. Estava pensando em tomar um café, posso convidá-la? Incrível, pensei nisso logo que parei naquela esquina... se puder me acompanhar, Antoine, vou adorar! Estou aqui para isso, Blanche!

De repente, ele dá um salto da poltrona como se acordasse de um sonho... Blanche está na sua frente com uma bandeja na mão. Fiz café... você estava dormindo? Não, querida, estava lembrando. Ah! Com essa chuvinha, já sei o que estava lembrando: de nosso encontro em Paris! Antoine dá uma piscadela e começa a arrumar espaço na mesa para a bandeja do café. Você pode me ajudar, cortando o bolo, querido? Claro, Blanche... continuo aqui para isso! :)


* A foto que ilustra essa romântica crônica é de minha autoria, como meus personagens, também adoro ouvir o barulhinho da chuva e admirar as gotas d'água escorrendo pelo vidro da minha janela! ❤️  

sábado, 25 de outubro de 2025

Uma obra inquietante

Ler Fiódor Dostoiévski é um desafio, muitos nem se atrevem... rsrsrs... Confesso que só tinha lido "Noites Brancas", mas sempre olhei com curiosidade para a obra-prima do escritor russo.

Orientada por meu irmão Gerson (leitor assíduo e contumaz, além de historiador), resolvi deixar para me jogar em "Crime e Castigo" posteriormente, mas pra ir me preparando, ele me presenteou com "O Sósia", uma leitura inquietante e envolvente. 

De cara, o prefácio, assinado por Oleg Almeida, mostrou um paralelo do autor com Nikolai Gógol, de quem tenho "Teatro Completo", que me foi indicado pelo meu saudoso irmão Geraldão! Aí me conquistou fraternalmente em dobro...rsrsrs... Almeida explica que "se não houvesse Gógol, tampouco haveria Dostoiévski, seu aluno e sucessor; por outro lado, se Gógol se mostrou, ao longo de toda a sua vida, afeito ao fabuloso, antevendo, ou melhor, antecipando o realismo mágico dos nossos dias, Dostoiévski deu um largo passo em direção à moderna prosa realista de cunho psicológico, que ainda estava aberta a toda espécie de manifestações extraordinárias, porém já excluía a visão folclórica, mitológica ou supersticiosa destas para explicá-las com base no conhecimento positivo dos processos naturais. Digamos que, mesmo sem serem sósias perfeitos, Gógol e Dostoiévski equivaliam às duas faces da mesma medalha, completando-se e harmonizando-se na perfeição sinérgica de sua arte." 

Como podem ver, gostei desde o prefácio... rsrsrs... Mas vamos à obra, propriamente, dita! A narrativa começa com o Yákov Petróvitch Goliádkin acordando de um sono prolongado e a descrição que o autor faz de suas sensações é de uma riqueza que encanta e surpreende. 

Adoro esse trecho: "Olhavam para ele, de modo familiar, as paredes de seu quartinho, fuliginosas e empoeiradas, cuja cor esverdeada parecia um tanto suja, sua cômoda de mogno, suas cadeiras de certa madeira a imitar o mogno, sua mesa pintada de tinta vermelha, seu sofá turco, revestido de oleado avermelhado com florezinhas verdinhas, e, finalmente, suas roupas tiradas às pressas, na véspera, todas amassadas largadas sobre o sofá. Por fim,  dia outonal , cinzento turvo e sujo como era, olhava para dentro de seu quarto através de uma janela embaçada, tão sombrio e com um esgar tão azedo que o senhor Goliádkin não podia mais, de jeito nenhum, duvidar de que não estava num reino de berliques e berloques qualquer e, sim, na cidade de Petersburgo, na capital, na rua Chestilávotchnaia, no terceiro andar de um prédio de alvenaria, bastante grande, em seu próprio apartamento. Ao fazer tal descoberta importante, o senhor Goliádkin fechou espasmodicamente os olhos, como se estivesse lamentando seu sono recente e querendo reavê-lo por um minutinho."

Logo na primeira página, o protagonista me conquistou e aguçou minha curiosidade para conhecer seu mundo e suas sensações. E desde o início, o senhor Goliádkin já se mostra uma pessoa levemente atormentada... rsrsrs... nada que não tenha se agravado a partir do momento em que entra na história seu tal sósia, que o atormenta, ao longo das páginas, deixando-o  em um estado de abandono e ansiedade que só mesmo um gênio da Literatura para criar uma narrativa com tamanha tensão psicológica. Confesso que me afeiçoei ao senhor Goliádkin e torci por ele até a última linha.

Gosto de como Dostoiévski cria Goliádkin, um misto de ingênuo, inseguro, irônico e, acima de tudo, resiliente (olha eu lançando mão de uma palavra que tá na moda... rsrsrs)... porque por mais que ele estivesse enfrentando uma situação horrorosa e, por vezes, sem saída, ele sempre pensava: "Não é nada... tudo isso ainda pode muito bem melhorar". Como não torcer por um cidadão assim?

O autor sabe fazer crítica social e política sem deixar de se valer do humor para mostrar as fraquezas e vilanias humanas. Aplausos para a genialidade de Dostoiévski! :)

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Banca de jornal, HQs e desenhos animados

Estava eu voltando do mercado e resolvi passar na banca de jornal! Ah! Que saudade de quando as bancas de jornal tinham tudo que a gente precisava... rsrsrs... revistas de todos os tipos, histórias em quadrinhos, álbuns de figurinhas e, obviamente, jornais. 

Banca de jornal era sinônimo de alegria! Hoje, a maioria delas tenta se manter vendendo de um tudo e entre os diversos produtos expostos, de vez em quando, conseguimos encontrar algumas revistas, hqs e o velho e bom jornal... quer dizer, mais ou menos, nem o tamanho é mais o mesmo e o conteúdo... melhor mudar de assunto!

A banca de jornal em questão ainda parece as antigas, entrei e comecei a olhar as hqs. Sabe aqueles dias em que você quer ler alguma coisa que te transporte para um mundo menos hostil do que o que estamos enfrentando? Então, entrei decidida a encontrar um gibi barato, que me divertisse, provocasse risos e aquela sensação leve que só os desenhos animados de décadas atrás conseguiam!

Pois é... entre tantas histórias em quadrinhos, descobri uma de "Os Flintstones" e outra de "Os Jetsons"! Com um precinho legal, nem cheguei a titubear, comprei uma revisitinha de cada! E o mais legal é que quando fui pagar, o jornaleiro disse: "Ah! Tá com saudades dos desenhos animados que a gente via?" Ao que respondi, sorrindo: "é mesmo, eu assitia todos esses, adorava"... e ele retrucou, animado: "eu também passava horas assistindo esses e outros tantos desenhos na TV"!

Saí de lá satisfeita com minhas aquisições, cheguei em casa, li as duas revistinhas de uma vez, rindo e lembrando que, quando criança, a gente brincava no quintal o dia inteiro, depois tomava banho e ia assistir na TV esses maravilhosos e eternos desenhos animados, criados por William Hanna e Joseph Barbera! Queridos por gerações e gerações!

Ah! Com uma simplicidade genial, essas HQs trouxeram de volta o sorriso da Gi pequenininha, que adorava assistir desenhos animados com Fred, Wilma, Pedrita, Dino, Barney, Betty, Bambam, George, Jane, Judy, Elroy, Astro, Rosie... e outros, como Pernalonga, Patolino, Gaguinho... personagens adoráveis que inundam de alegria nossa memória afetiva! Aplausos para a dupla Hanna/Barbera que nos inspirou na infância e continua nos inspirando! Viva os desenhos animados! Viva as histórias em quadrinhos! :)

sábado, 18 de outubro de 2025

A saga dos primos fofos e aventureiros

"Bone", do norte-americano Jeff Smith, publicada originalmente de 1991 a 2004, é uma das séries mais celebradas no mundo das HQs. Quando vi na internet alguém falando que era uma leitura imprescindível para quem adora quadrinhos, fiquei muito curiosa e me animei só de ver a capa!

Combinei comigo mesma de comprar o primeiro volume só para conhecer a obra! Que ingenuidade! Não teve jeito, os primos Bone: Fone, Phoney e Smiley me conquistaram na hora e tive de me virar e comprar o segundo e o terceiro volumes! Uau! Que aventura!

A saga das criaturinhas Bone começa quando, por causa dos golpes de Phoney, os três primos são expulsos de sua terra natal, Boneville! A narrativa é divertida, emocionante e cheia de reviravoltas, que prendem a atenção!

Fone Bone, nosso herói, está sempre querendo ajudar, principalmente, Espinho, por quem se encanta, soltando coraçõezinhos toda a vez que conversa com a garota! Phoney Bone é o espertinho que vive aplicando golpes, e Smiley Bone, o mais alegre, sempre sorridente, inclusive, nas situações mais adversas e é tão bom que resolve cuidar de uma ratazana bebê... aff... haja amor... ahahaha... 

Os personagens são muito bem construídos, sejam protagonistas ou coadjuvantes, são todos decisivos, entre eles, destaco a garota Espinho, a Vovó Ben, o Grande Dragão Vermelho, Lucius, dono da taverna e seus frequentadores, o besouro Ted, as duas ratazanas atrapalhadas.

Ao longo dos três volumes, a criatividade do autor e sua arte minuciosa e vibrante encantam! Só por ser estilo cartum, Bone já me conquistou! Com seus personagens solares e, ao mesmo tempo, destemidos, que enfrentam desafios nos moldes de "O senhor dos anéis", não há como não concordar que ele figura entre os melhores quadrinhos já criados!

Outro detalhe que me animou a querer conferir a saga toda, é um texto assinado pelo autor, publicado no primeiro volume, em que Smith fala de como entrou em contato, em 1986, com a graphic novel "Maus", de Art Spiegelman, passou a frequentar lojas de HQs e descobriu um mundo novo de quadrinistas que escreviam e desenhavam seus próprios personagens. A partir daí, decidiu que o que queria era desenhar Bone (seu personagem criado ainda na infância), ser um quadrinista underground e participar daquela nova e empolgante cena que acabava de conhecer.

Bone foi publicada originalmente em P&B, inspirada em "Maus", mas Smith conta que o próprio Spiegelman o convenceu a republicar os livros em cores. Gostei tanto do trecho que coloco, a seguir, entre aspas. "Se 'Maus' é em preto e branco, perguntei a ele, por que 'Bone' deveria ser colorida? A resposta de Art foi: 'Maus' trata da guerra e do holocausto, tinha que ser em preto e branco. Mas 'Bone' trata da vida, e não estará terminada até sair colorida".
 
Uau! Uma opinião dessas não tem como não levar em conta! É exatamente isso, as cores são um toque a mais que fortalece, ressalta os cenários cheios de detalhes e dá mais brilho à saga dos primos Bone! Até gostaria de falar mais sobre cada um dos volumes, mas prefiro apenas aguçar a curiosidade de quem ainda não se rendeu a essas criaturinhas doces e divertidas! Viva a criatividade de quadrinistas mundo afora! Salve a Nona Arte! :)

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Arte impecável

Com o prêmio Eisner 2025 de Melhor Desenhista/Arte-Finalista para a quadrinista brasileira Bilquis Evely, "Helen de Wyndhorn" encanta, principalmente, pela arte que nos faz mergulhar nas aventuras da protagonista por um mundo cheio de magia.

A grapic novel, que tem roteiro do norte-americano Tom King, arte impecável de nossa premiada Bilquis e colorização do também talentoso brasileiro Matheus Lopes, conta a história de Helen que depois de perder o pai, um renomado escritor de fantasia, vai morar na mansão do avô, Barnabas Cole, um homem misterioso e, aparentemente, frio.


A HQ é uma fascinante mistura de épico e gótico que, como diz a sinopse, combina a bravura de "Conan, o Bárbaro" com o encantamento de "O Mágico de Oz". Sim, é tudo isso e um pouco mais, porque a narrativa trata ainda de questões humanas, como relacionamento familiar, perdas, inseguranças, temas que despertam o leitor a refletir para além da própria história.

Não vou contar mais, pois prefiro que cada um tenha sua experiência de leitura... mas preciso reiterar que, sinceramente, o que mais encanta nesta obra é a arte. Bilquis, com seu traço fino e delicado, faz de cada quadro, cada página, uma obra de arte deslumbrante. 
A quadrinista paulista é um talento e nos enche de orgulho também por ser a primeira brasileira a vencer o "Oscar dos quadrinhos"! Aplausos à nossa ilustradora! Viva a nona arte! :)

sábado, 11 de outubro de 2025

Inocência feliz

Como diz a canção, há uma menina, há uma moleca morando sempre no meu coração... mas não é só quando a adulta aqui balança que ela vem pra me dar mão. Na verdade, a Gi pequena está comigo o tempo todo, tornando a vida muito mais leve e divertida!

Aproveitando que amanhã é Dia das Crianças e Dia de Nossa Senhora Aparecida, lembrei de uma história engraçada de quando eu tinha sete anos (foto) e fomos à Aparecida pagar uma promessa de minha mãe, que não vem ao caso aqui... mas que, enfim, nos levou a uma viagem bate e volta à Basílica para cortar meus cabelos.

Foi uma correria e quando estávamos todos no carro, minha mãe percebeu que tinha esquecido a tesoura e mandou que eu, a dona do cabelo a ser cortado, fosse correndo pegar. Mais tarde, chegamos em Aparecida, minha mãe fez uma trança nos meus cabelos em frente à imagem de Nossa Senhora... tudo transcorria conforme o planejado até que ela pediu ao meu irmão que cortasse a trança. Quando pegou a tesoura na sacola, ela levou o maior susto, eu tinha pegado a tesoura de frango... ahahaha... na hora, meu irmão não se segurou e riu e eu, sinceramente, não vi problema nenhum na tesoura vermelha e pouco discreta!

Como minha mãe era muito devota de Nossa Senhora Aparecida e o momento era solene, a bronca só veio depois... e assim mesmo foi suave... ahahaha... afinal, no fim das contas o cabelo havia sido cortado e acredito que, com todo respeito, Nossa Senhora nem deve ter se surpreendido, já conhecia sua pequena devota aqui...rsrsrs...

Ah! Gosto de lembrar da infância, porque por mais dificuldades que tivéssemos, sempre arrumávamos um jeito de rir das situações e é isso que torna as coisas mais fáceis de enfrentar, que nos ajudam a escrever nossas histórias, a criar nossas memórias afetivas e nos tornam mais humanos!

Toda a vez que estou numa situação desconfortável ou passando por um problema qualquer, típico de adultos, lanço mão de minha versão mirim e tudo se resolve, de um jeito ou de outro, a Gi menina/moleca não falha, ela sempre tem a solução pra Gi adulta enfrentar a porra toda... ahahaha...

Essa crônica é uma singela homenagem à beleza de se manter o sorriso infantil e valorizar a criança que temos dentro da gente! Salve Nossa Senhora Aparecida! :)

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Uma obra instigante

"Meio sol amarelo", da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, é uma leitura encantadora, ao mesmo tempo, densa e, profundamente, humana. A história se passa na década de 1960, quando a recém-indepentente Nigéria embarca em uma violenta guerra que dividiu o país com a tentativa frustrada de criação da República Independente de Biafra, deixando milhares de mortos.

O mais instigante do livro é que a autora não narra a guerra propriamente dita, mas como as pessoas lidam com o conflito e suas consequências, num embate entre realidade e ideologia. Os personagens são cativantes e cheios de nuances, cada um a seu modo, seguem equilibrando sonhos e angústias. Desde as primeiras páginas, somos convidados a acompanhar a trajetória de Ugwu, Olanna e Richard. 

Ugwu é um camponês ingênuo e extremamente leal, que trabalha na casa do revolucionário Odenigbo, professor da Universidade de Nzukka, que vive com Olanna, moça da alta sociedade que, para desespero da família, resolve ser professora universitária. Richard é um jornalista inglês, estudioso da arte local e aspirante a escritor, que se apaixona por Kainene, irmã gêmea de Olanna.

Primeiro livro que leio da autora, considero a obra um banho de realidade e um certeiro exemplo de como é bela a arte da escrita! Aplausos para Chimamanda! Viva as escritoras! :)

sábado, 4 de outubro de 2025

Conversa de flor

– Ah! Adoro esse início da nossa estação! As coisas parece que ficam mais iluminadas...

– Claro que ficam mais iluminadas... elas recebem mais incidência do Sol!

– Não seja tão prática... gosto do lado romântico da coisa toda!

– Ih! Lá vem a derretida! Por acaso, você não acha a Mãe Natureza linda em todas as estações?

– Não falei isso... sei que cada fase tem seus encantos, mas a Primavera é diferente pra nós flores... você não acha?

– Sei lá! A verdade é que tem flores em qualquer estação.

– Tudo bem, rabugenta! Vamos fazer o seguinte: fique aí com suas opiniões certeiras, que eu prefiro ficar com meu olhar mais atento pras belezas à nossa volta!

– Não precisa falar assim comigo, somos flores irmãs, do mesmo galho. Sei exatamente o que você sente e concordo sobre as belezas... Só fico preocupada com os seres humanos que, muitas vezes, dizem nos amar e, por egoísmo, nos arrancam da vida sem nem um pingo de remorso!

– Sei disso, irmã! Só não quero que se preocupe tanto, afinal, eles acham que dominam tudo mesmo. Só espero que um dia acordem pro fato de serem parte do Planeta e não donos!

– Uhuuuuuu! Gostei de ver a consciência, irmã romântica!

– Ahahaha... deixe de ser realista por alguns instantes e sinta o Astro-rei nos inundando de calor!

– Olha, lá! Tô falando... vem vindo um casalzinho de mãos dadas. Espero que o rapaz não queira ser o herói e nos arrancar do galho só pra agradar a moça!

– Não! Acho que o amor deixa as pessoas mais doces... 

– Vou tentar ser menos cética, mas com relação ao ser humano é sempre difícil!

– Vamos apostar! Pra mim, os dois estão tão bem juntos que só há espaço para beleza! E o ato de arrancar flores de seus galhos não me parece nada belo.

– Concordo! Mas vamos apostar o quê?

– Aposto que os dois vão se encantar conosco... branquinhas em meio às folhas verdes, iluminadas pelo Sol...

– Resuma a história... eles estão se aproximando!

– Está bem! Aposto que eles vão nos adorar e até tirar foto com a gente!

– Mania abominável de fotografar tudo o tempo todo! Está bem! Se você ganhar, resolvemos o que fazer depois...

– Combinado!

O casal chega perto da árvore e abre um sorriso! Uau! Que lindas flores! Quando o rapaz estica a mão como se fosse apanhá-las, a moça segura seu braço e dá uma piscada!

– Por favor, não arranque as florzinhas, quero que elas sejam as únicas testemunhas de nosso primeiro beijo!

– Sério?

A moça se aproxima do rapaz e os dois se beijam. Depois, ele saca o celular do bolso, faz várias fotos do casal tendo as flores como moldura e, em seguida, se afastam de mãos dadas.

– Ah! Que lindo! Não disse que nós inspiramos os humanos a serem melhores!

– Não exagere, realmente, esses dois foram legais, mas deve ser porque ainda não estão maduros... ahahaha...

– Não importa, ganhei a aposta, rabugenta!

– Romântica incorrigível!

– Sem enrolar... qual meu prêmio?

– Você já ganhou, irmã! Aliás, ganhamos, tivemos a sorte de encontrar humanos com almas de flor!

– Olha, minha irmãzinha... totalmente sensível!

– Pois é, rabugentas também amam! :)


* A foto que ilustra esta crônica é de minha autoria... um singelo registro em homenagem à Primavera! Salve a estação das flores!

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Sol particular

O sobradinho resiste até hoje... amarelo como o Sol. Poderoso, entre edifícios modernos e o trânsito caótico. Seu Nicolas, o dono, adoeceu ainda quando os sobrados vizinhos existiam. Ficou no hospital cerca de um mês e quando voltou foi surpreendido com a rapidez com que o chamado progresso lima a história e as marcas de seus cidadãos na cidade. Por que fazem isso? Só constroem prédios altos, retos, sem vida, sem cor, sem amor, sem consideração pelo passado. 

Nicolas também tinha sido procurado pela incorporadora, mas não cedeu às suas investidas. Em seguida, foi internado e, obviamente, concentrou-se na recuperação da saúde. Não ficou sabendo que os outros proprietários haviam sucumbido.

E agora, o que fazer? Será que o Seu Juca da padaria da esquina e seu Arlindo da farmácia ainda estão por aí? E a praça com suas árvores frondosas, os bancos e as mesinhas para as tardes de dominó?

Ao descer do táxi, diante de tanta mudança em sua rua, Seu Nicolas andou pela calçada, observando a correria por trás da placa "homens trabalhando" em meio a caçambas de entulhos. Olha, aquela parece a janela azul do sobrado do Alípio. Sem conter a emoção, Seu Nicolas se pergunta onde estará seu amigo.

Quando chega à praça, ufa... lá estão as árvores e as mesinhas do dominó, mas está deserta. Decidido, volta para a frente de seu querido sobrado e abre a porta. Menino, seu cachorro, balança o rabo, está amoado no tapete em frente à televisão. Clotilde, bordando na poltrona de leitura, levanta os olhos devagar e abre um sorriso.

– Nicolas! Por que não me ligou pra irmos te buscar?

– Não se preocupe, Clotilde! Estou bem, esse período foi só uma forma que arrumei de descansar e comer comida sem gosto, no caso, pra emagrecer... rsrsrs... Posso te dar um abraço?

– Vem, logo, meu velho! Mas antes faz um cafuné no nosso pequeno...

Menino balança o rabo e se aproxima devagar, como se tivesse medo de machucar o dono.

– Ora, vem cá, pequeno, eu não quebro, pode pular nas minhas pernas!

O cachorrinho lambe as mãos de Nicolas, que abraça Clotilde e assim os três permanecem, por um momento, unidos... como sempre!

– Agora, me conte! Por que não ligou?

– Queria fazer uma surpresa... acabei surpreendido... Onde foram parar as casas dos nossos vizinhos?

– Ah, meu velho! Agora só na nossa memória, mas tudo bem, o importante é que estamos aqui... firmes e fortes... como o Sol! Engraçado, você sempre chamou nosso sobradinho de Sol pra me irritar por causa do amarelo lindo e discreto que escolhi... rsrsrs... Agora, gosto da ideia, nosso Sol vai continuar brilhando!

– Mesmo entre esses edifícios sem charme algum!

– Isso mesmo! Vamos pra cozinha? Você chegou bem na hora do café...

– Cronometrei a alta do hospital pra chegar nessa hora, tô com saudade do cheiro do seu café!

– Ah! Espertinho! Vem, Menino! Veja se ele tem água fresca, meu velho?

– Claro, é pra já! Não se assuste com o barulho da britadeira ao lado, Menino, estamos aqui com você!

– Sempre!

– Firmes e fortes...

– ... como nosso Sol particular! :)


* A ilustração é da querida sobrinha/afilhada/parceira @alikailustra

sábado, 27 de setembro de 2025

Um cachorrinho aventureiro

Mais uma vez, uma obra do autor de "O Hobbit" me encanta! Em "Roverando", J. R. R. Tolkien nos apresenta a história de um cachorrinho que, ao invés de ficar brincando satisfeito com sua bola amarela no jardim, resolve rasgar as calças de um mago quando o dito cujo rouba sua bola! Muito irritado, o mago transforma Rover em um cãozinho de brinquedo.

Desesperado e perdido em meio às plantas do jardim, Rover passa, então, a procurar o tal mago para voltar a ser um cachorro de verdade! A partir daí, ele vive diversas aventuras na Lua, no fundo do mar! Ah... mas o que acontece com ele e por que o título do livro é Roverando, deixo para vocês descobrirem... recomendo a experiência!

Ainda que faça parte de suas obras para crianças e esta escrita para consolar seu filho Michael que havia perdido seu cãozinho de brinquedo, o enredo prende a atenção. Os personagens e cenários são muito bem construídos, nos proporcionando uma história tão envolvente que parece que embarcamos junto a Rover em seu voo com a gaivota Mia, rumo à Lua!

É, certamente, um livro com a marca da qualidade narrativa de Tolkien, que sabe como ninguém criar mundos e sagas com maestria! Pra quem quer uma leitura divertida, leve e emocionante, é uma ótima sugestão! Aplausos à genialidade do pai da literatura fantástica moderna! :)

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Romance e contos queirosianos

Em "A ilustre casa de Ramires", publicação póstuma de Eça de Queirós, o autor português faz uma análise profunda e irônica da nobreza lusitana, traçando vários fatos históricos e, ao mesmo tempo, nos brindando com a criação de um protagonista bem construído, cheio de nuances, herdeiro de uma das mais antigas linhagens nobres portuguesas: o escritor Gonçalo Mendes Ramires, o Fidalgo da Torre!

A narrativa se passa no final do século XIX, quando Gonçalo começa a escrever uma novela histórica sobre sua família. Aí está a genialidade de Eça de Queirós, que usando a metaliteratura, faz vários paralelos entre a história de Portugual em que vive o autor e a contada pelo fidalgo, além de comparar o protagonista com o próprio País, pois ambos enfrentam desafios e contradições, provocando, em nós leitores, altas reflexões!

Mesmo inseguro e cheio de angústias, o Fidalgo da Torre é generoso, gentil e... amorável... ah... adorei esta palavra! Vou até me permitir usá-la em meus textos... certamente, vai enriquecê-los e seria uma singela homenagem ao Eça!

Voltando à obra, adoro a capacidade do escritor, que além de inspirador, nos oferece uma aula da arte de escrever! Para quem, como eu, adora se aventurar criando histórias, alguns trechos são encantadores, como a frase: "A pena agora, como a espada outrora, edifica reinos..."; e o parágrafo: "E nessa manhã, depois de repicar a sineta no corredor, duas vezes o Bento empurrara a porta da livraria, avisando o Sr. Doutor 'que o almocinho, assim à espera, certamente se estragava'. Mas de sobre a tira de almaço Gonçalo rosnava 'já vou!' - sem desapegar a pena, que corria como quilha leve em água mansa, na pressa amorosa de terminar, antes do almoço, o seu Capítulo I".

Em "Contos", o escritor que deu início ao Realismo na literatura portuguesa, mostra seu domínio também da narrativa curta. A antologia, composta por oito contos, nos apresenta uma galeria de personagens em diversas situações cotidianas. Meu destaque vai para o conto que abre a coletânea "Civilização", que, anos depois, deu origem ao admirável romance "A cidade e as serras", obra sobre a qual abordei em postagem de julho deste ano!

Em resumo, dois exemplos da habilidade do escritor português, um dos meus preferidos ao lado do grande Saramago! Para quem quiser embarcar em histórias bem construídas e personagens "amoráveis", recomendo muito! Viva Eça de Queirós! Salve a Literatura! :)

sábado, 20 de setembro de 2025

À Natureza, com carinho!

– Amanhã é Dia da Árvore!

– Vamos celebrar! Elas são imprescindíveis, adoráveis e nos oferecem sombra, frutos, ar puro, folhas e flores lindas, de cores e tons variados, seus galhos são como abraços... os troncos dão a sensação de proteção...

– Que poético, amor! Mas antes de celebrarmos, preciso externar minha indignação!

Sou todo ouvidos!

– É incrível como são tão maltratadas, especialmente, nas metrópoles. Além de sofrerem com podas malfeitas, suas folhas, quando caem, são consideradas sujeira. Na verdade, as folhas funcionam como adubo para a terra e alimento para insetos e pequenos animais, é lamentável a falta de sensibilidade de quem considera os tapetes de folhas e flores como algo descartável!

Uma coisa que me deixa irritado também são os parques, que deveriam ser áreas realmente preservadas, mas que costumam ter espécies intrusas, plantadas inadvertidamente, sem que se leve em conta o equilíbrio do meio ambiente, o que acaba, inclusive, por afastar a fauna local. 

– Pois é, sempre achei que esses parques são para as árvores como os zoológicos são para os animais: redutos criados pelo ser humano, que nem de longe proporcionam a sensação que ambos têm na Natureza!

Concordo, amor! Preservar as árvores, as florestas, é preservar a vida no Planeta Terra. Está mais do que na hora de se entender que não somos superiores, somos parte da Natureza. Nossa relação com o meio ambiente deve ser de respeito e troca! 

– Agradeço aos céus por ter ao meu lado alguém que me entende e partilha das minhas opiniões a respeito da importância de preservarmos as árvores e os ecossistemas, inclusive, para nossa própria sobrevivência! Valeu, meu ecologista charmoso!

– A recíproca é verdadeira! Adoro ter ao meu lado a ativista mais fascinante da Terra!

– Uau! Obrigada! Agora, podemos pensar em como vamos celebrar a data?

– Seria prudente deixarmos pra pensar nas comemorações amanhã... o que acha?

– Boa ideia! Então, vem cá e "balança minha roseira"!

– Opa! É pra já! Seu jardineiro está sempre a postos! :)


*A foto que ilustra essa crônica é de minha autoria, feita em um dos meus passeios no bosque, enquanto seu lobo não vem... 😉